A Manipulação do Compulsivo por Jogos no Contexto Familiar
O comportamento compulsivo em relação a jogos representa uma crescente preocupação tanto para os indivíduos afetados quanto para suas famílias, com efeitos profundos sobre as relações familiares e o bem-estar dos envolvidos. Este artigo examina
A compulsão por jogos, que inclui jogos eletrônicos e jogos de azar, é reconhecida como um distúrbio mental pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019, sendo caracterizada pela perda de controle e pela necessidade de continuar jogando mesmo quando há consequências prejudiciais significativas. Além dos problemas financeiros e de saúde que o vício em jogos pode trazer para o jogador, há um impacto secundário que afeta diretamente a família, pois o jogador compulsivo frequentemente recorre a táticas de manipulação para manter seu comportamento aditivo, exercendo pressões emocionais e financeiras nos familiares (Griffiths et al., 2016).
Este estudo visa compreender as principais táticas de manipulação utilizadas pelo compulsivo e discutir os impactos psicológicos e sociais para os familiares. O objetivo é identificar padrões comportamentais e propor estratégias de intervenção para ajudar as famílias a lidar com os desafios impostos pela manipulação do indivíduo compulsivo.
2. Marco Teórico
2.1. Teoria do Comportamento Compulsivo
O comportamento compulsivo é um distúrbio caracterizado pela perda de controle sobre um comportamento específico, que é repetido mesmo diante de consequências negativas significativas. Esse tipo de comportamento está frequentemente associado a desequilíbrios nos sistemas de recompensa do cérebro, onde a dopamina exerce papel central ao reforçar ações prazerosas, dificultando o controle sobre a compulsão (Yau & Potenza, 2015).
O comportamento compulsivo no jogo envolve um reforço positivo e uma "fuga" da realidade, onde o jogador busca alívio para o estresse, ansiedade e outros desconfortos emocionais (Zack & Poulos, 2009). Quando esse padrão se estabelece, o indivíduo perde progressivamente a capacidade de autocontrole, recorrendo a comportamentos manipulativos para manter o hábito, muitas vezes prejudicando os relacionamentos familiares.
Referência adicional:
Yau, Y. H. C., & Potenza, M. N. (2015). Gambling disorder and other behavioral addictions: recognition and treatment. Harvard Review of Psychiatry, 23(2), 134-146.
2.2. Modelos de Manipulação e Controle
A manipulação é um conjunto de estratégias utilizadas para influenciar o comportamento de outros, visando benefício próprio, frequentemente de maneira inconsciente. Em relacionamentos disfuncionais, como no caso de famílias com indivíduos compulsivos por jogos, táticas de manipulação podem incluir chantagem emocional, distorção da realidade e omissão de informações, de modo a permitir que o jogador continue sustentando seu comportamento (Cialdini, 2009). A manipulação cria um ambiente de controle emocional que torna difícil para os familiares confrontarem o comportamento do jogador, pois há uma série de dinâmicas de dependência e culpa (Goodman, 1990).
Referências adicionais:
Cialdini, R. B. (2009). Influence: Science and Practice. Pearson Education.
Goodman, A. (1990). Addiction: definition and implications. British Journal of Addiction, 85(11), 1403-1408.
2.3. Impacto Familiar do Jogo Compulsivo
A compulsão por jogos não impacta apenas o indivíduo, mas também seus familiares, que frequentemente se veem em uma posição de apoio involuntário e desgastante, muitas vezes sendo manipulados emocionalmente pelo jogador para garantir que o vício continue. As famílias relatam sentimentos de impotência, ansiedade e frustração, o que leva ao desenvolvimento de um ambiente emocionalmente tóxico e de codependência (Lorains et al., 2011; Orford et al., 2010).
Referências adicionais:
Lorains, F. K., Cowlishaw, S., & Thomas, S. A. (2011). Prevalence of comorbid disorders in problem and pathological gambling: Systematic review and meta-analysis of population surveys. Addiction, 106(3), 490-498.
Orford, J., Velleman, R., Copello, A., Templeton, L., & Ibanga, A. (2010). The experiences of affected family members: a summary of two decades of qualitative research. Drugs: education, prevention and policy, 17(sup1), 44-62.
3. Metodologia
A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa baseada em entrevistas semiestruturadas realizadas com membros de cinco famílias que convivem com indivíduos compulsivos por jogos. As entrevistas exploraram as principais táticas de manipulação utilizadas pelos jogadores e o impacto emocional dessas táticas sobre os familiares. Para análise dos dados, foram utilizados métodos de análise de conteúdo que permitiram identificar padrões de manipulação e seu impacto nas relações familiares (Creswell, 2014).
Referência adicional:
Creswell, J. W. (2014). Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Sage publications.
4. Discussão
4.1. Formas de Manipulação no Contexto Familiar
Os relatos das famílias indicam que a manipulação ocorre de várias formas, como:
Chantagem Emocional: Usada para fazer com que os familiares sintam-se responsáveis pelo bem-estar do jogador, muitas vezes justificando o jogo como uma "necessidade" emocional.
Omissão de Informações e Mentiras: Mentir sobre o tempo e dinheiro gastos no jogo para evitar conflitos e manter a confiança dos familiares.
Distanciamento: O jogador compulsivo frequentemente se isola da família, o que torna difícil para os familiares interferirem no comportamento de jogo (Goodman, 1990).
4.2. Efeitos na Saúde Mental dos Familiares
As entrevistas revelaram que os familiares de jogadores compulsivos experienciam níveis elevados de ansiedade, estresse e sentimento de impotência. Esse ambiente gera uma relação de codependência, onde os familiares tendem a priorizar o bem-estar do jogador em detrimento de sua própria saúde emocional, criando um ciclo de desgaste e frustração.
4.3. Estratégias de Manutenção do Comportamento Compulsivo e Gatilhos Familiares
Diversos gatilhos familiares contribuem para a continuidade do comportamento compulsivo:
Permissividade Financeira: Os familiares, com intuito de ajudar, acabam oferecendo suporte financeiro que reforça a dependência.
Ambientes de Conflito: Conflitos familiares, em vez de interromper o comportamento do jogador, muitas vezes agem como um catalisador que intensifica a necessidade de jogar (Ross & Goldman, 2019).
Referência adicional:
Ross, S., & Goldman, G. (2019). Family dynamics and addiction recovery: Exploring the role of family systems. Journal of Addiction Therapy and Research, 3(1), 10-20.
5. Estudo de Caso
Para ilustrar a análise, foram identificados dois casos com dinâmicas de manipulação bem definidas:
1. Família A: Um jovem adulto manipula a mãe usando chantagem emocional, afirmando que o jogo é sua "única saída" e que qualquer interferência o levará a uma crise emocional. A mãe, embora ciente do problema, sente-se emocionalmente presa a fornecer apoio.
2. Família B: Um pai compulsivo por jogos de azar mantém o vício oculto de sua esposa, usando mentiras sobre a situação financeira e minimizando o problema para justificar gastos excessivos, comprometendo seriamente a economia familiar.
6. Conclusão
A manipulação exercida por indivíduos compulsivos por jogos causa impactos profundos na estrutura familiar, gerando ciclos de dependência emocional e exaustão psicológica para os envolvidos. As táticas manipulativas mantêm o ciclo vicioso do jogo e prejudicam a capacidade da família de fornecer suporte adequado e tomar decisões objetivas.
Para enfrentar esses desafios, recomenda-se a intervenção por meio de psicoterapia familiar e a participação em grupos de apoio, visando fortalecer a saúde emocional dos familiares e romper os padrões de codependência. Este artigo reforça a necessidade de estudos futuros que explorem a eficácia de intervenções baseadas em terapia cognitivo-comportamental e apoio financeiro em famílias de jogadores compulsivos.
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Referências
Cialdini, R. B. (2009). Influence: Science and Practice. Pearson Education.
Creswell, J. W. (2014). Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Sage publications.
Goodman, A. (1990). Addiction: definition and implications. *British Journal of
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