Medo, pânico e coronavírus

É importante ter presente a diferença entre medo e pânico na situação atual, quando muitas pessoas estão ansiosas frente ao coronavírus.

12 MAI 2020 · Leitura: min.
Medo, pânico e coronavírus

Quem nunca ouviu afirmações do tipo: não sobe aí, você pode se machucar! Leva um casaquinho, a noite vai esfriar! Leva o guarda-chuva que pode chover! Lava bem as mãos! Não dorme tarde! Escova os dentes! Quem passou pela infância ileso de tais comentários? O que esse tipo de comentário buscava? Sem dúvidas, objetivavam o nosso cuidado!

O medo é a nossa proteção numa série de situações. Caso não tivéssemos algum tipo de medo não teríamos resistido a certas doenças, a situações de perigo, a algumas alterações climáticas. O medo vivido e entendido como proteção frente a uma situação de perigo é importante à sobrevivência humana. O medo ocorre frente a situações onde nos sentimos desprotegidos, vulneráveis. Podemos afirmar que é fundamental ter medo! O medo tem benefícios.

Na situação de pandemia atual, é imperativo ter medo! O medo de contrair o coronavírus e o medo de uma internação hospitalar e o medo de morrer nos leva a comportamentos como: lavar mais as mãos, usar máscara, cuidar dos calçados quando retornamos para a casa, tomar banho, higienizar as compras que fizemos. É porque temos medo que nós cuidamos mais! Que nos preservamos!

Porém, o medo que é benéfico, o medo que impulsiona ao nosso cuidado ou proteção pode evoluir para o pânico. O pânico, ao contrário de promover um benefício, gera um sofrimento para muitas pessoas. Numa situação de pânico temos um sujeito paralisado, imobilizado ou muitas vezes descontrolado, tomando atitudes na emoção, sem razão.

Toda emoção é provocada! Seja a emoção provocada pelo medo que nos leva a proteção ou o pânico que nos deixa no descontrole emocional. A emoção é desencadeada por gatilhos, ou seja, são as ocorrências na realidade concreta, no mundo que provocam a afetação emocional. Dependendo da função, da importância que tem para nós as ocorrências vindas dessa materialidade ficamos mais ou menos afetados emocionalmente.

A pandemia instalada globalmente, que alcança continentes, países, cidades, bairros e nossas comunidades, desenvolve atmosferas de forte pressão e essa pressão pode gerar medo ou pânico. Afetações emocionais desde leves até muito severas, que provocam acessos emocionais de grandes proporções. É a nossa estrutura de personalidade que vai definir nossas possibilidades emocionais para lidar com esses contextos de pressão.

O homem é um ser em situação! Estamos em contextos familiares, profissionais, sociais, de amizade. Uma pessoa trabalha, estuda, frequenta academia, tem vizinhos, parentes, amigos, grupos. O isolamento social, o distanciamento social tão necessário neste momento, abala essas possibilidades materiais e humanas e tem levado muitas pessoas a terem um aumento da ansiedade.

A ansiedade advinda de contextos de pressão, pode vir acompanhada de sintomas como: dificuldades para dormir, agitação, dispersão, dificuldade de concentração, choro, hipervigilância. É comum alguns sintomas provocados pelo emocional se confundirem com alguns problemas físicos, como por exemplo falta de ar, dor no peito, respiração curta, sensação de desmaio, que ocorrem num acesso de pânico.

Diante de tal desordem emocional, provocada pela situação de pandemia é importante estarmos atentos aos nossos sintomas e buscar ajuda psicoterapêutica para compreender o que está acontecendo conosco. Os transtornos de estresse pós-traumáticos, bem como o sofrimento psicológico subsequente à exposição a um evento traumático é variável. O importante neste momento é ter ciência de que somos humanos, portando passíveis de medo e ficarmos atentos ao limite entre o medo e o pânico.

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Escrito por

Claudia Holetz

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