Bulimia, anorexia e hiperfagia: a relação entre a mãe e os transtornos alimentares

Relações debilitadas entre mãe e filha podem desencadear transtornos alimentares. Saiba mais neste artigo.

28 MAI 2019 · Leitura: min.
Bulimia, anorexia e hiperfagia: a relação entre a mãe e os transtornos alimentares

Quem tem transtorno alimentar tenta preencher um vazio produzido pela solidão, pela falta de autoconfiança ou pelo perfeccionismo. E se a verdadeira causa desses transtornos estiver relacionada ao passado? Estamos falando da relação com a mãe durante a infância.

O que são os transtornos alimentares?

De maneira resumida, os transtornos alimentares são:

  • anorexia: é o desejo patológico de não engordar. Existem dois tipos de anorexia: a anorexia nervosa restritiva, quando a pessoa rejeita a comida, e a anorexia nervosa purgativa, quando, depois de comer, a pessoa usa laxantes ou induz ao vômito.
  • bulimia: caracteriza-se por impulsos absolutamente incontroláveis em consumir uma grande quantidade de comida e rapidamente. Quando a pessoa não usa laxantes ou não induz ao vômito depois de comer, o transtorno é chamado de hiperfagia.

Existem outros tipos de desordem alimentar, como, por exemplo, a alotriofagia (consumir o que não é alimento), o transtorno de ruminação (regurgitar o alimento depois de ser ingerido e cuspi-lo ou engoli-lo) e a ortorexia (obsessão por comer somente alimentos saudáveis).

Algumas características são comuns em quem tem transtorno alimentar: desejo obsessivo por mudar o corpo, não aceitação da imagem, baixa autoestima e um grande vazio emocional.

A crise de bulimia se divide em três fases:

  • antes da crise: a necessidade obsessiva de comer vai aumentando, até que a pessoa ingere o alimento. É impossível não comer. Seria a mesma situação enfrentada por quem tem um vício e tem à disposição as substâncias viciantes. Mesmo sabendo que o seu consumo é prejudicial, é muito difícil rejeitá-las.
  • crise: com ingestão rápida de grandes quantidades de calorias. O objetivo não é desfrutar os alimentos, mas, sim, fartar-se. Nessa fase, a ansiedade diminui.
  • pós-crise: é acompanhada da culpa, decepção, baixa autoestima, vergonha e das promessas, em vão, de não voltar a passar pela crise.

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“Não é necessário falar sobre a minha mãe”. “Então, vamos falar exatamente sobre isso”.

Muitas pessoas com transtornos alimentares formulam esta frase na consulta com um psicólogo: “não é necessário falar sobre a minha mãe, está tudo bem nesse sentido”.

Dificilmente, as pessoas são conscientes de que algum transtorno possa ser proveniente dessa relação mãe-filho (em geral, mãe-filha) e, se têm suspeitas, negam por amor à mãe e por lealdade.

Para esclarecer, não se trata de condenar as mães. Elas fizeram o melhor que puderam com os meios que tinham e, na maioria das vezes, refletiram sua própria educação nos possíveis casos psicológicos durante a infância dos filhos. O objetivo não é culpar, mas, sim, compreender como as coisas acontecem e, principalmente, como é a percepção da criança. Porque nunca é demais lembrar: tudo é uma questão de percepção. Existe uma grande brecha entre a forma como as coisas ditas, feitas e entendidas.

Diga-me como comes e te direi como foi a sua relação com a sua mãe

Pessoas com transtornos alimentares tiveram essa relação abalada. Seja de forma real ou imaginada, o fato é que houve uma ruptura no relacionamento com a mãe.

Quem tem bulimia, vê em sua mãe alguém capaz de devorar seu filho, de invadir seu espaço vital e sua resposta para essa mãe é engoli-la. A comida se converte em uma metáfora da mãe.

Há quem diga que isso não é verdade, que os psicólogos deveriam tratar a si mesmos por considerar tal coisa. Mas é de se pensar: qual é o primeiro vínculo que une uma mãe a uma criança? Por que é criada essa relação única que os vinculará para sempre, numa linguagem que só a mãe é capaz de decifrar sem que o bebê ainda saiba falar? É a comida, precisamente.

Inclusive, antes de nascer, o feto bem protegido no útero da mãe é alimentado por ela em um intercâmbio direto. Ao nascer, o intercâmbio continua, através da amamentação. Quem tem bulimia, portanto, associa a alimentação à sua mãe. Há o desejo de mantê-la em seinterior por amor, por não querer se afastar dela (no caso, a hiperfagia) ou existe a necessidade de rejeitá-la, por exemplo, ao vomitar (no caso, a bulimia purgativa).

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Pessoas com anorexia não escapam dessa relação materna debilitada. Novamente, o cordão umbilical não foi cortado completamente. Essas mulheres jovens rejeitam seu corpo de mulheres sexuadas porque o relacionam à imagem da mãe. Já não suportam a dependência que sentem, que as sufoca e que as impede de ser elas mesmas. E, para se afastar disso, se negam a comer porque, como comentado, a que alimenta, é a mãe. Ao rejeitar o que ela dá, se está rejeitando a mãe. Culpar o próprio corpo é também culpar o corpo da mãe.

Também há casos de mulheres que tiveram mães muito rígidas, severas ou exigentes, dando a impressão, correta ou incorreta, de que era necessário alcançar a perfeição para satisfazê-las. E a perfeição não existe, trata-se de uma busca constante.

A mãe é a responsável?

Obviamente, seria injusto e simplista acusar as mães de todos os transtornos alimentares. Eles podem ter outras causas:

  • abuso sexual
  • desequilíbrio nos neurotransmissores
  • fatores genéticos

As consequências dos transtornos alimentares podem ser graves, inclusive, fatais. Mas é importante lembrar que é possível tratá-los com ajuda profissional. Independente das causas, os transtornos alimentares podem ser evitados e superados com tratamento adequado, relacionando psicoterapia à administração de medicamentos. O objetivo é que a relação com a comida volte a ser prazerosa, e não uma fonte de ansiedade e culpa.

Fotos: MundoPsicologos.com

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