Ficar triste também é normal

Ainda existe a compreensão, errônea, de que pessoas saudáveis estão felizes o tempo todo. Isso não é verdade

5 MAI 2018 · Leitura: min.
Ficar triste também é normal

Há algumas semanas, minha paciente relatava que estava piorando dos sintomas depressivos. Ela estava muito triste. Uma parente querida estava muito doente e ela estava preocupada. Relatou que quase chorou algumas vezes!

Conversando com ela sobre a situação, percebi que o prognóstico médico não era favorável e que a situação de saúde da parente era delicada. Ou seja, era uma situação difícil. Considerando isso, perguntei o que a paciente esperava sentir, pois alguém que ela amava estava sofrendo. A resposta foi o silêncio. Percebeu que esperava se sentir bem independente do que acontecesse, mas essa não era uma expectativa real ou sequer possível. Não havia nada de errado com o que ela estava sentindo. A situação era triste, logo ela também estava.

Essa situação me fez refletir sobre como existem fantasias a respeito de controle e saúde emocional. Considera-se sinal de saúde, apenas os sentimentos felizes. Qualquer variação é identificada como problemática. Ficar triste não é permitido ou aceitável. Em alguns casos, o rechaço dessa sensação é tão intensa que as pessoas se medicam a qualquer sinal de desconforto.

Em situações ruins, espera-se que sentimentos ditos negativos apareçam, como tristeza, preocupação, angústia. Exemplificando, se alguém com quem me importo está em sofrimento, a resposta adequada é sentir-se triste. Isso é empatia. É um sinal de saúde. O mesmo funciona para as situações agradáveis. Se alguém que gosto recebe uma promoção, algo bom, vou ficar feliz, vou sugerir sair para comemorar.

Variação emocional é sinal de saúde. Pessoas que só ficam felizes ou só ficam tristes, estão em desequilíbrio. Chamamos o primeiro quadro de mania e o segundo de depressão.

Pensando nisso, reuni aqui quatro sinais que podem ajudar a identificar se existe um problema emocional que merece atenção, relativos a variação emocional. Lembrando que são apenas algumas dicas e não excluem a avaliação de um profissional da saúde mental. Vamos lá?

• O humor da pessoa muda, ou permanece igual, independente do que acontece: o humor é uma resposta emocional que acompanha uma situação. No entanto, algumas pessoas sentem alterações significativas, mesmo sem mudanças no ambiente ou apesar disso. Nesse caso, é importante identificar o que está causando esse quadro;

• A variação de humor é intensa e acontece a todo instante: a dica aqui também se refere às situações. Se não há nenhuma mudança significativa, seja ela interna ou externa, o humor tende a ficar estável. Se isso não acontece, é um sinal de alerta;

• Não importa o que acontece, a pessoa não consegue sentir nada: é o que chama-se de embotamento. Interações envolvem emoções. Algumas são intensas e outras tão suaves que sequer percebemos. Se alguém não consegue sentir nada ou quase nada, trata-se de um problema;

• A resposta emocional é muito diferente do que se espera: Em situações difíceis, espera-se sentir sensações desagradáveis e o contrário para situações agradáveis. No entanto, algumas pessoas relatam expressões exageradas de felicidade, frente a uma tragédia ou sentir-se muito triste com uma conquista. Isso pode significar que algo está em desequilíbrio.

Compreendo que esse é um assunto difícil, complexo e que pode causar confusão. Ainda existe a compreensão, ERRÔNEA, de que pessoas saudáveis estão felizes o tempo todo. Isso não é verdade. Ser humano é estar suscetível a mudança e isso também abarca o aspecto emocional. É essencial respeitar os sentimentos e entendê-los sempre ligados a um contexto. A variação emocional é um sinal de que estamos sensíveis ao que acontece ao redor e de que existe saúde.

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Escrito por

Liediani Souza

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