A intenção por trás das críticas

Muitas vezes, recebemos todo tipo de crítica como sendo útil. Será mesmo? O que está por trás delas? São feitas para nos depreciar ou para apontar um aprimoramento?

4 MAR 2019 · Leitura: min.
A intenção por trás das críticas

Algumas pessoas defendem uma posição sobre a crítica negativa como sendo necessária e depuradora como se fora um autoflagelo a ser devidamente suportado, enquanto a crítica positiva seria algo mais favorável numa espécie de elogio e, portanto, mais aceitável. Nesse sentido, cabe fazer a seguinte pergunta: Existe mesmo crítica positiva e crítica negativa?

Na verdade, é possível pensar que o senso crítico consiste em algo fundamental ao ser humano, sem o qual estamos fadados a um movimento sem direção clara. Santo Agostinho recomendava e exercia o processo de autocrítica diariamente ao final do seu dia para revisar suas ações, pois ele dizia que preferia aqueles que o criticavam por ajudá-lo a se corrigir ao invés daqueles que o adulavam por levá-lo ao engano e a corrupção. Nesse caso, podemos dizer que existe um fundamento bem embasado em tal raciocínio.

A diferença entre crítica positiva e negativa

Contudo, quando nos deparamos com aqueles que defendem uma crítica negativa, devemos sobretudo procurar observar o que se revela em torno disso. Afinal, crítica é crítica, ou seja, é uma só. Pois, podemos considerar que não existe, nesse caso, a crítica positiva e a crítica negativa. O que se pode denotar então naquilo que se refere a uma crítica negativa ou positiva é justamente a intenção por trás dela. A crítica que nos é dirigida foi feita para nos depreciar apenas ou foi feita para nos apontar uma possibilidade de aprimoramento?

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Sartre já dizia algo consistente nesse sentido. Ou seja, que não temos controle sobre aquilo que nos chega – seja a emissão de uma crítica, uma opinião, um gesto, uma ação ou até mesmo acontecimentos diversos a nós dirigidos, mas, por outro lado, teríamos, no entanto, controle sim de algo importante – aquilo que podemos fazer com aquilo que nos chega.

Podemos e devemos filtrar aquilo que nos é dirigido, vindo a considerar os pontos que forem pertinentes, desconsiderar aqueles que não tem sentido e jogar fora um comentário ou a suposta crítica inútil. Podemos fazer o que quisermos, contanto que tenhamos em nós o controle e a supervisão de nossos atos por meio da autocrítica.

Como lidar com frustrações

Vivemos de modo pendular ante a sentimentos de prazer e desprazer, de satisfação e insatisfação, conforto e desconforto, e, muitas vezes, nesse caso, se deparar com a constatação de uma falha e um defeito em nós mesmos pode, realmente, nos aborrecer. O que fazer então?

Somos compostos também por frustrações e isso não significa ser algo necessariamente ruim, pelo contrário, pois o fato de sentirmos a frustração denota que o objeto frustrante nos é pertinente e nos diz algo importante sobre nós mesmos e nossa relação com as coisas e com o mundo. Contudo, na sociedade contemporânea cada vez mais foge-se da frustração como se fugissem de um monstro avassalador portador de infelicidade. Trata-se de um movimento de evitação do desagradável, como se tudo precisasse ser sempre perfeito e agradável. Cuidado, a frustração consiste em um sinal de algo importante a ser enfrentado, pois ela não é um mecanismo depreciativo e depressivo, mas de desconforto inicial, que quando elaborado nos leva ao processo de criticidade então produtor de uma percepção importante de si e de aprimoramento que, por sua vez, pode resultar na auto superação de conflitos então produtora de prazer.

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Façamos uma análise prática sobre o assunto. Digamos que algo importante lhe causa certa angústia de frustração e que você não consegue lidar com ela de pronto. Nesse momento, você pode se utilizar de uma interessante seletividade crítica, como se você tivesse um gaveteiro mental de prioridades composto por três gavetas: a primeira gaveta para questões mais fáceis e de possível solução de curto prazo, a segunda gaveta de dificuldade média para questões a serem resolvidas em médio prazo e a última gaveta para questões mais difíceis e complexas de longo prazo de análise. De vez em quando você abre as gavetas correspondentes e analisa suas questões para fazer um reconhecimento, vindo a trabalhar as questões de forma paulatina e sem pressa, dando a devida atenção no seu tempo certo e propício reelaborando a escala de prioridades, sendo assim cuidadoso consigo mesmo sem severidade em excesso, sem, com isso, perder o senso de responsabilidade.

Pois, na medida em que seus problemas forem elaborados e decifrados, poderão ser elevados a níveis diferentes de prioridade no gaveteiro, vindo a alcançar, por fim, uma devida resolução que permitirá ser possível experimentar um sentimento de superação produtor de uma inevitável sensação legítima de prazer diferindo-se de satisfações passageiras e superficiais. Eis, então a autocrítica em sua plenitude.

Tudo tem seu tempo

Não somos seres prontos capazes de depurar tudo de imediato e de pronto, afinal todas as nossas questões são formalizadas de forma paulatina e nenhum problema começa grande, tal como na lógica de um incêndio, ou seja, nenhum incêndio começa grande. Ele parte de uma pequena chama que evolui para um movimento maior e incontrolável. Sendo assim, o mesmo se dá com relação as soluções para uma realidade mais satisfatória e madura.

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Portanto, podemos e devemos ser críticos. Isso nos fará bem. No entanto, se faz necessário ter para si um sentimento de compreensão e se permitir elaborar aos poucos tudo que nos chega sem precisar agir com pressa e de forma cruel diante de nossas falhas. Tudo tem o seu tempo de elaboração, permitindo uma construção de aprimoramento que fortalece a autoestima na medida em que se é responsável por seus atos e que ninguém poderá trabalhar melhor que você e, assim, toda a crítica externa será apenas um elemento a ser filtrado e aproveitado a partir de sua própria análise. Desse modo, é possível considerar ainda que todo processo de análise poderá contar também com um processo psicoterapêutico auxiliar que virá a se tornar uma ferramenta a mais a ajudar você no seu objetivo de ir em busca de novas concepções de olhar e viver a vida com mais autonomia, cujo protagonista da história é você mesmo.

Artigo escrito pelo psicólogo Adriano Andrade Barboza, psicólogo inscrito no Conselho Regional de Psicologia do Paraná 

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Adriano Andrade Barboza

Graduado em Psicologia pela PUCPR e pós-graduado em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica pela mesma universidade. direciono-me para a grande área da Psicologia e da Filosofia e ao viés psicanalítico. Formação complementar na área de uso abusivo de substâncias pela UNIFESP e USP. Atua como psicólogo clínico em consultório particular.

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