O que é envelhecer?

A alguns anos atrás, um professor, em aula, disse que a verdade é histórica. Foi a primeira vez que me deparei com esse pensamento, e desde então tenho entendido que a verdade é histórica, contextual e geográfica. O que quero dizer é que o que entendemos como velhice se transformou durante todo o tempo e espaço. Uso de exemplo a Roma antiga, onde uma pessoa com 50 anos já era considerada idosa ou o Império Romano onde a expectativa de vida era de 30 anos. Logo o que caracteriza uma pessoa como idosa em um determinado contexto, não necessariamente a caracteriza como idosa em outro contexto.

Será que envelhecer é a mera passagem de tempo, quero dizer, será que o fato de vivermos mais um dia é o que define que estamos envelhecendo? Por hora vamos supor que seja isso, é o suficiente para definir o que é envelhecer?

Seguindo esse raciocínio, faço outro questionamento, o envelhecimento leva apenas a velhice? Veja só, começamos a envelhecer desde o momento que nascemos, então de bebês nos tornamos crianças, de crianças nos tornamos adolescentes, da adolescência passamos para a juventude, da juventude chegamos a idade adulta até chegarmos a velhice. O que estou tentando dizer é que o processo de envelhecer não caminha apenas para a velhice – embora não exista outro estágio após esse – mas que ele também nos traz a juventude, pois só é possível vir a ser criança, jovem ou adulto ao envelhecer. Um exemplo disso são as pessoas que morrem antes dos 30 anos, o fato delas não terem chegado a velhice não significa que não envelheceram. É importante falar sobre isso, pois conversando com algumas pessoas, parece que a idéia que se tem é que a velhice é o resultado, ou o fruto, do envelhecimento. A velhice é sim resultado do envelhecer, mas a mocidade, a juventude, a fase adulta ou quaisquer outros caminhos também o são.

Veja só, o paradoxo aqui é que para se tornar jovem é necessário envelhecer. O que me faz refletir que para todo vir a ser, ou seja, para nos tornarmos algo, sempre será preciso envelhecer. Logo começo a pensar em envelhecimento como processo. Se envelhecimento é processo, então estamos em constante transformação e, transformações podem levar a diversos destinos, depende de qual caminho irá seguir.

Difícil falar sobre o que é processo nesse contexto, já que é algo muito singular e pessoal. O meu processo de vida é diferente do seu que lê esse texto. Seja pelas oportunidades que se apresentam, pelos recursos que temos para aproveitar dessas oportunidades ou pela escolha de usufruir ou abrir mão delas. Lógico que eu poderia citar outros inúmeros fatores que diferenciam um processo de outro, mas o que vale ressaltar aqui é que os processos são diferentes de uma pessoa para outra, de uma vida para outra, logo, envelhecer também é distinto de uma pessoa para outra.

Então começo a me questionar, é possível juvenescer ou remoçar mesmo envelhecendo? Existe a possibilidade de que esse processo chamado de envelhecimento nos leve a mocidade, mesmo em idades mais avançadas?

A partir desse ponto seria importante conceituar e desenvolver outras definições, definições como juventude, mocidade, entre outras. Como não é o intuito desenvolver esses temas aqui, vamos partir de conceitos já pré concebidos no senso comum.

Por favor, não entenda senso comum como algo banal, mas como definições que a maioria dos seres humanos adquirem a partir da experiência. E muitas vezes é necessário, como agora. Por isso irei citá-los aqui, mas não explicá-los.

Vamos voltar a pergunta feita acima, é possível remoçar mesmo envelhecendo? E aqui chegamos a um ponto importante, pois não se trata de juvenescer, mas de remoçar. Ou seja, não estou falando de atingir um próximo estágio, mas de voltar a um estágio anterior. Para que fique mais claro, já disse que para transitar da infância para a juventude é necessário envelhecer, mas a pergunta feita aqui é, será que é possível, mesmo na velhice, voltar a mocidade?

Quando abordamos envelhecer como processo, podemos entender que processo é uma série de ações que levarão a algum lugar, podendo ser esse caminho consciente ou não.

Parece-me que envelhecer é um processo, um caminho, que algumas vezes estamos conscientes de trilha-lo e, em outros momentos nem tanto. Esse caminho pode levar a diversos lugares existenciais, com infinitas possibilidades de vir a ser. Logo, existem infinitas possibilidades de existências. Lógico que essas possibilidades dependem da autonomia e da consciência que esse indivíduo tem do seu processo. O que torna possível se chegar a lugares existenciais como a juventude e a mocidade, mesmo já tendo alcançado a velhice (biologicamente falando).

Dito isso, já é possível enxergar uma luz para essa questão e começar a entender como pessoas com a mesma idade estão em momentos de vida tão diferentes. Quando entendemos que o ser humano não é apenas biológico e não é apenas a idade que aparenta ter, mas que é um indivíduo que é transpassado por diversos fatores – tais como cultura, tempo e espaço, localização geográfica no globo, história de vida, recursos existenciais, entre outros – então começamos a entender que o processo de cada indivíduo é diferente e isso torna tudo diferente, inclusive o processo de envelhecer, o que quer dizer que podemos alcançar e/ou chegar a lugares diversos na existência.

Não quer dizer que exista um caminho certo ou errado, ou um melhor ou pior – não trago essas indagações com um julgamento de valor – quero dizer apenas que são diferentes, e que lindo que seja assim.

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