Psicoterapia: alguns esclarecimentos

A psicoterapia é um importante método de cuidado em saúde muitas vezes entendido como um tratamento voltado apenas para pessoas que sofrem de transtornos mentais – herança de sua relação com a medicina tradicional quando, há mais de dois séculos, a prática da psicoterapia era restrita aos psiquiatras.

De lá para cá a prática se transformou, inclusive para as pessoas que precisam de atenção psiquiátrica, e o foco do trabalho do psicoterapeuta hoje visa cuidar das pessoas que apresentam queixas ligadas ao emocional, ao social, ao físico e precisam de apoio. Muitas vezes a queixa se manifesta por um sentimento de tristeza intensa, mudança de comportamento ou um pensamento que se repete e causa aflição

Há situações em que a pessoa se encontra com dificuldades ou se sente prejudicada nas relações de trabalho, familiar, conjugal ou mesmo nos estudos e termina sofrendo ou levando outro a sofrer com as consequências da respectiva situação.

Ao longo do processo do nosso desenvolvimento e interação com nós mesmos e com o ambiente, dificuldades, medos, dilemas vão surgindo e podem levar (ou não) ao sofrimento psíquico. Como lidar com esses fenômenos perpassa pelas nossas experiências e história de vida. O nível de complexidade daquilo que leva ao sofrimento, claro, é muito singular e, por isso, nem todo mundo precisa de psicoterapia para lidar com seus problemas. Isso vai depender da frequência e da intensidade do sofrimento vivido, mas também da crítica e da necessidade da pessoa que sofre.

Então, para quem psicoterapia?

Arrisco dizer, tomando algumas palavras emprestadas do psicanalista Italiano, radicado no Brasil no fim da década de 80, Contardo Calligaris, que a psicoterapia pode beneficiar:

As pessoas que buscam transformações em suas próprias vidas ou desejam atenuar uma dor.

A pessoa que tem um sofrimento, um problema, um conflito ou um dilema reconhecido por si mesma e que tem uma dose de coragem e determinação para buscar apoio.

Aqueles e aquelas que buscam motivação para si, sentem a necessidade de se conhecer mais, acalmar um sintoma ou quer melhorar sua capacidade de conseguir viver melhor.

Aqueles e aquelas que desejam fazer isso junto a uma outra pessoa que gosta da palavra e pode escutar os desejos considerados mais estranhos por contemplar com a devida consideração e sem julgar, a variedade das condutas humanas.

Como funciona a psicoterapia?

Falando de si, daquilo que faz sofrer e com a escuta do psicoterapeuta a pessoa passa a entender e aprender a lidar com o comportamento e/ou com os sintomas desagradáveis através de fenômenos como:

Tomada de consciência de si mesmo (a);

Experiência emocional significativa;

Exploração de fontes de insatisfação;

Contato com seus afetos e história de vida;

Alívio de sintomas;

Melhora ou reversão de quadro clínico.

O que o psicoterapeuta vai fazer para esses fenômenos acontecerem?

Nada que cause constrangimento ao paciente. O psicoterapeuta vai escutar a problemática trazida, poderá fazer algumas intervenções e junto com o (a) paciente tomará algumas decisões. A consulta poderá se desdobrar ou não em sessões de psicoterapia.

Psicoterapia é só para conversar?

Não. O processo de psicoterapia se utiliza da linguagem de forma ampla e também de estudos e técnicas de escuta terapêutica. Se caracteriza por avaliação da queixa, do quadro clínico, da história de vida, do momento atual vivido, do objetivo do paciente e sua particularidade.

Para a realização das intervenções clínicas necessárias e o alcance de mudanças duradouras, o espaço do consultório não deve ser utilizado apenas para desabafar ou receber sugestões.

O psicoterapeuta prescreve remédios?

Não. Quando há necessidade do uso de medicamentos o trabalho se dá com o apoio de um médico, no caso, psiquiatra. O trabalho pode vir a se dar também em conjunto com outros profissionais que não são da área "psi" como nutricionistas, por exemplo. O trabalho conjunto se dá a partir das necessidades do paciente.

Quando procurar um psicoterapeuta?

É uma escolha pessoal, pois a busca do paciente pela intervenção psicoterápica deve ser voluntária. Essa resposta está dentro de cada um de nós.

Muitas vezes não basta reconhecer que se tem um problema ou que precisa de ajuda para encontrar soluções. A dificuldade para alguns é conseguir superar o sentimento que impede dar o primeiro passo para buscar o apoio necessário.

Falar com um estranho de si mesmo (a) não é tarefa fácil, mas como já nos ensinou Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas "...mas, talvez por isto mesmo falar com um estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais mesmo comigo".

Foto: Automat - Edward Hoopes (1927) - Pintura a óleo

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