É solitário andar por entre a gente

Pode-se falar de solidão tendo 749 amigos no Facebook? De onde vem essa solidão? Como isso surge na clínica particular?

11 MAI 2017 · Leitura: min.
É solitário andar por entre a gente

O ser humano é muito desprotegido.

Biologicamente ficamos em dependência dos pais de forma muito diferente do outros animais que em meses já podem até se reproduzir. Muitos dos pacientes que procuram a clínica hoje estão assim, buscando muito mais do que serem compreendidos, eles precisam ter alguém ao seu lado.

Recentemente o Buzzfeed publicou o seguinte artigo "14 coisas que os voluntários do CVV gostariam de te dizer" em que eles citam diversas vezes que a maioria das pessoas ligam por estarem sozinhas e precisando ser ouvidos. Na clínica, pacientes procuram um olhar, um auxílio para poderem existir e se encontrarem, pois indicam que o seu único desejo é o de não desejar. Isso não surge do nada: falhas no vínculo primário, traumas, adoecimentos... Várias razões podem gerar esses vazios, e quando adultos, seguem com esse espaço existencial sem significados.

Não há nada mais insuportável do que estar completamente ocioso, sem ocupações, sem prazeres ou diversão. Tudo que fica é o nada, o solitário, o vazio, a dependência e a impotência. Surge daí o tédio, o desânimo, a tristeza, a raiva... O aparelho mental trabalha no sentido de nos afastar daquilo que faz sofrer, isto é, afastando a frustração e tendo como companheiro o desejo.

Para lidar com isso, procuramos preencher esse vazio incômodo com a primeira coisa que vemos pela frente, sem perceber que é preciso entendê-lo, buscar seu significado. Essa fuga pode gerar uma série de comportamentos nocivos, como virar a noite em redes sociais curtindo fotos de pessoas que nunca conversaram, o consumo exagerado de bens materiais (numa tentativa de não se sentir sozinho e vazio, mas com um sapato lindo), ou mesmo o uso de substâncias psicoativas. Mas é preciso entender que este sentimento não é uma solidão, não é estar sozinho sem ninguém, é estar sozinho na multidão.

Mas e a solidão?

A solidão parece estar longe quando temos um relacionamento íntimo com alguém que amamos, ou com um grupo, pois assim acalantamos as carências e aquela necessidade de nos sentirmos desejados, e claro, a forma como isso irá acontecer.

O mal estar atual para mim é a falta de condições de se vincular com o outro, esse outro seu amigo, irmão, pai ou namorado, que nos transforma em pessoas. Não conseguimos mais contar nossa própria história, pois parece que ela não é nossa, ela é exposta para o mundo, e ainda assim, somos isolados no meu meio da multidão. Fugir da solidão constantemente significa abafar a oportunidade de crescimento interior, de poder escutar o que a nossa saúde psíquica precisa, sentir esta solidão para que possamos refletir nossa conduta e comportamento. Infelizmente fugimos da solidão devido à insegurança, e receio de que a solidão se torne uma constante na vida, como que se ficasse sem forças para sair dessa solidão.

Deixo como dica "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain", filme francês de 2002. Ele conta a história de uma solitária desde a infância que, com pequenos gestos, aprendeu grandes sensações. Para preencher sua existência, ela parou de imaginar o que acontecia com as pessoas para conviver com elas.

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Escrito por

Psicóloga Iara Giraldi

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