O que é um Adultescente?

Não ser mais um adolescente, porém ainda não se sentir pertencente o suficiente no mundo dos adultos nunca esteve tão comum. Afinal, o que é um adultescente?

21 OUT 2022 · Leitura: min.
O que é um Adultescente?

Não ser mais um adolescente, porém ainda não se sentir pertencente o suficiente no mundo dos adultos nunca esteve tão comum. Afinal, o que é um adultescente?

Por vezes conhecida como Síndrome de Peter Pan, por outros teóricos como adultescência, esse neologismo é um termo usado muito recentemente para nomear um prolongamento da adolescência e dificuldade de ingressar na vida adulta. Nesse texto usarei o conceito de adultescência para pensarmos um pouco mais sobre as características desse prolongamento da adolescência na vida adulta, o porquê acontece e de maneira como podemos pensar em uma saída para uma adultez mais plena e independente.

Como pra tudo relativo ao ser humano, não existe receita de bolo para definirmos exatamente o porquê uma pessoa paralisa em determinada fase da vida e se sente incapaz de ir adiante. Porém com esse texto tentarei trabalhar com alguns pontos que podem nos ajudar a entender um pouco o porque acontece e de que maneira a psicanálise pode ajudar nesse processo de romper com as amarras do que trava esse desenvolvimento.

Por um lado a adultescência pode acontecer devido a uma educação extremamente rígida e castradora, na qual o adolescente é privado de muitas vivências naturais da sua faixa etária. A adolescência por si só é uma fase conhecida por suas descobertas, como por exemplo: do que eu gosto, o que eu quero, quem eu sou, quais minhas características mais marcantes, qual o impacto que eu tenho no mundo? Esses são alguns dos questionamentos naturais do adolescente, alguns deles pensados assim, teoricamente e outros atuados em suas vivências, das mais diversas formas, pra se construir uma identidade própria durante esse período da vida.

Mas como a vida é uma descoberta constante, indiferente da idade, não é incomum ver adultos com estes mesmos moldes, o que é positivo em diversos pontos. Porém o que no adulto já é um repensar, um revisitar questionamentos e revisar certezas, ver adultos trazendo durante a terapia pela primeira na vida tais questões. Gostaria de reforçar que é natural de tempos em tempos ressignificarmos algumas coisas, nos questionarmos. Mas no caso de um adultescente se nota o quão recente são esses questionamentos para ele. Ver o paciente ainda em desenvolvimento psíquico incompatível com sua idade é uma característica comum em adultescntes que ainda estão se descobrindo enquanto adultos que são.

Pode-se observar por um lado que a criação dessas pessoas poderia justificar em parte esse funcionamento. Uma educação muito rígida e privativa, que apresentem um bloqueio de experiências que possibilitem esse amadurecimento pode ser uma possibilidade. Vemos também por outro lado, um adultescente que pode aparecer por outro viés, a do adolescente que recebeu uma educação mais permissiva, onde recebeu tudo. Que não teve faltas inscritas em seu psiquismo. Nesse caso me refiro aqueles cujos pais não deram limites. E diferente do que muitos possam pensar, dar limites também é dar amor. Ser um provedor ilimitado para um filho é matar o ser desejante que nele habita. É a partir da falta que nasce o desejo, desejo este que nos move a galgar novos horizontes, nos desperta a curiosidade de viver novas experiências, de conquistar, enfim de prosperar, de nos tornarmos adultos de fato. Portanto, é importante que ao nos escutarmos em terapia possamos avaliar se não estamos educando nossos filhos em algum dos extremos dessa tão delicada tarefa, mas também tão valiosa, que é se pai e mãe.

E para as pessoas que se sintam um pouco adultescentes, paralisados no seu processo de amadurecimento pessoal, aconselho um tratamento psicanalítico pautado em auto-conhecimento, que aprofunde o entendimento do que elas passam, de maneira que a pessoa possa se apropriar da sua caminhada com o auxílio de seu analista. Não existe sensação mais libertadora do que pertencer a si mesmo.

Referências:

CALLIGARI, Contardo. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

ESCUDEIRO, A. P. "Adultescência" e Imagem. O emergir do "puer aeternus" nos meios de comunicação. 2012. 139 pgs. Tese de Doutorado em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo,2012.

GOMES, Patricia da Silva; LIMA, Nádia Laguárdia de. Um mundo sem adultos: efeitos subjetivos dos adolescentes à deriva. Tempo psicanal., Rio de Janeiro , v. 51, n. 1, p. 134-158, jun. 2019 . 

JERUSALINSKY, Alfredo. Até quando dura a juventude? [Cultura]. Zero Hora, p. 2, 10/08/2002.

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Escrito por

Eduardo Marchioro

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