Abuso sexual: por que é difícil denunciar

Está claro que superar uma experiência de violência sexual não é fácil. Porém, de acordo com os especialistas, o caminho costuma passar pela denúncia. Mas por que é tão difícil denunciar?

4 FEV 2019 · Leitura: min.
Abuso sexual: por que é difícil denunciar

Falar de uma situação de abuso sexual sem pensar no trauma que ela costuma provocar é praticamente impossível. A vítima se sente completamente fragilizada, não consegue se desprender das lembranças, fica revivendo o ocorrido e o sentimento de culpa só cresce.

Por isso é tão recorrente os casos de abuso que ficam silenciados, como se não falar sobre o ato violento o fizesse desaparecer. Na maioria deles, são necessários muitos anos de altos e baixos, muito acompanhamento psicológico, para ser capaz de processar o trauma e conseguir encontrar os recursos necessários para seguir adiante.

Ao longo do último ano, por exemplo, foi possível acompanhar o desabafo de várias figuras públicas, entre elas artistas e atletas, brasileiros e de outros países, que depois de 5, 10 ou 15 anos, criaram coragem para, finalmente, tornar público o abuso sexual sofrido e a identidade do abusador.

Mas por que é tão difícil denunciar o abuso sexual quando esse acontece? Por que casos com o do médium João de Deus continuam se repetindo? O líder religioso está sendo investigado como possível autor de abusos sexuais a mais de 200 mulheres, desde os anos 80. Apesar das inúmeras vítimas, a história só veio à tona em dezembro do ano passado, quando um depoimento na televisão provocou a reação em cadeia.

Medo da reação dos demais

Os especialistas afirmam que há vários fatores envolvidos nesse processo, sendo o primeiro deles o medo da reação dos demais, especialmente se o abusador é uma figura “respeitada” e que desfruta de certa relevância no contexto social em que está inserido. O medo da exposição pública, dos comentários de conhecidos e familiares, do posicionamento de desconhecidos nas redes sociais, tudo isso exerce um grande efeito bloqueante sobre a vítima.

Também há o outro tipo de medo, não menos nocivo, que se refere àquilo que o próprio abusador é capaz de fazer caso a vítima revele detalhes do ocorrido. Esse medo se retroalimenta pelo violento golpe que sofre a autoestima da pessoa abusada, que se sente humilhada, que teme um novo abuso, represálias de diferentes tipos, arrastando inclusive seus familiares para o centro desse temor. Esse tipo de pensamento recorrente acaba dinamitando a capacidade de resistência da vítima.

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Além disso, há uma tendência em querer “normalizar” o abuso sofrido, tratando de enfraquecer o constrangimento ao se questionar sobre se realmente “isso” não seria o padrão, o natural, especialmente naqueles casos em que o abuso vem acompanhado de elogios e galanteios. Trata-se de um esforço desesperado para não se sentir excluída dos padrões, de sair da condição de vítima e não ter que lidar

Outro ponto que impede as vítimas de denunciar é o medo de se expor, de enfrentar um processo judicial e não encontrar na decisão da Justiça uma vitória, senão uma revalidação da violência. Nem todas as instituições estão preparadas para oferecer o acolhimento necessário. Em muitos casos ainda impera o machismo e o impulso de culpabilizar a própria vítima. Está claro que se trata de um fator inibidor.

Apesar dos inúmeros desafios que denunciar um abuso sexual pode supor para as vítimas, os psicólogos especializados nesse tipo de trauma são unânimes: faz parte do processo de superação reconhecer que houve violência, reconhecer que o culpado é o abusador, não a vítima. Não se trata só de buscar a responsabilização, mas de concluir um ciclo para ser capaz de passar página.

Fotos: MundoPsicologos

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