Por que tenho ciúmes?

É muito comum receber no consultório pessoas que se dizem ciumentas e que percebem que esta característica atrapalha seus relacionamentos amorosos. Por isso, é importante refletir sobre esse

29 JAN 2017 · Leitura: min.
Por que tenho ciúmes?

O QUE É CIÚME?

O ciúme é um conjunto de emoções, cognições e comportamentos destinados a proteger um relacionamento que é importante para nós, frente à ameaça de um rival, seja ele real ou não. O sentimento surge diante da possibilidade de sermos abandonados, traídos, rejeitados ou de não sermos mais amados e importantes para a pessoa. O indivíduo percebe que o amor e a atenção do parceiro estão sendo encaminhados a uma terceira parte, quando julga que os mesmos deveriam estar sendo oferecidos a ele. O medo de perder o parceiro pode dar origem a ideias persecutórias, podendo levar à destruição do relacionamento.

SENTIR CIÚME NEM SEMPRE É RUIM

É importante destacar que o ciúme nem sempre é algo negativo. Ele é também um fenômeno natural, decorrente da evolução humana em sociedade. Quando o ser humano passou a viver em grupo para sobreviver e preservar a espécie, tornou-se um ser social. Diante disso, todos os relacionamentos foram valorizados. Segundo o psicólogo David DeSteno (2006), do ponto de vista evolutivo, o ciúme surge, e evolui ao longo do tempo, como um dispositivo emocional destinado a proteger a estabilidade de relacionamentos amorosos considerados importantes. Deste modo, para algumas pessoas, toda relação tem que ter um pouco de ciúme, pois seria um sinal de amor, zelo pelo relacionamento, fazendo a pessoa sentir-se amada e protegida. Sua ausência, então, seria sinal de falta de amor, de falta de interesse.

REFLEXO DO INCONSCIENTE

O ciúme pode ser uma manifestação atrapalhada de vários elementos reprimidos no inconsciente, desde uma baixa autoestima até mesmo o sentimento de culpa por ter feito algo errado para o outro. Pode ser também que o ciumento duvide de si mesmo, assim como atribua ao outro uma série de desconfianças. Indivíduos com sérias deficiências em sua estruturação de personalidade terão menos habilidades para lidar com relacionamentos e com todas as vertentes "perigosas" que existem, como desacertos, rejeições e desavenças.

CIÚME ORGÂNICO OU TÓXICO

De acordo com alguns autores, o ciúme também pode estar relacionado à condição orgânica ou tóxica, como nos casos de alcoolismo (ciúme delirante), ou associado ao uso de outras substâncias psicoativas; pode ainda estar associado a psicoses funcionais e aos transtornos ansiosos (particularmente ao transtorno obsessivo-compulsivo) e do humor (ciúme obsessivo).

CIÚME NORMAL X CIÚME PATOLÓGICO

Tendo em vista esses fatores, é importante distinguir o ciúme normal do ciúme patológico. O normal decorre de uma ameaça real de perda, provocando algum sofrimento e desencadeando ações de proteção ao relacionamento. Já o ciúme patológico, se baseia em evidências fictícias, suspeita paranoide de estar sendo traído, causando um sofrimento mais intenso do que na reação normal de ciúme e comportamentos de investigação.

Às vezes, o ciúme surge depois de uma única traição. A partir daí, a pessoa ciumenta passa a acreditar que o parceiro é um traidor em potencial. Com essa crença, o ciumento começa a querer controlar o outro, ficando em constante vigília e gerando, assim, vários conflitos.

A manifestação patológica do ciúme faz com que uma pessoa se comporte de forma ambivalente em relação ao parceiro, ora amando, ora desconfiando. Essa labilidade afetiva é que costuma deteriorar o relacionamento, em razão das frequentes acusações de traição, suspeitas, tentativas de controle do parceiro e comportamentos agressivos, que mais afastam o casal do que atraem.

No ciúme patológico, a individualidade, as diferenças e a liberdade são ameaçadas, na medida em que se tenta fazer de si uma sombra do outro. O ciumento busca incansavelmente saber onde o outro está, com quem e como, e tenta conhecer tudo sobre seu passado, investigar o seu presente e controlar o seu futuro. Desta forma, constrói-se uma relação em que não se é mais ninguém sozinho, tornando-se dependente e extremamente ligado ao outro. O cimento experimenta várias emoções, tais como ansiedade, depressão, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, perplexidade, culpa, aumento do desejo sexual e desejo de retaliação.

GRAVES CONSEQUÊNCIAS

O excesso de ciúmes pode levar ao término da relação, à concretização da infidelidade do parceiro e, nos casos mais graves, à violência e até ao homicídio e suicídio.

COMO LIDAR COM O CIÚME

Tendo em vista todo esse sofrimento e essas consequências, que podem ser muito graves, seguem abaixo algumas recomendações para tentar lidar com o ciúme, seja ele normal ou patológico:

Aprenda com o passado: Os erros servem para não serem repetidos. Por isso, se o fato de ser ciumento já atrapalhou você no passado, está na hora de mudar.

Evite fazer filmes: Como foi dito anteriormente, quem é ciumento tem a tendência de deturpar a realidade, ou seja, um pequeno gesto ou palavra é o suficiente para despertar os ciúmes mais loucos, o que, por sua vez, desencadeia um verdadeiro "filme" na sua cabeça. É importante não deixar que a imaginação fomente os ciúmes de uma coisa que pode nem ser real.

Não exagere: Rodado o "filme", os mais ciumentos têm a tendência de passar para a ação - discussões, acusações, vitimizações, agressões verbais e até físicas podem fazer parte de um ataque de ciúmes. É importante pensar antes de reagir a qualquer provocação.

Segunda opinião: Procure alguém para desabafar as suas inseguranças e preocupações. É sempre bom ter a opinião de uma pessoa neutra.

Respeito próprio: É necessário respeitar a si mesmo e fazer-se respeitar. Alguém que esteja extremamente seguro de si não se sentirá ameaçado. Faça o que tiver de fazer para sentir-se sempre bem na sua pele. Valorize-se! Cuide de sua autoestima.

Conversar: Fale abertamente sobre aquilo que o incomodou e de como se sentiu. É para conversar, não confrontar ou gritar! O diálogo é capaz de salvar o relacionamento.

Dê atenção à relação: Quem está obcecado em seguir cada passo do parceiro dificilmente terá tempo ou paciência para se dedicar à relação em si. Se você se dedicar tanto ao fortalecimento da relação como se dedica aos ciúmes, essa palavra deixará de fazer parte do seu vocabulário.

Auto avaliação: Além desses passos, é importante a pessoa ciumenta fazer alguns questionamentos a si mesma, por exemplo, os que vão abaixo:

oA minha desconfiança parece minimamente provável?

oDo que ou de quem desconfio?

oQuanto o ciúme está atrapalhando minha rotina?

oQual é o tamanho do meu sofrimento?

oQuanto o ciúme está atrapalhando minha relação?

oTenho motivos para desconfiar?

Se você observar que não está conseguindo controlar seu ciúme sozinho e que, por conta disso, está sofrendo e fazendo o outro sofrer também, procure ajuda de um psicoterapeuta. Ele poderá ajudá-lo a se conhecer melhor, a entender de onde vem tanta insegurança e o desejo de controlar o outro, entre outras questões. A partir disso, talvez você consiga colocar em prática as ações citadas anteriormente, melhorando assim seu relacionamento e diminuindo o sofrimento. Boa sorte!


PUBLICIDADE

Escrito por

Consultório de Psicologia Paula Cintra

Consulte nossos melhores especialistas em ciúmes
Deixe seu comentário

PUBLICIDADE

Comentários 1
  • Marlene

    Tenho ciúmes da ex do meu esposo . Brigas muito quase nos separamos pois ele foi levar pensão d a filha . Yomou cerveja num bar próximo a casa dela e ela a ex se sentou com ele no bar. Depois de meses ele saiu p tomar cerveja com amigos e eu fiquei desconfiando dele. Ele disse q não foi mais visitar a filha naquele bairro. Mas fico com ciúmes desde então.

últimos artigos sobre ciúmes

PUBLICIDADE