Depressão, uma epidemia?

Para a psicanálise em alguma medida estados depressivos fazem parte da constituição psíquica humana, pois a falta e o vazio que nos é constitutivo causam dor, a dor de quem esta vivo.

17 SET 2019 · Leitura: min.
Depressão, uma epidemia?

A dor é maior ou menor em cada sujeito, em cada fase de seu ciclo de vida e pode estar relacionada às experiências atuais ou passadas. É a dor de quem está vivo.

Sendo então a depressão algo do humano, há uma questão importante que nos interroga, ou seja, por qual motivo vem ocorrendo uma disseminação tão alarmante dos diagnósticos de depressão e sua medicalização?

Seria mesmo uma epidemia? Há algum interesse ideológico nesses diagnósticos que se fazem coadjuvantes do mal-estar que cada ser porta em si?

Um sociólogo chamado Bauman levantou essa questão em seus textos sobre a pós modernidade, e em suas reflexões pontuou que estar deprimido já se tornou praticamente uma condição do sujeito pós-moderno (Bauman, 1998).

Os estudos atuais, especialmente os da área da saúde mental levam a pensar que na atualidade há uma disseminação desenfreada de diagnósticos de depressão, por um lado por que estar triste não condiz com as redes (in) sociais onde todos estão sorrindo e felizes o tempo todo.

Segundo porque o capitalismo tem contribuído consideravelmente para uma sociedade cada vez mais narcisista, individualista e consumista, onde a felicidade não passa de um momento fugaz de obtenção de objetos de consumo, que tão logo passe a sensação de prazer que produz se esvanece rapidamente.

Além de que, a indústria farmacêutica se expande tão vertiginosamente quanto as patologias que é capaz de criar, com o aumento absurdo dos diagnósticos tanto de depressão como de outras psicopatologizações da vida comum.

Os ideais de felicidade produzidos culturalmente a que a sociedade capitalista contemporânea se agarra, fecham ainda mais os espaços possíveis para o sofrimento e o mal- estar. O deprimido passa a ser imediatamente diagnosticado e medicado para calar sua dor.

Em lugar de se abrir um espaço para a fala do sujeito, onde ele possa historicizar o que lhe acontece, em lugar do sofrimento ganhar espaço na linguagem, na palavra e nas tramas discursivas que cada um pode tecer de si, o medicamento vem como uma medida de tamponamento, um cale-se, uma "desubjetivação" que lança o sujeito no mais profundo abismo do vazio sem palavras.

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Escrito por

Psicologia Izabel Cristina de Paiva Linares

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Comentários 2
  • Tábada Regina

    Muito bem pontuado. Se há depressão, se há necessidade de ajuda, que seja de humanização, de aprendizagem no conhecimento de si mesmo, de leveza do ser. Por mais terapia, mais conhecimento e felicidade. Com o apoio do psicólogo, tal como da Izabel. Sempre.

  • Sayuri Toyohara Dallagassa

    Triste realidade. Mas graças à Deus existem profissionais como você para ajudar. Parabéns pelo texto!

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