Pandemia e terceira idade

Precisamos entender os impactos da pandemia na terceira idade. A saúde mental dos idosos se tornou um dos assuntos mais relevantes e discutidos na sociedade contemporânea.

27 NOV 2020 · Leitura: min.
Pandemia e terceira idade

Idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O aumento da expectativa de vida da população brasileira, foi conquistado nos últimos anos graças aos avanços tecnológicos e da medicina. Segundo os dados do IBGE, na década de 60 a expectativa de vida era de 57 anos, e em 2020, 72 anos.

Diante do aumento do número de anos de vida, impõe-se hoje pensar e analisar a velhice, não como o fim da vida, mas como uma nova etapa a ser vivida. A velhice ou terceira idade tem sido pensada, quase sempre, como um processo degenerativo. O estereótipo tradicional da velhice é o de pessoas doentes, incapazes, dependentes. Hoje se sabe que muitos idosos ultrapassaram esse antigo modelo.

Dentro desse contexto, dentro dessa nova etapa de vida, a saúde emocional na terceira idade se tornou um dos assuntos mais relevantes e discutidos na sociedade contemporânea. O termo saúde mental, de acordo com a OMS, está relacionado à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e ao modo como harmoniza suas ideias e emoções.

Por fazer parte de um grupo com alto risco de contágio e agravamento dos sintomas da Covid-19, a terceira idade necessita de um olhar mais apurado. Nas últimas décadas os idosos vem se organizando em contextos sociais e familiares importantíssimos para a melhora da sua condição emocional. Muitos idosos começaram a realizar sonhos, resgataram hobbies, começaram a se organizar em grupos, inclusive os serviços se especializaram para essa faixa etária, viabilizaram viagens, encontros de grupos de amigos, atividades físicas individuais ou coletivas. Idosos voltaram a estudar, a fazer cursos, a se permitir novas capacitações, atividades sociais da comunidade (grupos de idosos, centros de convivência), projetos de serviços voluntários. Idosos passaram a ser protagonistas ou "idosos ativos".

Com a pandemia centenas de idosos tiveram que interromper suas rotinas e atividades sociais para permanecer em casa. Essa nova condição gerou afetações emocionais e como consequência o aumento da ansiedade, medo, insegurança, estresse. A depressão é o que mais tem ocorrido. No quadro depressivo podemos ter falta de apetite, problemas de cognição, problemas de concentração, problemas para dormir, falta de cuidado com a higiene, agressividade, e ideias suicidas. A depressão por consequência do isolamento social e em muitos casos a vivência do luto pela perda de um membro da família, ou amigos por conta do coronavírus.

A pandemia, além do isolamento social, trouxe para muitos idosos o aumento da violência. Quando se fala em violência contra as pessoas idosas, pensa-se imediatamente na violência física, mas esta não é a única, pois há inúmeras formas de violência, veladas e mascaradas. A violência também pode manifestar-se como psicológica, econômica, moral, familiar, social, institucional. Pode resultar de atos de omissão e negligência, abandono ou ainda ocorrer violência medicamentosa (uso indevido de medicação, aumentando ou suprimindo medicações).

A violência contra os idosos infelizmente é um fenômeno pouco reconhecido e denunciado e comporta uma complexidade muito grande, a começar pelo reconhecimento do fenômeno pela sociedade. Quando a violência contra o idoso se dá dentro do contexto familiar, temos que tentar compreender o movimento desse grupo. Muitas vezes, em defesa do agressor (filho, filha, neto, neta...) o idoso se cala. Se para mulheres em situação de violência, em muitas situações, é difícil denunciar o marido agressor, para as pessoas idosas a dificuldade acentua-se muito mais em denunciar ou declarar que seus filhos são os agressores. Muitas pessoas idosas se culpam pela violência sofrida ou então acham que é normal da idade sofrer a violência.

É sempre difícil o idoso lidar com a agressão que ocorre no contexto familiar, pois justamente é deste contexto que ele tem a expectativa de acolhimento, de cuidado, proteção. Estamos falando de uma agressão física ou psicológica que ocorre no ambiente familiar onde deveria existir um vínculo pessoal de confiança.

É possível o idoso calar por medo de possíveis represálias. Medo de que ao revelar a existência da violência, o agressor (geralmente membro da família da vítima) torne-se mais violento e coloque em risco a sua vida.

A pessoa idosa pode pensar que é sua a culpa por estar sofrendo os maus tratos, pois não foi um bom pai ou uma boa mãe e agora está colhendo os resultados. A vítima pode sentir vergonha por não ter conseguido controlar ou superar a situação em que se encontra.O estresse pós traumático é maior nos casos de violência ao idoso.

O Art. 9o, Capítulo I, do Direito à Vida do Estatuto do Idoso fala: É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

O tema violência contra os idosos é um tema que envolve uma complexidade de fatores. A intervenção para modificar passa por uma série de iniciativas: denunciar a agressão é um passo importante para diminuir o fato. O setor de saúde tem um papel importante para prevenção, tratamento e recuperação da violência contra o idoso.

Um trabalho interdisciplinar (com médicos, psicólogos, assistente social, fisioterapeuta) é fundamental para a intervenção. Instrumentalizar a família para conseguir estratégias dentro do ambiente familiar para o idoso ter autonomia, independência. Tratamento medicamentoso, tratamento psicológico, a inclusão do idoso em atividades que gerem segurança, que reafirme a confiança na família. Segundo especialistas um antídoto contra a violência é a ampliação da inclusão do idoso.

Dicas para cuidar da saúde física e emocional

  • Criar uma rotina, com horários definidos para cada tarefa. Idosos que estão trabalhando em casa: é importante separar as horas de trabalho das outras atividades;
  • usar a tecnologia a seu favor. Troque mensagens com seus entes idosos e faça ligações e chamadas de vídeos sempre que possível, pois essa ação pode melhorar muito o dia de quem está se sentindo sozinho;
  • combine de assistir a filmes ou programas que gostam juntos e depois comentar com a família, amigos, ou ver simultaneamente, cada um em sua casa, e comentar sobre ele depois;
  • procure jogos de mesa como damas, xadrez, dominó, por exemplo, para jogar junto com a família;
  • cuidado com as notícias, não foque apenas em coisas sobre o coronavírus;
  • cuidar com o sono - o mais saudável é dormir de 7 a 8 horas por noite;
  • cuidar da alimentação, se hidratar;
  • atividade física;
  • ter acesso à informação, mas de qualidade. Evitar passar ao idoso qualquer informação que não tenha sido checada e que possa aumentar o medo;
  • faça um rodízio da família, um revezamento organizado entre os familiares para que o idoso não se sinta abandonado na quarentena.

A superação das dificuldades emocionais do idoso, vai depender das possibilidades materiais, sociais, familiares, porque quanto maior o acolhimento, maior a compreensão do que está ocorrendo com esse idoso, maior a condição para a superação dessas dificuldades.

Para que a velhice não se torne um peso, para que o idoso não entre num quadro de depressão, melancolia, ou se sinta na solidão, é importante nos prepararmos para o envelhecimento. Além do preparo da saúde, da economia, da família, precisamos continuar lutando por coisas que dão sentido a nossa existência e aos projetos que nos motivem a viver diariamente.

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Escrito por

Claudia Holetz

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Bibliografia

Brasil. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. – 2. ed. rev. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007.

Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Saúde (2002)

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