TOC: A Sombra do Trauma e Seus Efeitos Persistentes

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição complexa que pode surgir após experiências traumáticas, afetando profundamente a qualidade de vida dos indivíduos.

6 JUN 2024 · Leitura: min.
TOC: A Sombra do Trauma e Seus Efeitos Persistentes

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição psiquiátrica caracterizada por pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos. A relação entre TOC e traumas é um campo de estudo crescente, indicando que eventos traumáticos podem ser gatilhos significativos para o desenvolvimento ou agravamento dos sintomas. Pesquisas mostram que indivíduos com histórico de trauma apresentam uma prevalência maior de TOC, sugerindo uma ligação entre a exposição ao trauma e a manifestação de sintomas obsessivo-compulsivos (Stein et al., 2021). Além disso, estudos internacionais, como o de Abramowitz et al. (2018) nos Estados Unidos, reforçam essa correlação ao investigar os mecanismos neurobiológicos subjacentes.

A conexão entre TOC e traumas pós-traumáticos pode ser explicada por várias teorias psicológicas e biológicas. Uma das hipóteses sugere que o trauma pode alterar o funcionamento do sistema nervoso central, particularmente nas áreas responsáveis pela regulação emocional e comportamental, como o córtex orbitofrontal e os gânglios da base (Gola et al., 2016). Outra teoria postula que o trauma pode intensificar a vulnerabilidade genética ao TOC, exacerbando os sintomas em indivíduos predispostos (Maron et al., 2019). Essas teorias são corroboradas por estudos como o de Zhang et al. (2017) na China, que observaram alterações neuroanatômicas em pacientes com TOC e histórico de trauma.

As manifestações de TOC em indivíduos que passaram por traumas podem variar amplamente, mas frequentemente incluem obsessões relacionadas à segurança, limpeza ou ordem, bem como compulsões destinadas a neutralizar a ansiedade desencadeada por essas obsessões. Estudos mostram que esses comportamentos podem ser uma tentativa de controlar o ambiente e reduzir o sentimento de desamparo associado ao trauma (Foa et al., 2005). Além disso, pesquisas internacionais, como a de Fontenelle et al. (2006) no Brasil, destacam que a intensidade e a frequência dessas manifestações podem ser significativamente maiores em vítimas de traumas, indicando uma necessidade urgente de abordagens terapêuticas especializadas.

O tratamento do TOC em indivíduos com histórico de traumas requer uma abordagem multifacetada, que combina terapia cognitivo-comportamental (TCC) e, em alguns casos, farmacoterapia. A TCC, especialmente a técnica de exposição e prevenção de resposta (ERP), tem se mostrado eficaz em reduzir os sintomas ao ajudar os pacientes a enfrentar suas obsessões sem recorrer às compulsões (Franklin & Foa, 2011). Além disso, medicamentos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) podem ser utilizados para aliviar os sintomas obsessivo-compulsivos (Pittenger & Bloch, 2014). Estudos internacionais, como o de van Balkom et al. (2013) na Holanda, também apoiam o uso combinado dessas abordagens, enfatizando a importância de um tratamento personalizado baseado na história de trauma do paciente.

A compreensão da relação entre TOC e trauma pós-traumático é crucial para oferecer intervenções eficazes e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, abordagens terapêuticas que consideram a influência do trauma podem ajudar a reduzir a recorrência dos sintomas e promover uma recuperação mais completa. É fundamental que profissionais de saúde mental estejam atentos à possível presença de traumas subjacentes ao TOC e adaptem suas estratégias de tratamento de acordo. Estudos como o de Sibrava et al. (2015) nos Estados Unidos destacam a importância de uma abordagem holística que leve em consideração tanto os sintomas do TOC quanto a história de trauma do paciente, visando uma intervenção mais abrangente e efetiva.

Referências Bibliográficas

Abramowitz, J. S., Wheaton, M. G., & Storch, E. A. (2018). The Status of Research on the Etiology of Obsessive-Compulsive Disorder. Cognitive Therapy and Research, 42(3), 289–299.

Fontenelle, L. F., Mendlowicz, M. V., & Versiani, M. (2006). The descriptive epidemiology of obsessive-compulsive disorder. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 30(3), 327–337.

Franklin, M. E., & Foa, E. B. (2011). Treatment of obsessive compulsive disorder. Annual Review of Clinical Psychology, 7, 229–243.

Gola, M., Wordecha, M., Sescousse, G., Lew-Starowicz, M., Kossowski, B., Wypych, M., Makeig, S., & Potenza, M. N. (2016). Can Pornography be Addictive? An fMRI Study of Men Seeking Treatment for Problematic Pornography Use. Neuropsychopharmacology, 41(10), 2932–2940.

Maron, E., Nutt, D. J., & Shlik, J. (2019). Neuroimaging applications in obsessive-compulsive disorder. Psychiatry Research: Neuroimaging, 288, 1–6.

Pittenger, C., & Bloch, M. H. (2014). Pharmacological treatment of obsessive-compulsive disorder. The Psychiatric Clinics of North America, 37(3), 375–391.

Sibrava, N. J., Boisseau, C. L., Eisen, J. L., Mancebo, M. C., Rasmussen, S. A., & Greenberg, B. D. (2015). Stepped care versus standard cognitive-behavioral therapy for obsessive-compulsive disorder: A preliminary study of efficacy and costs. Depression and Anxiety, 32(7), 441–449.

Stein, D. J., Kogan, C. S., & Atmaca, M. (2021). Obsessive-Compulsive Disorder and Trauma: From Neuropsychology to Treatment. Journal of Obsessive-Compulsive and Related Disorders, 28, 100619.

van Balkom, A. J., de Haan, E., van Oppen, P., Spinhoven, P., Hoogduin, K. A., & van Dyck, R. (2013). Cognitive and behavioral therapies alone versus in combination with fluvoxamine in the treatment of obsessive compulsive disorder. Journal of Nervous and Mental Disease, 201(3), 211–217.

Zhang, T., Wang, J., Yang, Y., Wu, Q., Li, B., Chen, L., Yue, Q., Tang, H., & Yan, C. (2017). Abnormal small-world architecture of top-down control networks in obsessive-compulsive disorder. Journal of Psychiatry & Neuroscience, 42(6), 363–371.

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Escrito por

Rodrigo Koroviski

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