As feridas emocionais causadas por um pai ausente

A ausência paterna gera muito sofrimento e pode deixar marcas emocionais que duram a vida inteira.

27 OUT 2020 · Leitura: min.
As feridas emocionais causadas por um pai ausente

Até pouco tempo atrás, o papel do homem na família era trabalhar para sustentar economicamente a mulher e os filhos. Como tinha o poder financeiro, ele era a autoridade máxima da casa, quem dava a última palavra e não se envolvia na criação dos filhos. Muitos eram presentes fisicamente, mas distantes emocionalmente. 

No entanto, com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a configuração familiar sofreu uma mudança profunda. O pai e a mãe passaram a compartilhar a responsabilidade na educação dos filhos. Essa transformação trouxe muitos benefícios às crianças. 

Muitos estudos apontam que crianças que têm o pai envolvido na educação:

  • Têm a autoestima mais elevada;
  • São mais seguras emocionalmente;
  • Têm menos probabilidade de abandonar os estudos;
  • Se envolvem menos com drogas;
  • Desenvolvem relações sociais e afetivas mais saudáveis;
  • São mais empáticas;
  • Vão melhor na escola;
  • Tem mais inteligência emocional;

Além disso, as pesquisas constatam que meninas correm menos risco de engravidar na adolescência e de se envolver em relacionamentos violentos e abusivos. 

Se o pai participa da educação, se é solidário e afetuoso, ele pode contribuir bastante para o desenvolvimento linguístico, social, emocional e cognitivo da criança. Também a ajudará a ter uma autoestima mais elevada. 

Por outro lado, um pai ausente pode causar feridas emocionais que persistem toda a vida. Um estudo feito pelo National Fatherhood Initiative descubriu que a ausência paterna pode gerar problemas econômicos, sociais e, inclusive, prejudicar a saúde física e mental do indivíduo. Segundo a organização, os Estados Unidos gastam anualmente US$ 100 bilhões em programas sociais para reduzir os impactos da ausência paterna. 

Características de um pai ausente 

A ausência paterna pode ser física, quando, por exemplo, os pais são separados e o homem tem pouco ou nenhum contato com os filhos ou emocional, quando o casal está junto más o homem não participa da criação dos filhos. 

As principais características de um pai ausente são:

  • Falta de empatia: tem pouca conexão afetiva com os filhos e com as pessoas em geral. Mantém relações superficiais. Normalmente esse tipo de pai ausente é assim porque quer e não vê nada de errado nisso. Não se coloca no lugar da mulher e dos filhos, fugindo da responsabilidade de ser pai. Logo, não cria laços emocionais com as crianças.
  • Imaturidade emocional: pessoas que não amadureceram emocionalmente têm dificuldade para se relacionar. Não querem e não aceitam crescer. Fogem das obrigações e muitas vezes são pessoas tóxicas. A imaturidade emocional pode ser causada por um trauma na infância. Esses homens vivem como se fossem adolescentes e não são capazes de expressar suas emoções.

  • Irresponsabilidade: a maioria dos pais ausentes tomaram a decisão (consciente ou não) de fugir da responsabilidade de criar um filho. Atuam como se a criança não existisse, deixando todas as responsabilidades para a mãe ou outros cuidadores.
  • Egocentrismo: só olham para o próprio umbigo. O pai ausente faz seus planos como se os filhos não existissem. Prioriza outros temas como o trabalho, o dinheiro, a vida social, os esportes, etc.
  • Obsessão pelo trabalho: muitos pais ausentes são workaholics, podendo passar 14 horas ou mais no escritório. Nunca têm tempo para a família. Mesmo durante as fèrias, não conseguem desconectar e ter tempo de qualidade com os filhos. A ambição profissional está acima de tudo. 

As consequências emocionais da ausência paterna

Ter um pai ausente deixa muitas sequelas. Segundo os psicólogos, adultos que não tiveram o amor e cuidado paterno costumam ser: 

  • Mais desapegados emocionalmente: têm dificuldades em establecer vínculos afetivos fortes e que duradouros. Além disso, muitos filhos de pais ausentes, repetem esse comportamento quando se tornam pais.
  • Mais inseguros: devido ao sofrimento emocional causado pela ausencia paterna, são pessoas que têm mais medo da decepção e do abandono. O medo ao abandono pode pode gerar uma enorme dependência emocional em relação a outras pessoas.

Além disso, essas pessoas:

  • Costumam ter a autoestima mais baixa: a rejeição paterna compromete a autoestima e deixa um vazio difícil de ser preenchido.
  • São mais propensas a apresentar algum transtorno psicológico: muitas vezes, o sofrimento gerado por um pais ausente pode ter várias consequências psicológicas como a depressão, a ansiedade e a anorexia.
  • São mais propensas a entrar em relações tóxicas: devido à baixa autoestima e à carência afetiva, pessoas que não tiveram um pai presente podem ter problemas para estabelecer relacionamentos saudáveis. Devido ao medo de perder novamente alguém que ama, muitas delas não são capazes de cortar determinados vínculos nocivos, vivendo relações abusivas e infelizes.
  • São mais propensas aos vícios: muitos filhos de pais ausentes tentam compensar essa carência de outra forma, podendo ser viciados em drogas, sexo, jogo, compras, etc.

Para refletir

De fato, ter um pai ausente deixa marcas emocionais e psicológicas. No entanto, isso não significa que não seja possível seguir adiante e encontrar a felicidade. 

Se você tem um pai ausente, o primeiro passo para seguir em frente é aceitar como se sente em relação a isso. Também é importante ter em mente que você não é culpada pelas escolhas dos outros, mas é responsável por traçar seu próprio caminho. Ficar remoendo o passado não mudará a situação, mas está nas suas mãos ter um futuro mais feliz. 

Além disso, você pode conseguir ficar mais em paz se passar a valorizar mais outras pessoas que tiveram um papel fundamental no seu desenvolvimento, como a sua mãe, os seus avós ou seus amigos. 

Por fim, se sente que é incapaz de superar essa dor, talvez seja o momento de buscar apoio psicológico. Um psicólogo terá as ferramentas necessárias para ajudar você a ver essa relação de outro prisma. 

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Bibliografia

The Proof Is In: Father Absence Harms Children: https://www.fatherhood.org/father-absence-statistic?hsCtaTracking=293f280b-30f3-432b-a7f0-0f594db8a045%7C670068b8-490b-40db-ba24-cbe65deb0444

Effect of Father Absence on Child Development: https://ukdiss.com/examples/father-absence-effect-child-development.php

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Comentários 29
  • João lucas

    espero que tudo isso passe logo não quero viver com essa angústia pela vida inteira

  • adjair bruno

    Sou casado e a mulher que amo passou pelo abandono do pai na infância e após um tempo ele veio a falecer e ela se sente abandonada por ele eu fiz algumas perguntas pra ela e vou repassar aqui junto com as respostas e gostaria de orientações de vocês profissionais Como voçê se sente com a ausencia paterna? abandono falta de nao saber como ele era raiva por ele ter batido em sua mãe quando estava gravida de vcs. Como voçê lida com isso ? finge que não faz falta, mas faz. Voçê consegue valorizar outras pessoas que tiveram papel fundamental no seu desenvolvimento ? sim Se sim quem são e porque são essas pessoas ? avó, porque ela te deu carinho oque seus pais nao deram Voçê se sente capaz de superar essa dor ? não. mas esta em busca.

  • Angelo Neto

    Pai Ausente, workaholic. Mãe presente, porem alcoólatra, depressiva e suicida. Ambos falecidos Tenho medo do sucesso. super inseguro. Comecei 4 cursos superiores e 3 tecnicos. Não terminei nenhum, Tenho tendencias ao alcoolismo. Suspeita de TDAH e Distimia. Sedentário. 51 anos. Separado. Desempregado. AntiSocial. Terapia no SUS de nada adiante. Sem animo pra qualquer coisa. Onde busco ajuda?

  • A..A.

    E quando os dois são ausentes, tanto o pai quanto a mãe?Tenho 52 anos e passei a vida fazendo terapia. Faço desde os 6 anos de idade, todos os tipos. Já tentei desde psicanálise (12 anos) até hipnose e ada resolveu meus problemas de relacionamentos e baixa auto-estima, e a raiva que eu sinto.

  • Clara Alvino

    Aparentemente de fora, minha família parece ser perfeita, não há quem acredite que meu pai não era presente. Moravamos juntos, porém meu pai sempre me desprezou e desprezou meus irmãos,ele era bem distante ao contrario da minha mãe que sempre foi incentivadora e acolhedora. Hoje sou adulta e casada, porém ainda sofro com isso, ele despreza nós, mas em contrapartida quer levar crédito pelo que nos tornamos, onde ele não nos apoiou emocionalmente. Ele também quer que sejamos responsáveis pelo que ele planeja, porém por trás disso ele força a barra tentando nos dominar e nos fazer de servos. Não é fácil, porém há muito tempo venho evitando estar perto.

  • Joecy Moreira

    Cresci até os 6 anos com a minha vó e até então tinha a presenca do meu pai,mas quando fui embora com minha mãe ele nunca mais foi o mesmo, eu ia visita lo ele se escondia de mim enfim sempre fui eu quem corria atrás,sai de casa cedo aos 13 anos voltei tive um padrasto abusivo,alcoólico, mas meu pai nunca nem se quer me ligou pra saber como eu estava,me lembro de chorar muito de saudades dele não julgo minha mãe porque ela fez oque pode pra nos criar ,larguei meus estudos, casei com uma pessoa abusiva, segui os passos de minha mãe, hoje tenho um ótimo parceiro,El me ajuda emocionalmente, mas mesmo assim ainda sinto um grande vazio dentro de mim,mesmo sendo uma cerva de Deus tem dias que sinto que não vou aguentar

  • Ana.

    Meu pai é um esquizofrênico. Sempre o tive fisicamente, mas nunca emocionalmente. Por causa da doença psicótica, ele tem apenas apego a minha mãe. Significando que, na vida dele, apenas existe ela. Apesar dos teus surtos, fazendo-me a presenciar discussões e uma quase separação. Infelizmente, eu não o vejo mais como era antes. Depois de um tempo, desenvolvi ansiedade aguda e sinceramente, a única que permaneceu ao meu lado foi minha mãe. Ele simplesmente fechava os olhos e ia dormir sempre que eu tinha crises. Eu tento colocar em minha mente que ele é uma pessoa doente e que não sabe dar carinho, mas é impossível! Eu preciso do carinho dele, da atenção. E ele distribui isto pra minha mãe. Eu me sinto desprezada em alguns casos. Porque eu já estou me tornando alguém completamente insegura, principalmente com relacionamentos. Eu sabia que a ausência me causaria rancor, sensibilidade, insegurança, baixa autoestima e tudo que há de ruim em uma ausência paterna. Mesmo depois de seus surtos psicóticos que finalmente começou a tomar os medicamentos corretamente, eu tentei mudar minha visão em relação a ele, mas sempre foi impossível. Porque ele também nunca sequer tentou. Convenhamos, nunca o escutei dizer que me amava.

  • Yara Tozi

    Faz muito sentido, obrigada pelo texto tão esclarecedor.

  • Luiz Fernando Amorim

    Meu pai abandou a minha família quando eu tinha la pros meus 17 anos. Ele foi embora do nada, sem avisar, sem deixar algum bilhete. Foram vários meses sem ter notícias dele, ate que um dia ele entrou em contato com a gente dizendo que tinha ido embora por que eles estava com dívidas e ficou com medo de algo acontecer a gente, por isso ele foi embora. Eu era muito apegado nele, saia pra la e pra cá com ele, trabalhávamos juntos fazendo entregas e de pedreiro, ele sempre batia a mão no meu peito e dizia que eu era o filho dele preferido. Eu fico muito triste toda vez que lembro de tudo que passamos, parece que tudo isso não passou de uma ilusão. Desde que ele foi embora, ele sumia um ano ou meses e voltava pelo whatsapp mandando mensagem que estava com saudades, ai passava um semana ele ja vendia o celular. hoje em dia ja faz mas de 2 anos que não tenho contato com ele. Eu admiro muito pessoas com a família completa, pais ajudando os filhos na carteira de habilitação ou ajudando na sua faculdade, dando conselhos. Graças a Deus pude conquistar a minha habilitação, minha moto, minha faculdade e o meu trabalho. Independente! Eu fico me perguntando, aonde ele está, se está bem, se ele se arrepende. Eu não sinto raiva dele, ao contrário, eu gostaria de poder ajudar ele. Hoje em dia eu sei lidar mais com isso, tenho uma noiva que sempre está ao meu lado. Obrigado Deus

  • Rafaela Da Silva Santos

    Obrigada pelo texto, meu filho vive o desprezo de um pai vivo desde de pequeno ,só era proucurando para servir de capa de modelo nas redes sociais. Desde de muito pequeno ele tem dificuldade de criar laços afetivos com as pessoas, se relacionar mais não se envolver, realmente não cria necessidade afetiva ,e fechado para se falar de sentimentos. Hoje com 12 anos ,parece que começa a compreender mais coisas e isso me assusta ,pois a realidade para ele é bem dura. O pai sempre me falou que é filho de um pai desconhecido,e que sua busca para encontrá-lo era para cobrança financeira. Vi nesse texto todo o seu perfil ,mais infelizmente hoje meu filho é que vive as consequências.


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