Um breve olhar sobre a melancolia e sua complexa relação com o morrer.

A tristeza não parece ser uma causa clinicamente válida para ser registrada no atestado de óbito, entretanto, são cada vez mais conclusivos os dados que associam a tristeza extrema diagnosticada como depressão às doenças clínicas com maior destaque para as doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, oncológicas e outras síndromes dolorosas crônicas.

25 JUL 2018 · Leitura: min.
Um breve olhar sobre a melancolia e sua complexa relação com o morrer.

Olhando sob a ótica psicológica é possível afirmar que nossas emoções sendo elas agradáveis ou desagradáveis são capazes de nos influenciar para a atividade atuando assim como poderosos motivadores da conduta humana, tendo ainda grande interferência na qualidade de vida psicológica, mobilizando o sistema nervoso autônomo e com direta relação com outros órgãos e sistemas. Portanto, é possível afirmar que emoções positivas potencializam a saúde em todas as suas esferas, da mesma forma as emoções negativas tendem a comprometê-la, ou seja, as emoções de forma geral influem tanto na saúde como na doença física e psíquica no âmbito psico-neurofisiológico. Tristeza, dor, melancolia, angústia, muitas são as nomenclaturas para designar a profunda manifestação do sofrimento e padecimento humano ao longo da história. Seus registros são encontrados desde os mais remotos escritos da antiguidade, e muitas são as formas de entender e explicar esta moléstia do existir seja num viés científico ou em representações no campo da poesia, das artes ou da religião. Segundo o senso comum a tristeza pode ser tão devastadora ao ponto de levar sua vítima à morte, embora esta não seja uma causa clinicamente válida para constar numa certidão de óbito, são cada vez mais conclusivos os dados que correlacionam a tristeza extrema com patologias do coração em geral, doenças degenerativas, câncer, diabetes, etc. Conforme será explanado, verifica-se a estreita relação entre esses diferentes fenômenos, ou seja, de que doenças crônicas podem levar a depressão da mesma forma que a depressão pode levar a doenças crônicas, e de que há relação entre a depressão e o desejo de morrer. Este artigo caracterizado por uma pesquisa de natureza qualitativa e exploratória, através de embasamento teórico, intenciona abordar de forma mais específica a tristeza e sua representação psicopatológica, "a depressão" como uma emoção que produz uma experiência emocional desagradável e que muitas vezes vem imbuída de sentimentos de perda, desesperança, estresse, ansiedade e raiva, fatores que potencializam ainda mais os malefícios sobre o corpo e mente e são causadores de múltiplos transtornos e doenças crônicas. No entanto, o intuito aqui não é discutir as causas, ou tratamentos da tristeza, mas sim investigar a amplitude do prejuízo dessa emoção no sujeito como um todo, no âmbito físico e psíquico, compreendendo quão danoso poderá ser este sentimento e se poderá chegar às últimas consequências, ou seja, de forma a comprometer o bom funcionamento de órgãos vitais e finalmente conduzir ao óbito. Em outras palavras: "uma pessoa pode morrer fisicamente de uma tristeza profunda ou de um forte desgosto? E se morrer, quais os fatores físicos que a levam a morte?".

Após busca de dados para a elaboração deste artigo, até o momento verificou-se que grande parte dos trabalhos acadêmicos trata dos efeitos indiretos da tristeza, ou depressão sobre o sujeito que sofre doenças clínicas e também, que o suicídio é o único fenômeno diretamente ligado à mortalidade por depressão. Portanto considerou-se de relevância este tema, pois poderá trazer contribuições no que diz respeito ao tratamento clínico e psíquico do sujeito que sofre, possibilitando sugestões de modificações no manejo e tratamento que não mais deveria ser diagnosticado e tratado unicamente por uma única linha de tratamento, mas deveria ser visto como um sujeito inteiro com corpo e alma, estabelecendo-se assim com mais critérios a relação entre depressão e comorbidades. Também a pesquisa poderá proporcionar reflexões e discussões a cerca desta questão, o que poderá possibilitar futuras pesquisas de relevância social do problema da morte relacionada à depressão, ampliando respostas ou formulações teóricas a respeito e aumentando o estágio de desenvolvimento deste tema. 2 MELANCOLIA E A PULSÃO DE MORTE A existência humana é permeada e marcada pela fragilidade e vulnerabilidade evidenciadas a todo o momento por situações de extremo sofrimento muitas vezes impactantes, inesperadas e difíceis de serem compreendidas e aceitas, incluímos aí as adversidades mais radicais e desafiadoras para a existência e compreensão humanas, que são aquelas relacionadas à morte, seja porque vemos nos aproximar a nossa própria morte, seja porque perdemos pessoas queridas. É quando vivemos o luto. Seria impossível falamos sobre melancolia relacionada à morte sem mencionarmos os estudos psicanalíticos de Freud sobre o luto, melancolia e a pulsão de morte, onde Freud compara a experiência do luto ao que em sua época era chamada de 'melancolia' e hoje é identificado como 'depressão. Freud aponta tal associação, e caracteriza a melancolia como uma profunda e dolorosa depressão provinda da perda de capacidade de amar, um vazio temporário de seus afetos, penoso desânimo, a interrupção do interesse pelo mundo externo e das atividades, com auto-recriminação excessiva, também um completo sentimento de desvalorização do "eu" manifestada pela autoacusação e auto injuria, que leva o sujeito a autopunição. Freud pontua que na melancolia "a sombra do objeto caiu sobre o ego". (FREUD, 1917[1915], p. 254). É importante esclarecer que tal perda pode ser representada por uma pessoa amada, um objeto, um ideal tanto em nível real como simbólico.

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Escrito por

Marlene Rosa de Souza Psicóloga

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