Como temos vivido a morte e o morrer? É preciso uma educação para a morte?

Acreditando que um dia será mais fácil falar de morte e morrer através de uma educação voltada para tal aspecto, dou asas ao meu desejo e de outros estudiosos a partir desse pequeno título.

30 MAR 2016 · Leitura: min.
Como temos vivido a morte e o morrer? É preciso uma educação para a morte?

Olá amigos! Como vocês se sentiram ao serem indagados por tais questões? E como a sociedade contemporânea tem se preparado para enfrentar tal questionamento? É necessário realmente preparar a todos e as futuras gerações para lidar com a morte o morrer e o luto? Ou podemos simplesmente ignorar que somos humanos e temos sentimentos e tais sentimentos não precisam ser expressos já que nos acostumamos a resolver nossas questões à mercê de nossa individualidade e egoísmo? Somos super-homens e supermulheres? E como tais não morreremos? Fomos esquecendo de morrer?

Pierre Chaunu, historiador francês, chegou à conclusão em seus estudos que esquecemo-nos sim de morrer. Segundo ele, ensaios e livros dos últimos vinte anos pouco falam sobre a morte, algo universal, inevitável e definitivo. A sociedade em geral e equipes de saúde ao não falar da morte e do morrer, ao não enfrentá-la e não estudá-la, encontram-se despreparadas para lidar com situações de luto e pesar.

Há muito tempo atrás a morte era vista como algo natural. Sendo a vida cíclica suas estações cintilavam a morte como o anúncio de um renascimento. Guerras e pestes na Idade Média traziam a morte como algo do cotidiano preparando naturalmente os fiéis para recebê-la, atestando muitas vezes seus desejos e preparando o seu próprio túmulo. Morrer continuava sendo algo desagradável, mas não inaceitável. Com seus rituais de personificação da morte, o esqueleto com sua dança e música macabra, dava a mão e hipnotizava a todos, inclusive as crianças, facilitando assim a dor e o pesar. Morrer era algo natural, familiar e por muitas vezes com boas refeições onde a família recebia o apoio dos mais próximos.

Seguindo esta linha de raciocínio, falar de morte e morrer nos deveria ser mais fácil, entretanto perdemo-nos no caminho. Talvez pelo surgimento de novas correntes filosóficas, um novo pensamento sobre o medo da morte sem transcendência, diminuição da espiritualidade, o fato do homem ter que enfrentar a angústia de sua finitude, ou simplesmente pela mudança na Idade Moderna da relação do homem com a morte. Em nossa cultura, atualmente a morte nos foi banida. Agora a tememos e não a queremos por perto.

Morre-se em hospitais e não mais em casa. É uma morte escondida e até negada. Comportamento vivenciado com a falta de cortejos fúnebres, viúvas de preto, crianças não autorizadas a velar seus familiares e a expressar seus medos e angústias. É proibido chorar, sofrer muito tempo. A morte não é mais familiar e o desaparecimento de um indivíduo já não afeta a sua continuidade. E esta negação da morte afeta cada membro da família tanto no sistema, quanto individualmente aumentando a dificuldade de lidar com os desafios que o luto proporciona. Quantos não sofrem com seus lutos adiados, complicados ou não autorizados?

Urge diante de uma sociedade tão afetada diariamente pela morte de milhares de pessoas de forma violenta, inesperada, ou até mesmo diante dos moribundos que lotam os hospitais, uma educação para a morte. Educar para a morte é preparar para a vida. Esta compreensão e conscientização de nossa finitude e da finitude do que nos cerca, nos permite estar livres e inteiros no presente. Ao tomar este caminho teremos uma visão completa do ser humano. A negação deste conhecimento e a ausência desta compreensão e apreciação pode levar a um sofrimento desnecessário, perda da dignidade e da qualidade de vida.

Através de uma comunicação clara e eficaz, base de todo conhecimento, conseguiremos facilitar esta compreensão sobre a morte o morrer e o processo de luto, proporcionando a expressão de sentimentos e as necessidades dos indivíduos e das famílias. E como levar a todos essa educação para a morte?

Com crianças a partir de três anos, através de inúmeros livros em nossa literatura filmes e respondendo sinceramente suas perguntas, iremos aos poucos introduzindo tal conhecimento, quer seja em casa ou na escola, sempre zelando em primeira mão pela curiosidade dos pequeninos.

De certo, se percebe a importância da escola na educação para a morte. Há que se ter uma instrumentalização teórica e prática do corpo técnico-pedagógico e também dos funcionários da instituição, com a finalidade de não contribuir para a negação e formação de indivíduos que não sabem lidar com a morte, o morrer e o luto.

Profissionais de saúde devem já desde a faculdade ter em seus currículos disciplinas voltadas para a morte e o enfrentamento de situações de perdas. Devem ser incentivados a trabalhar seus medos e angústias diante de sua própria morte e da morte de seus pacientes, aperfeiçoar estratégias de enfrentamento e manejo de suas próprias emoções e reconhecer quando precisarem de ajuda profissional. Ao se voltar somente para a cura de seu paciente, o profissional de saúde vê a morte como uma inimiga, algo que se deve silenciar. Deve sim, buscar a compreensão do que o outro sente o drama que o outro está vivendo. É necessário um trabalho constante em relação a seus sentimentos para que diante de seus pacientes a relação seja verdadeira, inteira, humanizada.

Ao abordar a morte e o morrer a mídia, parte tão bem interessada, deve trazer o tema de forma correta, possibilitando o debate e o aprendizado, e não simplesmente invadir as casas com notícias avassaladoras que vão exatamente na contramão do que a educação para a morte propõe.

Estudar a morte e o morrer deve unir a teoria com vivências e ser feito de forma a promover um processo de aprendizagem, autoconhecimento sem hora para acabar, levando a todos, principalmente às crianças e jovens, a possibilidades de desenvolver seus próprios recursos para falar sobre a morte, perguntar, tirar dúvidas, expressar seus sentimentos sem vergonha ou críticas diminuindo o isolamento e a dor que o assunto faz emergir entre as famílias, pessoas amigas e os profissionais. Ao estudar a morte o morrer e o processo de luto, proporcionaremos a compreensão de que o sofrimento não exige uma solução e nem uma resposta, mas certamente uma presença.

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Escrito por

Ana Cecilia Britto Freitas

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