Pais alcoólatras: as marcas emocionais que ficam nos filhos

O alcoolismo é uma doença grave, que afeta a pessoa e todos os que estão a seu redor. Entenda como são as feridas deixadas nas crianças e adolescentes inseridas neste contexto.

16 DEZ 2018 · Leitura: min.
Pais alcoólatras: as marcas emocionais que ficam nos filhos

Você sabia que o Brasil é o terceiro país das Américas com mais mortes de homens causadas pelo álcool, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)? Além disso, a tendência de consumo é progressiva, colocando o alcoolismo entre os principais problemas de saúde pública.

A síndrome de dependência do álcool, como está conceituada na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), não afeta somente a saúde física e emocional da pessoa; também deixa marcas profundas em toda a família, especialmente em crianças e adolescentes em processo de desenvolvimento, que são obrigados a conviver diariamente com os efeitos do consumo excessivo de álcool nas dinâmicas familiares.

Carga negativa

As relações afetivas são as primeiras a sentir o peso da dependência. Em função da quantidade de mal-estar, conflitos e sofrimento provocado pelo dependente quando esse chega em casa, uma vez mais sob os efeitos do consumo excessivo do álcool, não demora muito para que seja visto como um problema por todos os que integram o núcleo familiar.

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O alcoólatra desperta o medo. A família que teme por todas as situações marcadamente negativas que será obrigada a enfrentar com a sua presença. E, em crianças e adolescentes, tudo isso é ainda mais difícil de processar.

Algumas das consequências mais habituais em filhos de pais alcoólatras são:

  • incerteza contínua que provoca angústia
  • sentimento de impotência diante da situação familiar
  • dificuldade para confiar nos demais
  • autoconfiança desestabilizada
  • baixa autoestima
  • sentimento de culpa (o dependente muitas vezes culpa os filhos pelo vício, e eles acabam introjetando esse sentimento)
  • aspereza e distanciamento (a criança ou adolescente prefere se isolar para não se decepcionar nas relações)
  • autocrítica excessiva
  • falta de perspectiva de futuro

Feridas abertas

Como o quadro de alcoolismo é crônico e as manifestações de violência física e psicológica costumam ir se acentuando, é muito difícil que essa criança ou adolescente consiga curar as feridas deixadas em sua essência e na forma de relacionar consigo e com o mundo ao entrar na fase adulta, sem que haja a intervenção de um profissional.

Todas as consequências listadas anteriormente vão corroendo a estrutura deste indivíduo, que:

  • se transforma numa pessoa instável
  • alimenta comportamentos impulsivos /ou compulsivos
  • tem dificuldade de terminar os projetos que inicia
  • encara as coisas com um excesso de seriedade, tendo problemas para reservar momentos para a diversão e o prazer
  • desconfia dos vínculos sentimentais e rechaça a ideia de criar sua própria família

Todas essas crenças e comportamentos precisam ser compreendidos e ressignificados. A pessoa, para superar o trauma e curar as feridas deixadas pela convivência com um alcoólatra, precisa entender o que a trouxe até o presente momento, algo possível e alcançável com a ajuda de um psicólogo.

Para apoiar crianças e adolescentes que ainda estão inseridos num panorama de abuso, é fundamental empatia e apoio. Cada pessoa processa essa experiência de forma distinta, e é fundamental estimular o diálogo, mas também saber respeitar o silêncio.

Conversar sobre o que sentem, começando por sua própria experiência, é bastante recomendável, porque ajuda a criar um vínculo de confiança. A criança ou adolescente estará mais propensa a se abrir se você demonstrar que também confia nela.

É fundamental compreender que o alcoolismo é uma doença; que o dependente, por mais responsável que seja por todos os conflitos e sofrimento causados, também precisa de apoio. Há programas específicos para enfrentar esse tipo de situação, com terapia de grupo tanto para dependentes como para os familiares. O fornecimento de informações que proporcionem a criança ou adolescente a compreensão do alcoolismo como doença otimiza as chances de que ela não atribua a dependência de seu progenitor a características pessoais como possíveis decepções ou motivação de frustrações. Além disso, o diálogo consciente minimiza as chances do desenvolvimento da dependência no futuro ou a busca por um parceiro dependente. De maneira consciente ou inconsciente, crianças e adolescentes que são expostos a dependência de um dos pais pode favorecer estes comportamentos na tentativa de compreensão das razões que levou a aquisição do vício, aproximação dos progenitores ou então, reparação de seu passado em um relacionamento que remeta a mesma dinâmica.

Não queira enfrentar um problema assim sozinho. Tudo é mais fácil quando você compartilha sua carga com os demais, principalmente se tratando de uma grave doença como o alcoolismo que leva a sérias consequências físicas, emocionais e sociais, tornando indispensável o acompanhamento profissional.

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Comentários 42
  • Marcos Antônio Schmitk

    Neste 21 de abril de 2024, domingo; vivenciei pela 6 vez o bate-boca feio entre o meu pai e minha mãe. Eu cheguei a gritar com os dois. Eu sou o filho jovem; Marcos Antônio Schmitk de 23 anos, e já presenciei a chegada de uma viatura policial com três membros da PM em nossa residência. Nem ele e ela foram a delegacia, apenas chegaram ao acordo mas com pouco efeito. E hoje, a PM chegará daqui a pouco em nossa casa para mais uma visita. Eu com 23 anos de idade, jamais bebi, nunca fumei e tenho uma saúde bom. E me causa desespero ver meu pai e minha mãe na bebida praticamente todos os fins de semana, e aquela sensação de que o pior, a tragédia em minha está prestes a acontecer; apenas Deus em nossa causa, para me confortar e eu buscar a Deus neste momento assombroso.

  • Ana Santana

    Eu tenho 32 anos, sempre morei com o meu pai, pois a minha mãe foi embora e deixou eu e o meu irmão. Sou a mais velha e vivi toda a minha infância e parte da adolescência com a angústia de ter um pai que bebia sempre, tive que crescer muito rápido, perdi essas fases da vida e tinha inveja dos meus amigos que tinham uma vida normal e feliz. Senti na pele o sentimento de pena que os meus parentes tinham em relação a mim e ao meu irmão. Além de beber, meu pai tomava remédio para convulsão, e quando passava muito tempo bebendo tinha crises, cresci traumatizada. Hoje aos 62 anos, ele resolveu que depois de parar de beber por cerca de 12 anos era hora de voltar, revivi tudo de novo ao vê-lo tendo convulsão, pensei que ele ia morrer ali na minha frente. Hoje tive minha primeira crise de ansiedade, pois ouvi o telefone tocar, era só a operadora de celular. Parecia que tinha um tijolo sobre o meu peito, respirar era difícil e eu não conseguia parar de chorar.

  • barbara guimaraes

    Todos os comentários que li me identifiquei. A gente sofre sozinho. Fingindo para todos os parentes que estamos bem. Mas só quem mora com um pai ou mãe alcoólatra pra saber o inferno na terra que é. Não sabemos como agir. Muitas vezes se enterramos nesse lixo todo fingindo que nada acontece. Passando vergonha e medo em toda reunião de família. Porque na certa o fiasco vai acontecer. Se tocarmos no assunto a gritaria e o melodrama surgem como um subterfúgio da vítima alcoólica. E vamos nos sentindo frustrados e culpados. E deixando nossas vidas dilaceradas e sem perspectivas… sobrevivendo e nos anulando a cada dia.

  • Maria Helena

    Eu fui uma criança que cresci com meu pai no alcoolismo muita brigas muita miséria vendia nosso único alimento muito agressivo depois minha mãe se entregou a bebida também hoje convivo com meu irmão levei ele no aa mas ele não admite que é doente é difícil muito

  • ... santana

    Eu estou nesse momento me sentindo extremamente cansada. Pensando no quanto eu queria simplismente deitar e dormir depois de um dia cansativo de trabalho, mas uma coisa tão normal e simples nao me é possivel, porque não tenho paz pra isso. como é dificil se manter de pé tendo que viver desse jeito, meu Deus, ate quando? Eu so queria descansar pra poder ir trabalhar no dia seguinte não me sentindo tão mal, esgotada. Como pode existir um ser que cause tanto mau a quem deveria cuidar e respeitar, a quem deveria proteger.È tão angustiante e desesperador viver assim. To me esforçando pra tentar continuar, mas é muito dificil você olhar ao seu redor e não conseguir ver que as coisas vão melhorar, que nada mudou a vida inteira. Gostaria de viver dias livres desse tipo de tormento, de não ficar preocupada em dormir e o pior acontecer.

  • TSS

    Tenho 26 anos e meu pai é alcoolatra, e é uma situação insustentável. Já fiz de tudo para ajudá-lo, levei em igreja, centro espirita, acompanhamento psicologico e psiquiatrico, e até internamos ele duas vezes. Na primeira internação ele conseguiu ficar 8 meses sem beber, depois voltou novamente. Na segunda internação uma semana após sair ele voltou a beber. Não tem parado em mais nenhum emprego, eu e minha mãe temos que sustentar a casa sozinhas pq ele não ajuda. Minha mãe tem "dó" de separar dele, e infelizmente não posso fazer nada, pois ainda não tenho minha idenpendencia financeira para sair de casa, e ela casou com ele mesmo sabendo que ele bebia muito. Ele não é uma pessoa ruim, não bate na gente nem nada, mas os traumas que a bebida causa é irreparavel. É vergonha, culpa, raiva um misto de sentimentos. E ele não faz nada para se ajudar, ja tentamos de tudo... é uma situação muito dificil.

  • Liindy santos

    Tenho 25 anos e não tem um dia que meus pais não briguem,por motivo bebidas meu pai é alcoólatra tá insuportável,minha meta de vida que eu imaginava que seria com essa idade era trabalhando e morando bem longe desse ambiente tóxico,mais infelizmente só trabalho e não tenho pra onde ir...pelo simples fato que tenho um irmão com paralesia celebral e tal...e como todos dizem minha mãe só pode contar comigo,mais eu queria cuida um pouco de mim,me apaixonar,casar e construir minha própria família...mais infelizmente não tem como,pra mim isso nunca vai acontecer,mi ha mãe já fala vai me abandonar(não só queria viver um pouco,sair desse ambiente tóxico), é tão triste ver minhas amigas saindo, viajando,se relacionando, construindo uma vida...e eu só observando uma coisa que jamais vai ser pra mim...só queria que meus pais percebesse que a responsabilidade não é minha,e sim deles que tem um filho pra cuida, não tô reclamando que cuido do meu irmão,mais tô apenas cansada...de pensar nos outros e esquecer de mim...Poxah eles vivem a vidas deles como querem e eu literalmente vivo a vida deles

  • José

    Sou o sétimo filho de um total de 8 filhos que minha Mãe teve, com a diferença de mais ou menos 3 anos de idade de um para o outro. Moramos no interior da cidade, em um lugar remoto, tem bastante pessoas no município, mas é uma área rural sem acesso a rede de operadoras e aqui não há emprego. Todos tem que ir arranjar trabalho na cidade, pois hoje em dia não é mais possível sobreviver de plantio. O primeiro filho morreu assim que nasceu. Meu pai, se é que se pode chamar disso, passou a vida inteira bebendo, nunca foi ausente em casa, passava o dia todo bebendo e voltava pra casa bêbado aos horrores. Estava sempre bêbado quando estava em casa, ou fora dela. Sempre batia em todos nós, em todos os filhos, mesmo antes de eu nascer, e minha Mãe, coitada, uma vida inteira sofrendo abusos emocionais e agressões físicas que até hoje deixam sequelas na sua saúde debilitada. Eu sempre fui um garoto que é aqueles que chamam de nerd na escola. Sempre fui um amante dos livros e do conhecimento desde que me conheço por gente. Infelizmente devido aos traumas por sofrer nas mãos de meu pai, acabei por desenvolver uma antisociabilidade, minhas notas começaram a cair na escola, me viciei em jogos desde muito novo na tentativa de fugir da realidade. No fundamental também sofri bullying e combinado ao sofrimento e tortura dentro de casa, por vezes pensei em me matar. Mas, como disse a vocês, sempre fui alguém muito lucido do valor da vida e também sempre tive e tenho tantos sonhos comigo que esse apego aos sonhos e a vida sempre me seguravam, infelizmente. Outra coisa que me segurava também é o medo de existir um inferno para quem se mata, sim, sou um crente da vida pós morte e da religião predominante enraizada em nós brasileiros, desde que nascermos. Eu tento não acreditar, mas o fato desse universo além da terra ser algo tão inexplorado, a incerteza me faz não desacreditar que é possível existir tal coisa. Queria eu ter força ou ser alguém mais sem noção e sem apego a vida, assim eu acredito que conseguiria fazer isso. Continuei crescendo nesse inferno ainda nessa mesma vida que lhes contei e atualmente, já um pouco mais crescido Por receber provocações diarias de meu pai que já não me bate mais (não por falta de vontade) mas querendo brigar comigo o tempo todo, me ameaçando, não tenho mais vontade de morrer, mas fico pensando em matalo com minhas próprias mãos e dar fim a vida dele o tempo inteiro. Como eu disse a vocês lá atrás, essa maldita da minha mente e consciência de tudo ao meu redor, crenças, sonhos, noção da justiça só brasil e meu amor a vida, essas coisas me param. Pois sei que se eu matalo, meus sonhos também morrem junto com ele. Ficava desejando que ele morresse para que esse pesadelo acabasse, mas parece que ele tem mais saúde do que qualquer pessoa, mesmo bebendo uma vida inteira. Os vizinhos que testemunham isso, riem e se alegram com a nossa situação e gostam de nos ver sofrendo nas mãos de meu pai. As consequências dessa vida foram e são terríveis para mim, pois não consegui e nem consigo progredir na vida. Parado no tempo, chego a pensar que esse é o meu destino, que vim a esse mundo apenas para sofrer abusos e torturas e morrer. A sensação é de que não importa o que eu faça, sempre as coisas vão se formar para que eu sempre falhe. Sempre conspirando contra mim. Chega a ser difícil respirar aqui, o ar parece estar a cada dia mais pesado. Não quero ter que matar ninguém para poder ser feliz, só quero paz. Não quero quer meus sonhos morram. Espero conseguir sair disso e viver e buscar meus sonhos de verdade. Torçam por mim, por favor. Torçam para que eu saia dessa situação. Se algum dia eu sair, tentarei voltar aqui para contar. E se eu não voltar, saibam que meus sonhos talvez possam ter morrido, junto comigo...ou com ele.

  • Ana Carolina Aguiar Vieira

    Eu já estou no ponto de rezar para que meu pai morra logo. Não tenho mais esperança alguma de melhora. Tudo que podia ser feito, foi feito, mas quando a pessoa não quer, fica impossível. Acho que só a morte dele vai livrar minha família desse sofrimento e livrar ele de fazer mal a outras pessoas, pq além de tudo fica todo mundo (família e até desconhecidos na rua) sujeitos a uma tragédia. Minha mãe é uma ex alcoolatra tb e tem medo de separar dele pq é dependente dele financeiramente. A vida de todos é um inferno! Espero que um dia minhas orações sejam ouvidas, mas capaz de todo mundo morrer de raiva, mas o infeliz continuar aí... Muito triste essa situação.

  • Hh

    Eu ainda estou aqui, não sei como estou conseguindo, mas infelizmente ainda não tive coragem o suficiente pra me proporcionar a paz que preciso. Mas eu me sinto cada dia pior, a angústia se torna maior a cada dia, o medo o cansaço a tristeza, e a ansiedade estão tomando conta de mim. Eu não consigo fzr mais nda. Quero acabar com isso


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