Relacionamento abusivo: o relato de quem viveu um amor que rebaixa

Já é uma luta conseguir identificar um relacionamento abusivo. Mais difícil ainda ser capaz de romper as amarras e sair dele. Acompanhe, a seguir, a história de quem conseguiu recomeçar.

3 JAN 2018 · Leitura: min.
Relacionamento abusivo: o relato de quem viveu um amor que rebaixa

Conheci o Guilherme em um período delicado da minha vida... Eu estava estressada, cursando o último ano da faculdade, e tendo que trabalhar em período integral. Além disso, havia acabado de terminar um relacionamento com um colega de trabalho, e ver meu ex todos os dias só fazia aumentar a dor do coração partido.

Foi aí, no meio de tantas lágrimas, que conheci o Guilherme. Ele era um cara legal, que aparentava ter boas intenções e falava de um futuro ao meu lado. Tudo corria bem naquele processo de se conhecer e de conquista, mas meu estresse aumentava drasticamente em função de tantos afazeres. Sem conseguir controlar, demonstrava estar ridiculamente frágil diante do meu novo namorado, e foi então que ele começou a mudar...

Eu sofria de depressão e ansiedade, e por muita ou pouca coisa, ele gritava comigo, questionando a razão de eu estar sempre tão triste, tão imprestável... Sua voz alta entrava pelos meus ouvidos e causava um verdadeiro estrago dentro de mim, a ponto de eu sentir, ainda hoje, as infinitas cicatrizes "invisíveis" que carrego.

As brigas se tonaram frequentes, em alguns momentos eu vivia um verdadeiro terror. Mas, ainda assim, havia muitos momentos bons, o que me fazia prosseguir com o relacionamento.

Após algum tempo de namoro, decidimos morar juntos, e o que deveria ser um momento feliz, um passo importante no relacionamento, não foi. Os episódios de raiva ficaram cada vez mais frequentes.

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Guilherme gritava comigo por quase tudo que eu fazia. Por eu perder muito tempo cuidando da casa, por fazer amizades com os vizinhos... se eu reclamava por acordar com o barulho de seu vídeo game de madrugada, eu era taxada de agressora, insensível, insuportável e tudo mais que sua imaginação conseguisse pensar.

Não tenho qualquer noção de quantas vezes me refugiei por horas no banheiro, trancada, na tentativa de encontrar algum tipo de segurança, para ganhar tempo para mim mesma. Enquanto não conseguia conter as lágrimas, questionava o porquê de eu ser tão ruim, ou o porquê de eu ser alvo de tantas ofensas e explosões de raiva.

Não é fácil entender que se trata de violência contra a mulher

Era difícil entender por que alguém tão engajada em causas contra a violência da mulher como eu estava sendo conivente com toda essa história. Afinal, eu continuava nessa relação, vendo como minha vida ia se transformando (para pior). Muitos anos se passaram e, de repente, me vi enclausurada dentro da minha própria tristeza, vítima constante de agressões e reproches.

O tratamento de depressão se estendia há alguns anos, e chegou numa fase do relacionamento que era latente controlar as crises de ansiedade. As feridas emocionais e as péssimas lembranças só serviam para temer uma explosão. Eu agia na defensiva, reagindo com agressividade a qualquer comentário que viesse dele, e isso só causava mais brigas e discussões.

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Desde menina eu sonhava em ter uma vida feliz, mas a verdade estava estampada para quem quisesse ver: meu relacionamento com o Guilherme só me entristecia, e estava me afundando cada vez mais em minhas próprias lamentações.

Sair da inércia é um processo

Pouco a pouco fui reconstruindo minha autoestima e comecei a perceber que sempre que saía da minha própria casa eu me sentia aliviada. Fui me dando conta de que eu temia a chegada do final de semana, pois passaria longas horas dentro de um quarto.

Fui me dando conta de que não é possível viver me sentindo uma prisioneira, de que eu não concordava com as falas dele, nem com as acusações. Por isso, não as devia tolerar.

Fui me dando conta de que relacionamento é feito de duas pessoas e não de uma, por isso, para melhorá-lo, apenas o meu envolvimento não bastaria... se o outro não entendesse a violência como problema, seria uma grande tolice tentar convencê-lo do contrário. Relacionamento se faz de parceria, consenso e muito respeito.

Me senti em uma guerra por muitos anos, perdi a maioria das batalhas... mas, hoje, o pouquinho de autoestima que reconstruí é suficiente para que seja possível levantar a bandeira branca: não existem ganhadores ou perdedores. Apenas quero seguir meu caminho, e sentir que posso respirar fundo em qualquer lugar que eu esteja.

O Guilherme nunca me agrediu fisicamente, e nem por isso deixo de reconhecer que vivi um relacionamento abusivo. Não permita, valorize-se. Você pode!

Amor que rebaixa é dor. Nunca se esqueça disso.

Você que está passando por um relacionamento semelhante... reflita:

  • Ele te ama... mas está sempre de mau humor.
  • Ele te ama... mas sempre grita com você.
  • Ele te ama... mas quem elogia você são sempre os seus colegas, ele mesmo nem nota, ou pior, critica.
  • Ele te ama... mas, na perspectiva de futuro que ele oferece, você não se vê feliz.

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Pode ser que ele ame você, sim. Mas será que o amor que ele tem para oferecer é o amor que você busca para você?

Relato real de Maria do Carmo (nome fictício)

Sobre os relacionamentos abusivos

A dinâmica de um relacionamento abusivo depende da combinação dos parceiros: de um lado um parceiro dominador, e muitas vezes agressivo, do outro alguém com perfil submisso, e que sofre de baixa autoestima.

Nem sempre a vítima possui esse perfil, mas o parceiro dominador vai envolvendo a parceira ou o parceiro no seu jogo, e através da sua agressividade, muitas vezes expressa com sutileza, com comentários em tom de voz agradável, vai minando a autoestima da vítima. Ela se sente impotente diante das decisões de sua própria vida, e ainda começa a acreditar que o parceiro é quase indispensável.

A busca por apoio profissional é essencial, já que, apenas através do acolhimento, autoconhecimento e fortalecimento emocional, será possível fortalecer a autoconfiança e reunir a força necessária para a tomada de decisões e imposição de limites.

Além do empoderamento, falar sobre as questões que envolvem a escolha do parceiro, refletir sobre a manifestação dos primeiros sinais de violência, também permite prevenir o início de relacionamentos com perfil semelhante.

Colaboração: psicóloga Maitê Hammoud

Fotos: por MundoPsicologos.com

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Comentários 14
  • CLARA STROBEL

    Hoje falando com a minha terapeuta percebi algumas atitudes tóxicas do meu namorado, estou passando por tratamentos para depressão e sai da casa da minha mae por que ela me agredia e tive que pedir socorro para policia, mas o Isaac desde entao nao me apoiou nas minhas decisões e sempre fica bravo falando para eu voltar para aquela casa onde constantemente tinha agressão, ele nao ajuda a pagar os gastos nos restaurantes e nas saídas para o mercado e farmácia, ate para necessidades pessoais ele nao se oferece para pagar, ultima vez que sai com ele tive muito medo por que ele nao me trás tranquilidade. ele tenta controlar o meu dinheiro e nao me deixa sair com as minhas amigas, ele nao respeita a minha privacidade e me persegue em tudo que é lugar.

  • Lorraynne Silva

    Bom... Vivi morando junto por 3 anos e casada a 1. No começo eu precisei fazer uma cirurgia e até vender seu vídeo game pra me ajudar a pagar fisio fez. Foi passado o tempo e eu comecei a correr atrás das minhas coisas e percebi que não poderia contar com ele financeiramente, pois sempre me deixava na mão. Os meus sonhos eu compartilhava com o mesmo me apoiava passava 3 meses me jogava pra baixo.. Ele caiu e ficou 3 meses sem trabalhar e eu segurei tudo sozinha. Disse pra ele tô cansada quero estudar e mudar de vida pq se não eu vou ser piao por resto da vida e pedi o mesmo pra me ajudar a pagar o curso de Enfermagem. Me programei toda! Aluguei meu apartamento pra não precisar ficar pagando conta e prestação, voltamos a morar em uma casa na frente da mãe dele onde não se tem gastos. O primeiro mês foi uma maravilha, segundo mês começou a me chantagear se não fosse do jeito dele não ia pagar meu curso e etc..... Cheguei toda feliz falando se eu mantesse a minha nota a 75% tinha chances de um estágio melhor no Unimed e ser contratada direto. Depois disso ele parou de pagar meu curso e disse que se eu ganhasse mais do que ele, eu iria humilhar ele. Desde então eu comecei ver o relacionamento abusivo que vivi e não via. Não compra um sabão de barra e Bombril pra ariar o fogão e eu parei de comprar pois a intenção era eu ficar tranquila até forma. O mesmo me defama com mãe, pai e etc de porca. Se meu pneu furar na rua qualquer um me ajuda, menos ele. Me deixa sem nada dentro de casa e vai comer na mãe. Recentemente recebi meu diagnóstico de TDAH e o remédio custa 436,,00 com 28 cápsulas e até regular a dose pra mim entrar com ação no meu estado pra conseguir de graça vou ter que pagar virou pra mim e disse que o problema é meu que não iria me ajudar. Juntou eu minha mãe e meu pai e compramos o remédio e minha vida começou a mudar, comecei a ficar menos ansiosa, mais focada, terminar tudo que começo a fazer, etc.... Isso pra ele foi a gota d'agua pra começar a me humilhar mais e mais por whatsapp e depois sair apagando as conversas e chegando em casa como sempre tivesse a razão. Esse homem me fez tão mão que engordei 20kg , e percebi que a maioria das minhas crises de ansiedade e de TCA(transtorno compulsivo alimentar) vinham por causa dele e do tratamento que vinha recebendo. Quando queria sexo ..... Nossa ficava quieto, fazia tudo que eu gostava. Eu saio de casa às 8 volto às 16 pra almoçar saio às 18:40 e volto 23 horas peço pra fazer um arroz pra mim ajudar e ele dormindo até 13 da tarde..... O mesmo não faz e vai comer na mãe. Os meus apelidos do mesmo moita, insuportável, incompetente, porca, imunda, gorda, não sei fazer nada sozinha, autista, imperativa, etc.... Meu apartamento está alugado em contrato caso pedi antes tenho que pagar multa, o inquilino é muito gente boa e ele lá eu consigo estudar E preferi vim pra casa do meu pai e da minha mãe que mesmo sendo chatos em quesito rotina e tudo do jeito deles me amam e nunca me abandonam do que está me sujeitando a isso por uma pessoa sua não tem coragem de comprar um pão pra mim comer. Está recente isso e ainda não terminei de vez. Porém está próximo. Posso passar o aperto que for, assim que acabar o meu contrato de aluguel vou voltar pra minha casa. Durmo no carro de preciso, nos meus pais, mas pra lá eu não volto!

  • Viviane santos

    Eu vivo um relacionamento abusivo.nem fazia ideia que isso existia. eu sempre a errada na história.vivo triste sem ânimo. Ainda não conseguir sair desse relacionamento nem sei como sair ! Mais não perco a fé que um dia vou conseguir! Desculpa as poucas palavras estou muito triste e magoada por aceitar viver assim.

  • Patrícia Roberta

    Me identifico totalmente com seu relato. Acabei de sair de um relacionamento, o qual me dei conta neste exato momento que era abusivo emocionalmente. Estou estagnada pensando em como vivi isso por longos anos. Recentemente, quando percebi que estava sendo oprimida e vivia em uma prisão monitorada, percebi que não merecia aquilo, comecei a me impor, comecei a enfrentar. Daí as coisas desandaram. Ele não aceitou ser contrariado. Houve agressão fisica de ambas as parte e a separação. Espero que ele não me procure!

  • jeh

    Obrigada por exporem esses textos de vidas reais, estão me ajudando muito a entender o porque venho sofrendo tanto há alguns anos, vi que estou também em um relacionamento abusivo.

  • Aniger Silva

    Eu por mtos, mais de dez, indo e vindo c um cara, aparentemente mto legal, grntil, educado, inteligente... mas dependente químico, n pode beber nada que deve ser dominado pelo mal. Faz tratamentos e aparece "perfeito" c desejo de família, estabilidade e viver uma relação de verdade sempre querendo ele novamente. Mas qdo "recai" agredi total verbalmebte coloca no lixo, e fisicamente não com as forças dele p machucar... mas tb agrediu. Conheci ele minha filha tinha 1 ano e era mãe solteira, hj ela c 13 e eu ainda c esperança dessa relação caí de cabeça... teve uma recaída e foi horrivel, minhs filha pedindo p voltar p cs da vó, e eu ainda acreditando pedindo p ela mais uma chance... que seria a última, no outro dia pedi perdão, que n lembra de nada... mas no segundo ja volta novamente bêbedo e fazendo pior, verbalmente humilha xingando de vários nomes, dizendo que amo um outro ex, bordando a pior pessoa do mundo na versão dele... sobre um passado que vivemos a 10 anos atrás. Enfim isso foi ontem, pedi ajuda p meus pais que me retiraram da cs dele e estou na minha mãe. Detalhe de que ele é total dependente da mãe, e qdo desta última vez que fui morar c ele, ela me rejeitou, não tem amor por mim. Com isso "invandi" a cs dela, e tudo que era a meu favor eka implicava. Creio até que nossa relação foi um pé p recaída dele. Mas tb creio q independente da historia temos que ser maduros e termos objetivos... falava p ele, vamos trabalhae juntar grana e alugar nossa cs... mas tb creio que essa cobrança p ele foi pesada. Talvez tenha se achado incapaz. Obrigada

  • Anilsky Rebeka

    Olá! Eu poderia usar esse texto como inspiração para um peça que irei fazer sobre o relacionamento abusivo? E irei fazer algumas alterações.

  • Esther

    Que história inspirado. Estou juntando meus pedaços para sair de um casamento horroroso. O medo tem sido meu maior impecilho. Resolvi escrever um diário contando o que se passa numa família de aparência. Enquanto escrevo me fortaleço, porque depois que o pico da crise passa, tendo a esquecer. Mas eu não quero mais esquecer, quero ir embora.

  • Mônica Gruminni

    Vivi um relacionamento abusivo e não percebiia. Ele foi meu primeiro relacionamento sério, de frequentar a minha casa e meu grupo de amigos. No início era tudo de bom, saíamos, nos divertíamos com nossos amigos, estávamos sempre juntos, depois de dois anos não queria mais sair comigo,, quando saía era pra brigar pois inventava situações pra me levar pra casa e depois voltar sozinho pra festa, se via que eu estava me divertindo fechava a cara, me traiu várias vezes não saía comigo, e ainda ficamos juntos por 5 anos e meio, brigava e voltava, sempre...Até que um dia me cansei das grosserias, dos maus tratos e então pedi um tempo, ele disse que tempo não existia e se fosse assim era melhor terminar (com a cara de deboche de sempre). A raiva era tanta que terminei , não suportava ouvir a voz dele. Foi um custo sair fora, ele me perseguia, ia na minha casa como se nada tivesse acontecido, deu vexane na frente dos meus amigos de trabalho me arrastando pelo colarinho da jaqueta e me forçando a conversar com ele (Que veronha senti...), ligava me ameaçando, me seguia, eu tinha medo! Até que depoi de 3 anos e meio comecei a namorar um ex ficante do tempo de ginásio na escola e mesmo sabendo, ele continuava me procurando e eu firme (claro) a essa altura queria nem saber dele ...Depois de um tempo ele perseguiu o rapaz e quis brigar tentando intimidá-lo a terminar comigo, mas, meu atual foi firme, levou o caso na justiça pediu medida protetiva e finalmente ele me deixou em paz! Continuei o namoro com o ex ficante e hj estou casada com ele e Graças a Deus, muito, muito feliz pois é carinhoso, companheiro, me apoia em todas as questões e está sempre comigo. Vivo um relacionamento saudável!

  • Rafaela

    Aconteceu exatamente comigo... Meu ex me criticava o tempo todo, nunca me elogiava, me comparava com todo mundo (eu sendo bem pior que qq pessoa,claro), pra ele eu era péssima em tudo que fazia, tudo. Toda conversa que a gente tinha ele era o dono da razão e eu era uma burrona que não lia e não entendia nada. Ele era o pica das galáxias em tudo, eu uma anta. Gritava comigo. Fazia tortura psicológica e chantagens emocionais o tempo todo. Sempre, SEMPRE revertia a situação pra me fazer sentir culpada, maioria das vezes nas brigas que ele mesmo criava (por motivos idiotas). Tinha ciúme. Não podia conversar com nenhum amigo que ele questionava. Me stalkeava em redes sociais. Até o dia em que colocou a mão na minha cara no meio da rua, todo mundo vendo. A partir dali eu dei um basta. Ele ficou desesperado, resolveu procurar psicólogo, aí até que voltamos... Mas nunca mais foi a mesma coisa. Até que ele deu uma mudada msm, parou de humilhar, mas sei lá... Eu não acredito em mudança repentina e tudo já tinha perdido o brilho de qq forma... Terminamos de novo, voltamos, terminamos de novo e agora acabei de vez. Tô me sentindo livre!


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