A relação entre amor e ódio: duas faces de uma mesma moeda

Amor e ódio não se excluem. Movem-se num mesmo campo e, apesar de possuirem aspectos aparentemente distintos, a relação entre estes dois sentimentos envolve uma ligação entre eles.

3 ABR 2019 · Leitura: min.
A relação entre amor e ódio: duas faces de uma mesma moeda

Em geral, apaixonar-se é algo bom, seja por alguém ou por uma determinada causa. Contudo, é possível considerar que aquilo que se mobiliza aos extremos, num certo furor, não parece ser uma coisa positiva, por assim dizer, mas que pode derivar para uma passionalidade capaz de realizar atos, inclusive, destrutivos.

Em que momento podemos situar algo que nos move como uma paixão capaz de boas resoluções? Muito provavelmente, quando não é causador de sofrimento para si ou para o outro. Esse delineamento é fundamental para se ouvir os impulsos que levam alguém a fazer coisas que podem ser tidas como importantes e benéficas ou nocivas, de modo geral.

Quando se vê alguém se posicionando muito ardorosamente sobre um determinado ponto de vista, com uma forte indignação cuja posição condena, censura e repele algo de forma muito agressiva, isso pode denotar uma paixão que se constitui em ódio, vindo até mesmo a derivar em atos agressivos e violentos.

As paixões, portanto, podem ser distinguidas pela sua intensidade e potencial de ação ao qual se pode também examinar elementos como o amor e o ódio. Cabe, contudo, fazer o esclarecimento de que o ódio não é o oposto do amor, mas, sim, pertencente de um mesmo campo. Pois, o oposto do amor, segundo uma leitura psicanalítica, seria a morte, ou seja, a violência com seu poder destrutivo.

Relação entre amor e ódio

A relação amor e ódio, portanto, compreende uma correspondência e uma identificação entre esses dois elementos. Odeia-se algo que, de algum modo, se considera, admira ou que já tenha sido produto de uma relação amorosa anteriormente de forma mais objetiva. Nesse caso, ao odiar algo a ponto de se pronunciar apaixonadamente em repressão a este objeto, acaba-se por sinalizar a existência de um vínculo de identificação com o mesmo, como uma espécie de inveja por não ter, por sua vez, uma relação estreita de envolvimento com ele ou a coragem de realizar aquilo que enfaticamente se critica neste objeto odiado.

Nesse sentido, é possível analisar, grosso modo, os preconceitos e as hostilidades como atos de agressividade e pura censura de algo que toca o sujeito e o incomoda, como, por exemplo, no caso da homofobia em que se pode manifestar com veemência e revelar uma reprovação de algo que aparentemente não possui relação com o objeto reprovado. Se a sexualidade alheia se trata de algo particular e de cunho pessoal do outro, por qual motivo alguém que está fora dessa relação pode se sentir importunado com isso?

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O mesmo se pode observar em posicionamentos radicais opositores de ódio sobre alguma diferença de fundo ideológico com alguém ou algum grupo. Nenhuma posição radical extremada pode se fazer sustentada por coerência e sim por algo que foge ao controle de quem, nesse caso, odeia. Odeia-se, portanto, porque também ama-se, de algum modo, o objeto de ódio, vindo a ser uma relação que pode ser considerada como mal resolvida.

O ódio não é sinônimo de violência, mas pode, em virtude de uma paixão, mover o sujeito de forma violenta a tentar suspender um sentimento antagônico de suposta violência sentida, que se traduz na impossibilidade de compreensão e aceitação do objeto odiado que lhe tem correspondências emocionais ainda não conscientemente reveladas, mas que lhe causa fortes reações.

As relações sociais estão cheias de posições ambíguas da via de amor e ódio, de incompreensão e necessidade de controle emocional sobre o objeto odiado. Sendo assim, quando alguém sentir ódio, deve prestar bem a atenção e ter o cuidado de avaliar o que o incomoda sobre determinada pessoa, grupo ou questão que é produtora desse sentimento. Pois, muito provavelmente, no fundo de uma paixão que resulta num sentimento exacerbado de oposição, reprovação e censura, poderá residir algo que o sujeito precise muito aprender, conhecer e lidar sobre si mesmo.

Por Adriano Andrade Barboza, psicólogo inscrito no Conselho Regional de Psicologia do Paraná 

Fotos: MundoPsicologos.com 

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Escrito por

Adriano Andrade Barboza

Graduado em Psicologia pela PUCPR e pós-graduado em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica pela mesma universidade. direciono-me para a grande área da Psicologia e da Filosofia e ao viés psicanalítico. Formação complementar na área de uso abusivo de substâncias pela UNIFESP e USP. Atua como psicólogo clínico em consultório particular.

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Comentários 2
  • tiao

    muito bom ,bem assim mesmo

  • Negam

    Belo artigo, gostei do tema abordado bem atual. Parabéns

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