Extrovertido e Introvertido

A psicologia Analítica de Jung trouxe muitas coisas importantes a nossa sociedade, algumas profundamente enraizadas em nossa cultura. Uma delas foi a divisão em extrovertidos e introvertidos

3 MAI 2016 · Leitura: min.
Extrovertido e Introvertido

A psicologia Analítica de Jung trouxe muitas coisas importantes a nossa sociedade, como os arquétipos, o inconsciente coletivo, e muitas dessas estão até hoje profundamente enraizadas em nossa cultura. Uma delas foi a divisão de direções da energia psíquica em nossas atitudes, das quais Jung dividiu em atitude introvertida e extrovertida, presente em todos nós em níveis diversos.

Pensando nessa divisão no espectro social, talvez você já tenha em algum momento pensado em qual lado está, se introvertido ou extrovertido. Bem, acho importante começarmos conhecendo um pouco sobre cada um deles e esclarecer alguma coisa sobre essas duas características.

A atitude extrovertida é, como o nome sugere, motivada pelo exterior da pessoa e dirigida normalmente primeiro para relações e fatos exteriores e mais objetivos. Pessoas extrovertidas são geralmente mais comunicativas, expansivas, práticas, às vezes do tipo "age primeiro e pensa depois". Em outras palavras, elas vivem as experiências externamente primeiro, para depois viver tudo isso e criar um significado internamente.

A pessoa extrovertida costuma ser muito bem vista na atualidade, por sempre aparentar estar feliz e radiante, ou se adequar ao social externo com muito mais facilidade que um introvertido. Vivemos numa cultura onde é dito que temos que o tempo todo estar felizes, então normalmente o introvertido acaba sendo visto como alguém que tem algo errado. A introversão não é uma doença, nem uma incapacidade social ou uma falha na formação da pessoa.

Normalmente vemos que crianças que são mais caladas, que preferem ficar no seu canto, normalmente são incentivadas e às vezes forçadas a "se soltar mais", a procurar amigos e sair de seu cantinho, seja em casa, com os amigos ou na escola. Mais adiante em suas vidas, caem nas classificações de envergonhadas, tímidas, sem iniciativa e comparadas de forma negativa e bem destrutiva, com colegas que parecem ter nascido para serem o centro das atenções.

O introvertido passa a ser aquele aluno que sabia a resposta de uma pergunta feita pela professora, mas preferiu não levantar a mão e responder, e o extrovertido acaba respondendo em seu lugar, sabendo a resposta ou não. Foi aquele que em alguma atividade de apresentação na escola, preferiu estar na plateia, enquanto o extrovertido preferiu os holofotes.

Quando cresce, se torna aquele adolescente que, por seus pais ou amigos, acaba sendo arrastado para uma festa da qual mal falou com alguém e ficou sentado apenas observando o movimento da algazarra. E como adulto, é aquele profissional que, por mais que esteja desempenhando um excelente trabalho, jamais irá dizer ao chefe, então se o mesmo notar, que bom, se não, tudo bem, quem sabe na próxima, enquanto um funcionário extrovertido optou pela autopromoção.

O introvertido geralmente é uma pessoa sensível que se sente confortável com apenas a própria companhia. Ele quer entender o que se passa a seu redor, mas não sente a necessidade de alardear suas opiniões. Entre um filósofo em causa própria e um alienado social, o introvertido se encaixa perfeitamente na primeira opção, mas dado a arbitrariedade e a necessidade compulsiva que nossas convenções sociais tem em querer classificar todos em algo, acaba quase sempre caindo na segunda.

É importante também não pensarmos que, obrigatoriamente, o introvertido é uma pessoa tímida, pois tímido é aquele que gostaria de mudar seu comportamento justamente por ter medo das consequências dele. Um introvertido pode eventualmente ser tímido, mas não necessariamente. Esses por sua vez, normalmente não tem essa necessidade pois não sentem falta de ser o que não são realmente, e nem tem receio de continuar sendo como são, sabem e gostam de ficar sozinhos em alguns momentos porque tem mais facilidade de ter a si mesmo como companhia.

O extrovertido, por sua vez, por vivenciar primeiro o que a sociedade coloca, pode ter um pouco mais de dificuldade nesse processo de internalizar, pois normalmente vemos o tipo de comportamento dito acima como algo ruim, pejorativamente chamado de "coisa de autista" muitas vezes, então é comum esse tipo de coisa ser visto como ruim e que deve ser evitado. Mas, por outro lado, o extrovertido não tem problemas em estabelecer mais contatos, se enturmar, correr atrás e agarrar oportunidades, lidar com convenções sociais que exigem exposição, algo do qual um introvertido teria muito mais receio de fazer.

Vejamos um exemplo do que nossa cultura nos coloca como imagens de referência. Nesse momento pare e pense na imagem de um líder hoje em dia, agora mesmo, e depois disso continue lendo. Imagino que quase automaticamente lhe ocorreu a imagem de alguém com muitos decibéis, decidido e quase estoico, que não para muito para ter ideias, mas que vai em direção de seu objetivo não importa o que esteja em sua frente, como um general que vai à frente de suas tropas direto ao ataque, tal qual o rei Leônidas, ou um Alexandre o Grande.

Bom, se foi algo perto disso que imaginou, é porque realmente esse é o padrão de líder mais idealizado hoje, mas acabamos na verdade confundindo liderança com autopromoção, exuberância e vaidade, algo que também não é necessariamente uma característica de um extrovertido, mas este estará sim, mais propenso a essa atitude.

E, nesse caso, o introvertido talvez não seja esse grande general, nem um grande líder político e orador (tentar melhorar esse segundo exemplo), mas se encaixaria perfeitamente naquele estrategista que faria um ótimo plano que levaria a vitória certa. Talvez não seja um Alexandre o Grande (usar exemplo diferente), mas talvez possa ser um Albert Einstein.

E falando em Einstein, podemos também citar alguns introvertidos que muitos podem conhecer e que fazem um sucesso gigante: Barack Obama, Chopin, Bill Gates, Steven Spielberg, J. R. R. Tolkien, Stephen King, o próprio Carl Gustav Jung, dentre muitos outros.

O que realmente importa no fim das contas não é se a pessoa é introvertida ou extrovertida, e sim elas terem consciência disso como sendo uma grande característica dela, e aprender a conviver consigo mesmo, sabendo que isso não é um defeito, mas algo extremamente positivo e que podem ser muito bem utilizadas no seu dia a dia.

Quando nos acostumamos a tocar o barco a vida toda até então de um jeito, talvez falar em trabalhar essas características, e até descobrir outras, pode ser visto como algo muito difícil ou até mesmo impossível, mas uma pessoa pode aprender como começar essas mudanças, e adequar isso a sua vida de modo saudável, por exemplo, estando em análise com um bom acompanhamento psicológico. Através desse acompanhamento, descobre-se que não precisamos ser mais um e menos o outro, mas que é possível ser uma média das duas coisas, ainda mais nessa questão que hoje é colocada de modo tão complicado e muitas vezes pejorativo.

Por mais que pareça que às vezes estejamos falando que um é ruim e outro é bom, o fato é que um extrovertido poderia aprender muito com um introvertido, e o mesmo é válido para o contrário, basta apenas deixarmos de nos ver como opostos e passarmos a nos tratar como complementares.

Será que devemos continuar pensando então se devo tentar mudar quem sou? Ou talvez se devo tentar me sentir melhor sendo quem sou? É hora de começarmos a parar de apenas copiar modelos prontos, e tentar ser nós mesmos um modelo a si próprio.

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Escrito por

Anselmo Cereza Psicólogo Clínico

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