​Como o tabagismo pode aumentar o risco de ansiedade

Como o tabagismo pode aumentar o risco de ansiedade: O tabagismo é um dos principais responsáveis por morte e morbidade globalmente.

27 AGO 2024 · Leitura: min.
​Como o tabagismo pode aumentar o risco de ansiedade

As taxas de tabagismo são consideravelmente mais elevadas entre indivíduos com transtornos de ansiedade, e diversos estudos corroboram a ligação entre o tabagismo e distúrbios psiquiátrico.

Três modelos, que não se excluem mutuamente, podem explicar a relação entre ansiedade e tabagismo. Primeiramente, fumar pode resultar em aumento da ansiedade; em segundo lugar, a ansiedade pode elevar as taxas de tabagismo; ou, por último, tanto o tabagismo quanto a ansiedade podem ser influenciados por fatores de vulnerabilidade comuns.

Evidências mostram que pessoas com níveis elevados de ansiedade têm maior probabilidade de fumar. Diversos fatores foram propostos para explicar essa associação, incluindo o uso do cigarro como uma forma de aliviar a ansiedade (autotratamento) e a maior suscetibilidade daqueles com ansiedade a começarem a fumar em resposta à pressão social.

Além disso, o tabagismo parece aumentar o risco de desenvolver níveis mais elevados de ansiedade. Possíveis explicações para essa relação incluem os efeitos do tabagismo em neurotransmissores, na neurobiologia, na saúde respiratória e no controle autonômico, além dos impactos no desenvolvimento neurobiológico normal.

Status socioeconômico:

Por fim, foram identificados diversos fatores de vulnerabilidade compartilhados que aumentam a probabilidade tanto de fumar quanto de experimentar maior ansiedade. Por exemplo, o status socioeconômico mais baixo está associado a um aumento nos comportamentos de consumo de tabaco e à ansiedade.

Tabagismo e ansiedade:

A relação entre tabagismo e ansiedade é complexa, pois há evidências de que o cigarro pode reduzir a ansiedade em alguns fumantes. Por outro lado, os consumidores frequentemente relatam aumento da ansiedade após a cessação do tabagismo.

Os transtornos de humor e preocupação destacam a importância dos sistemas de neurotransmissores, do sistema imunológico, do estresse oxidativo e nitrosativo (O&NS), da disfunção mitocondrial, das neurotrofinas (NTs) e da neurogênese, além dos efeitos epigenéticos na patogênese. Todos esses sistemas são influenciados pela exposição à fumaça do cigarro.

Diversos estudos demonstram uma relação significativa entre o tabagismo e os transtornos de ansiedade. Pesquisas de base populacional também indicam que o tabagismo está associado ao aumento das taxas de transtornos de ansiedade ao longo do tempo.

Tabagismo ou exposição ao tabagismo na gravidez:

A fumaça do cigarro é reconhecida por ser prejudicial ao neurodesenvolvimento, e a exposição a essa fumaça durante as fases iniciais do desenvolvimento neurológico parece aumentar o risco de desenvolver ansiedade mais tarde na vida. Durante o início do neurodesenvolvimento, a exposição ao cigarro pode ocorrer de forma direta, como no caso do tabagismo na adolescência ou exposição em utero ao tabagismo materno, ou de forma indireta, como a exposição à fumaça ambiental.

A nicotina atravessa facilmente a placenta e alcança a corrente sanguínea do feto durante a gestação. A exposição à nicotina no útero tem sido associada a problemas comportamentais e sociais, indicando o potencial de alterar as trajetórias do neurodesenvolvimento.

Considerando a rápida taxa de desenvolvimento neurológico no útero, esses efeitos negativos provavelmente serão mais pronunciados durante esse período, mas também podem ocorrer em outros momentos de desenvolvimento significativo, como na adolescência.

Tabagismo ou exposição ao tabagismo na adolescência:

Embora a maioria desses estudos tenha sido focada em populações adultas, alguns mostram que o tabagismo durante a adolescência está correlacionado com um maior risco de desenvolver transtornos de ansiedade mais tarde.

Por exemplo, um estudo que analisou dados de adolescentes revelou que aqueles que fumavam diariamente tinham uma probabilidade significativamente maior de apresentar transtornos de ansiedade aos 24 anos, em comparação com aqueles que fumavam de forma não diária. Além disso, foi encontrado um aumento nas chances de desenvolver diversos transtornos de ansiedade em adultos que eram fumantes inveterados na adolescência.

Fumar também foi associado a um risco maior de surgimento de ataques de pânico e de transtornos relacionados à ansiedade. Além disso, a dependência da nicotina tem sido correlacionada com uma maior probabilidade de desenvolver distúrbios de ansiedade.

Conclusão:

Diversos estudos indicam que o tabagismo pode aumentar o risco de desenvolver níveis mais altos de ansiedade, embora ainda não haja confirmação definitiva dessa causalidade.

A patogênese dos transtornos de ansiedade e o agravamento dos sintomas de ansiedade parecem estar associados a vários sistemas, como neurotransmissores, o sistema imunológico, estresse oxidativo e nitrosativo, função mitocondrial e regulação epigenética. Ingredientes presentes na fumaça do cigarro, como a nicotina e outros produtos químicos tóxicos, influenciam esses sistemas. Esses efeitos podem, pelo menos em parte, explicar os mecanismos biológicos pelos quais o tabagismo pode contribuir para o aumento da ansiedade e oferecer uma base para futuras pesquisas.

A exposição à nicotina e outros componentes do cigarro pode impactar o neurodesenvolvimento, alterando as trajetórias de ansiedade, destacando a importância de reduzir a exposição ao tabaco durante a gestação, infância e adolescência.

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Escrito por

Jade Ellen de Medeiros Leite

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