Depressão na adolescência e seus reflexos
Considerada por muitos como rebeldia e problemas normais da idade, a depressão na adolescência vem tomando proporções drásticas, com efeitos importantes na vida afetiva até 20 anos depois.
Em abril deste ano foi publicado um estudo que comprova a duração dos efeitos da depressão e da raiva quando uma pessoa não recebe o tratamento necessário. Realizada pela Universidade Alberta do Canadá, a pesquisa foi baseada no acompanhamento de 341 pessoas, sendo 178 mulheres e 163 homens, em três fases importantes de suas vidas. A primeira, entre os 18 e 25 anos, quando o indivíduo está em processo de transição para a vida adulta. A segunda, aos 32 anos, quando inicia a vida adulta. E, finalmente, a terceira, aos 43 anos, quando essa fase está consolidada e os indivíduos são qualificados como marido e esposa.
Os resultados apontam que os entrevistados que tiveram depressão e raiva quando adolescentes e jovens, sofreram com seus efeitos duradouros duas décadas mais tarde. Mesmo tendo vivenciado grandes acontecimentos como o casamento, o nascimento dos filhos e o crescimento profissional, essas emoções negativas se refletiram no comportamento dos participantes afetando consideravelmente suas relações conjugais.
Além de indicar a importância de se diagnosticar e tratar prontamente a depressão e a raiva, o estudo reforça ainda outro ponto importante. Os relacionamentos não são formados apenas pelo comportamento atual do casal, mas fundamentalmente pela história vivenciada por cada um. Assim como outros transtornos, a depressão não desaparece de um momento para outro. Como o indivíduo vai lidar com esse quadro é uma questão crucial para a sua felicidade, inclusive mais tarde na vida a dois.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a depressão atinge na mesma proporção adolescentes e adultos, apresentando o dobro de incidências no publico feminino. O número de indivíduos na faixa de 12 a 25 anos com esse transtorno cresceu consideravelmente no Brasil na última década, porém, sua incidência é de difícil diagnóstico.
Isso se dá porque nesse perfil os sintomas tendem a ser diferentes dos que são manifestados no público adulto, muitas vezes mal interpretados por quem convive com o indivíduo que tem depressão. Outro ponto que dificulta o acesso ao tratamento é o fato de que os adolescentes não costumam buscar ajuda de forma espontânea. Em muitos casos, eles precisam ser motivados pelos pais ou professores a procurar por um especialista. Vale lembrar que atualmente 10% dos adolescentes brasileiros sofrem de depressão.
Diante desse quadro alarmante, fica aos profissionais o desafio de desenvolver estratégias diferenciadas para atingir esse público que carece de tratamento adequado. É necessário não apenas atrair o adolescente ao consultório, mas também motivá-lo a dar continuidade no processo terapêutico, visto que a depressão pode interferir drasticamente na sua felicidade também em longo prazo.
Vale relembrar que a busca pelo profissional e orientação depende exclusivamente do olhar sensível do adulto ao perceber que algum comportamento ou humor do adolescente vem chamado a atenção. Sempre que existir a dúvida sobre a questão ser característica da idade ou indicativo de depressão, o profissional deve ser contratado para avaliação. Além de possíveis prejuízos na vida afetiva, a ausência de tratamento do quadro de depressão na adolescência pode contribuir também com dificuldades nas relações familiares, sociais, profissionais e ainda deixar resíduos que comprometam sua autoestima e decisão. Por estarem em período de desenvolvimento, o olhar sensível do adulto e a postura mais atuante, podem motivar inúmeros benefícios a longo prazo em todos os âmbitos de sua vida.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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infelizmente é isso mesmo que acontece se não tivermos alguém pra nos motivar a chegar até um especialista. Há dois dias uma colega minha se matou. Porém, passava por problemas de saúde e andava correndo atrás de médicos em outras cidades, mas nenhum deles pode resolver o problema, que resultou em desacreditar na vida porque passava por muitos transtornos. E creio que é isso que acontece com muitos de nós jovens.
Quando meu pai pela primeira vez manifestou problemas mentais, eu tinha quase 6 anos e hoje, já fazendo 60, ainda lembro daquele momento em que ele agressivamente partiu para cima da minha mãe. A partir daí, houve uma sucessão de eventos que foram marcando minha vida de modo doloroso. Aos 7 fui para um orfanato e a separação da minha mãe fez desmoronar meu pequeno mundo, como um filhote que se perde na floresta e assustado vai tentando sobreviver. Antes de sair de lá, aos 14, para começar a trabalhar e continuar os estudos a noite, fiz um juramento: "um dia vou crescer, sair daqui e cuidar de mim e da minha família". Meu pai entrava e saia, passava de um hospital psiquiátrico para outro durante boa parte da sua vida e aos 16 anos soube que minha mãe tinha uma doença hereditária (coreia de huntington). Aos 17 quase pirei, qualquer coisa que sentia, pensava: estou ficando como o meu pai ou estou ficando como a minha mãe. Por conta de tudo isso, perdi a fé na religião, desacreditei de tudo que envolvia Bíblia, Deus, diabo, céu e inferno. Me tornei ateu porque não podia suportar a idéia de como Deus permite tanta diferença entre as pessoas, ricas, pobres, saudáveis, doentes, perfeitas, aleijadas, etc. Nessa mesma época, tive uma obsessão por morte, achava que ia morrer e de certo modo morri psicologicamente (é uma história mais longa). Anos mais tarde por conta dessa experiência escrevi um texto que denominei "Eu já morri uma vez". Nesse texto digo que morri, mas fui salvo, amparado nas águas da imensidão, no colo da mãe vida e da mãe morte. Não há receitas para viver, se "perder" é assustador, mas é a única forma de se "encontrar".