A diferença entre solidão e isolamento
O artigo faz uma diferença conceitual entre isolamento e solidão. Ressalta a importância e o valor que o isolamento pode ter quando não expressa uma solidão.
Entende-se a solidão como o fenômeno que sucede a uma pessoa, quando essa sofre com a discrepância entre os níveis que ela espera e os que ela obtém de fato no contato interpessoal. Dentro dessa perspectiva do conceito, o sentimento de solidão define-se pela frustração referida por alguém que recebe menos do que espera do outro.
Nota-se que a maioria das pessoas ainda escolhe viver uma relação conjugal, talvez porque as delimitações demarcadas pelo casamento promova segurança emocional.
O paradoxo do mundo moderno em que o ser humano convive no cotidiano com tantos semelhantes, mas refere sentir-se solitário pode ser explicado pelas conseguintes ponderações da autoria de Hannah Arendt (2005).
Para Hannah Arendt, a verdadeira solidão implica que mesmo só, eu esteja com alguém: comigo mesmo. Isso significa que nesse modo de solidão sou dois em um, enquanto o isolamento não apresenta essa dicotomia, diante da qual posso perguntar-me algo e receber uma resposta.
A solidão e o pensamento, que é a atividade que lhe corresponde, podem ser interrompidos por alguém, pelo cansaço, ou pela ocupação da mente na realização de outra atividade. Em todos os casos, esses dois que o "eu" era no pensamento voltam a ser um.
Quando alguém conversa comigo devo dirigir meu pensamento para essa conversação e não estou mais explicitamente na possessão de mim mesmo.
No entanto, se uma pessoa se dirige a minha pessoa e iniciamos um diálogo que aborda as mesmas coisas que já preocupavam algum de nós enquanto ainda estava experimentando a solidão, o fenômeno assemelha-se a uma situação em que se dialoga com outro "eu", o que resulta em um estado de encontro.
Por outro lado, se o meu processo reflexivo que ocorre na solidão é interrompido, me torno um, porque esse um que agora sou está sem companhia em seu processo de pensamento. A solidão social aparece quando se está sozinho tanto por não haver outra pessoa - ou livro, música, etc.- por perto para se realizar o contato, quanto pela incapacidade de se estabelecer esse encontro com a alteridade e consigo mesmo. Nesse momento o ser é invadido pelo tédio e pelo sentimento de solidão.
Por esse motivo denota-se que para sentir-se só, não é necessário estar isolado: posso entediar-me e sentir-me solitário na multidão, mas nunca na verdadeira solidão, pois nessa estou em companhia de "mim mesmo", ou com um amigo que incarne esse "outro eu".
Referências:
ARENDT, Hannah. Responsabilité et jugement. Tradução de Jean-Luc Fidel para o francês. Paris, Payot, 2005.
Fotos: MundoPsicologos.com
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE