Dezembro Vermelho: Da Sexualidade À Empatia

Dividirei este texto em duas partes. A questionadora e a informativa. Espero que gostem e que possa possibilitar boas reflexões. Parte questionadora:

29 NOV 2022 · Leitura: min.
Dezembro Vermelho: Da Sexualidade À Empatia

Parte questionadora:

Em 1988, o Ministério da Saúde seguindo orientações da ONU, criou o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado anualmente no dia 1º de dezembro. O dezembro vermelho consiste em uma mobilização na luta contra o HIV, Aids e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

Muita informação se tem disponível, mas à sociedade e à cultura ainda falta algo que garanta segurança e acolhimento aos portadores de HIV e ISTs. Arrisco, nesse espaço que me foi cedido pelo MundoPsicologos, a pensar que falta empatia. Não aquela piedosa, essa temos muito. Mas uma empatia implicada, de se pôr de fato no lugar do outro para nos possibilitar refletir sobre o que contribui para que uma pessoa portadora do vírus HIV não se sinta autorizada a ser pai ou mãe, ou que não consiga se relacionar porque precisa ponderar qual o melhor momento para falar sobre sua sorologia - se é que deveria falar. O que leva uma pessoa que contrai uma IST a se sentir suja e errada?

Enquanto o contágio de ISTs estiver atrelado à culpa, a crenças religiosas, a algo que só poderia acontecer com o outro, existirá uma barreira à conexão com as dificuldades e sofrimentos das pessoas. E essa resistência até poderia ser natural, e humana, porque resulta mais confortável pensar que só o vizinho é quem poderia pegar: porque é pecador, porque traiu e mereceu, porque não se cuidou como deveria, ou, ainda, porque tem determinada orientação sexual. Essa convicção, de todo equivocada, nos remete a um lugar idealizado de imaculados e protegidos (e quem sabe nos deixe temporariamente em paz com o nosso superego, já que não cometemos os mesmos "erros" do vizinho). Mas quando o jogo vira, e somos nós que porventura passamos para "o outro lado", o que se passa? Passamos a fazer parte de um mundo que jamais imaginamos para nós? Sim, possivelmente.

Nesse ponto fortaleço a minha ideia de que o que nos falta não é mais informação, e sim o desejo de entender verdadeiramente, de se colocar no lugar do outro para mudar uma situação de estigma e exclusão. Que despertemos de fato para uma empatia ativa e engajada. O que proponho neste novo 1º de dezembro é nos questionarmos como nos relacionamos com pessoas que carregam consigo HIV ou ISTs. Reproduzimos preconceitos e estigmas ou buscamos criar novas narrativas acerca do tema?

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Parte informativa:

Autoteste, Prep e Tratamento Adequado:

"As organizações estão promovendo a PrEP na campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids deste ano.

Desde 2015, a OPAS e o UNAIDS recomendam a introdução da PrEP, que pode ser tomada por quem não vive com o HIV, mas tem alto risco de contraí-lo. Essa população representa 92% dos novos casos de HIV na América Latina e 68% no Caribe. Apenas 10 países da região têm políticas públicas para o fornecimento da PrEP, dois países a mais do que em 2019. Sem aumentar a PrEP, é improvável que a região alcance redução suficiente em novas infecções para acabar com a aids até 2030.

Garantir o tratamento precoce com os medicamentos mais eficazes também é fundamental para reduzir a transmissão do HIV e salvar vidas. No entanto, muitos países estão atrasados na adoção do antirretroviral dolutegravir (DTG) como parte do tratamento de preferência recomendado pela OMS. Na maioria dos países da região, o número de pessoas em regime de tratamento com este antirretroviral - que é mais eficaz, mais fácil de tomar e tem menos efeitos colaterais do que outros - não ultrapassa 50%. Pessoas que vivem com HIV e têm carga viral indetectável não podem transmitir o vírus". (OPAS, 2021)

Referências:

FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1977. FREUD, S. (1913[1912-1913]). Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 2006

OPAS. Por fin a las desigualdades. Por fin al Sida. Por fin a las pandemias. OPAS, 2021. 

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Escrito por

Eduardo Marchioro

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