Elaboração do luto

Vamos falar um pouco sobre o processo de elaboração do luto, para entender como ele funciona e como podemos superá-lo para seguir em diante.

29 OUT 2019 · Leitura: min.
Elaboração do luto

"Lindas flores nascem, mas eventualmente morrem". (Buda - Saints Seiya)

Dos muitos campos de estudo que a psicologia tangência , a tanatologia , ou seja , o estudo científico da morte, está entre os assuntos que mais me fascina estudar e trabalhar em cima.

Não há nada de mórbido nisso, mas a elaboração do luto , com ou sem um auxílio profissional, na minha opinião é fascinante. Visto que quando falamos de Luto, é por que há algo vivido em dualidade. É algo natural que todos nós iremos passar, tanto pelo nosso tempo finito, quanto elaborando o luto, por alguém que sentimos afeto.

E é neste ponto que se inicia o meu fascínio, pois enquanto em um transtorno, não há uma certeza que que iremos vivenciar. Um processo de luto é algo (em maior ou menor escala) esperado em algum momento de nossas vidas.

Há um aspecto cultural no luto, um aspectos religiosos que se desdobram no que você aprende a sentir em tais situações. Sim, há um aspecto particular/emocional no luto , mas também há uma cultura que é aprendida. Rituais que se dão para a pessoa que faleceu, como também para a família. Vale ressaltar que o luto só existe onde há o amor e ele nos ajuda a preencher o vazio deixado.

Modelo de Kübler-Ross e as 5 Estágios do luto - Este modelo foi elaborado pela psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross através de suas pesquisas na área da tanatologia e nos facilita compreender como se da esse processo de enlutamento, é que há uma progressão no que se sente dividido em estágios.

Negação: "Isto não pode estar a acontecer."

É a fase mais dolorida do luto, e funciona como uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acabe negando o problema. É comum que as pessoas também evitem falar sobre o assunto, há um isolamento e uma tentativa de fugir de sua própria realidade, racionalizando o acontecimento e tentando minimizar a situação.

A negação pode ser explícita ou implícita, ou seja, a negação pode ter uma atitude verbal e visível da impossibilidade de que a morte aconteceu ou velada e mesmo que a pessoa expresse a aceitação de que seu ente querido morreu, na prática, nos comportamos como se isso fosse uma mentira.

A negação não pode ser sustentada para sempre, pois entra em dissonância com a realidade, por isso que acabamos abandonando esse estágio.

Raiva: "Por que eu? Não é justo."

Nessa fase o indivíduo se revolta com o mundo, há um descontrole emocional e pessoa se sente injustiçada, não se conformando por estar passando por isso. É um período de muita frustração onde procuramos encontrar algum culpado para direcionar a dor, pois se trata de um acontecimento onde não há uma segunda chance de ser consertado. É preciso muita compreensão para lidar com quem esteja passando por esse estágio, dando o espaço que ela necessite.

Negociação/Barganha: "serei uma pessoa melhor se ele voltar"

Quando a pessoa começa a perceber a sentir que a raiva de nada adianta, surge uma nova estratégia. Essa é fase que o indivíduo cria a fantasia que pode negociar consigo mesmo, os famosos "se", além das promessas que será uma pessoa melhor se sair daquela situação, além de fazer promessas dentro de sua religiosidade. Além disso pode estabelecer pactos, sacrifícios e acordos para que tudo volte ao normal.

Depressão: "Estou tão triste. Porque devo me preocupar com qualquer coisa?"

Já nessa fase a pessoa se isola em retiro para seu mundo interno e se sente impotente diante da situação. É nesta fase que todas as fantasias são deixadas de lado, não há o que ser negado, não há espaço para a raiva e tão pouco faz sentido negociar. O que resta é apenas a tristeza, é o se dar conta, e ter contato com o único sentimento real que faz sentido neste momento, afinal temos todo o direito de estar tristes pelo ente querido.

Aceitação: "Vai ficar tudo bem."

É o estágio onde começamos a aceitar a morte do ente querido, a tristeza encontra o seu equilíbrio e conseguimos enxergar a vida como ela realmente é, ficando pronto para encarar morte. Aos poucos o desespero é substituído pela saudade, vamos voltando a sentir alegria e prazer, e a partir dessa situação as coisas vão voltando ao normal.

Muitas pessoas conseguem elaborar seu luto sozinhas, mas outras não, por isso todo apoio familiar e de amigos será bem vindo, só lembre-se de respeitar o espaço e o tempo de cada um. Outras pessoas podem precisar de ajuda externa como roda de conversas e grupo de apoio de enlutados, além do auxílio do psicólogo.

E não há demérito algum precisar de ajuda, todos nós precisaremos de apoio em algum período de nossas vidas, afinal somos seres sociáveis. Então se estiver precisando conversar com alguém pode me procurar para conversarmos.

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Escrito por

Tiago Malta

Conta com mais de 10 anos de formação e com especialização em gestalt-terapia. Além da experiência na prática clínica, também tem bastante bagagem na psicologia organizacional. Realiza atendimento psicológico individual para crianças, adolescentes e adultos, terapia em grupo e serviços de homecare.

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Comentários 2
  • JANE KARLA DOS REIS RIBEIRO

    Tem algum curso com o tema?

  • Conrado Silveira Alves

    Olá, Meu nome é Conrado e sou Psicólogo. Na 3a fase de negociação, não é exatamente estes esforços de "toma lá da cá" ou se eu "fizer algo positivo, tudo ficará melhor", que pode me levar a mudar atitudes negativas em relação a dor? Tenho uma cliente que está a 1 ano e meio, e não esquece, coloca músicas que lembram o ex, falecido. Porém, já está em novo relacionamento e o cara até já sabe da dor dela. Me parece que ela está buscando algumas ferramentas para ficar melhor, porém, está até sentindo com mais dor agora (momento terapêutico e de enfrentamento). Continuo, nesta direção, ou teria outra abordagem?

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