Síndrome do pânico: o relato de alguém que recuperou o controle

​Quem não tem síndrome do pânico, dificilmente compreenderá como é ser tomado por um medo irracional. Neste artigo, você verá o relato de alguém que conseguiu retomar o controle da situação.

18 DEZ 2017 · Leitura: min.
Síndrome do pânico: o relato de alguém que recuperou o controle

É difícil mensurar em palavras as sensações que se experimentam durante uma crise de pânico. Para quem está de fora, compreender o que está sendo vivido por quem está na crise é muito difícil, quase impossível. Muita gente passa por situações similares sem se sentir ameaçado. Por que alguns simplesmente não conseguem?

Aparentemente está tudo normal e sob controle, e boom: explode a crise e, com ela, vem muito sofrimento e temor. Controlar o furacão de sensações e pensamentos é inviável. Sofri de síndrome do pânico e acredito que, ao relatar como aconteceu durante a crise que, pela primeira vez, me permitiu entender que era um caso de pânico, ajude a ampliar o conhecimento sobre o transtorno e aumentar a empatia naqueles que nunca experimentaram tamanha explosão emocional.

Hoje percebo, que desde a pré-adolescência, apresentava sintomas de ansiedade. Mas nada que pudesse ser entendido como síndrome do pânico, ou que causasse prejuízos significativos, a ponto de evidenciar a necessidade de buscar ajuda profissional.

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Até que um dia...

Nunca tive medo de dirigir, pelo contrário. Sempre adorei a sensação de liberdade que dirigir me dava. Eu tinha por volta de 21 anos quando comprei meu primeiro carro e, maravilhada com a sensação de autonomia, ganhei um pouquinho de excesso de confiança. Por falta de cuidado, bati em um carro estacionado a caminho do trabalho.

Felizmente não foi nada grave, mas desde aquele dia comecei a sentir um medo irracional e absolutamente incontrolável quando dirigia em rampas e ladeiras. Sempre que me deparava com uma ladeira (até mesmo as pequenas rampas de estacionamento), sentia tanto medo que parecia que iria me desintegrar a qualquer momento.

As mãos suavam, o coração disparava e sentia uma sirene de emergência a todo vapor dentro da minha cabeça. Ao detectar qualquer subida em meu trajeto, essas sensações se repetiam, e meu primeiro impulso era encontrar uma forma de desviar. Claro que desviar nem sempre era possível...

Muitas vezes, eu era surpreendida por uma ladeira e, sem chance de fugir, simplesmente ficava paralisada. Puxava o freio de mão, ligava o pisca alerta para que todos achassem que meu carro estava quebrado e desviassem. Fechava os vidros na tentativa de abafar um pouco o som das buzinas e ofensas. Quando não havia nenhum carro atrás do meu, eu finalmente conseguia seguir viagem.

Por muitas vezes tentei soltar o freio de mão nestas situações, mas a sensação era exatamente de estar congelada, como se meu corpo não obedecesse meus comandos. O pavor era tanto, que soltar o freio de mão em situações assim era sentido por mim como algo equivalente a apertar um botão de ativação de uma bomba capaz de explodir toda uma nação. Dramático, não? Mas absolutamente real.

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O simples ato de soltar o freio de mão em uma ladeira era, para mim, um ato altamente perigoso. Todas essas sensações ainda não eram percebidas por mim como síndrome do pânico. Para uma leiga, eu sabia que algo estava errado, mas pensava que se tratava apenas de um mal-estar.

Minha primeira grande crise

Era de manhã, estava a caminho do trabalho. Parei no farol vermelho do cruzamento de uma grande avenida e, do outro lado, a rua continuava como uma ladeira. Enquanto aguardava o farol abrir, meus olhos atentos em busca de perigos, rapidamente detectaram um caminhão extremamente pesado, que subia aquela ladeira enorme bem devagar.

Eis que a sirene interna dispara com força total. Comecei a viver intensamente as imagens de um desastre. Fiquei apavorada com a possibilidade de o caminhão tombar e, como em um filme, capotar da maneira mais terrível que se possa imaginar, rolando até o outro lado da avenida e, fatalmente, me atingindo. Foram apenas frações de segundos, e eu já estava vendo eu e meu carro como uma lata de sardinha que foi atropelada por um trator.

A sensação de perigo era tão intensa e real, que, estar ali, sem fazer absolutamente nada, era como aceitar assistir a minha morte.

Fui tomada por uma descarga de adrenalina, que me fez pensar rápido e decidi viver! Acelerei o carro, atravessando o cruzamento da avenida, que estava extremamente movimentada pelo horário, no afã de encontrar uma sensação de segurança. Sem cogitar riscos, para mim foi uma decisão de vida ou morte.

A falta de controle característica do pânico

A loucura do pânico é essa: é completamente irracional, não dá nenhuma possibilidade de controle. Você simplesmente sente aquilo como real, e toma atitudes diante da ameaça, exatamente como se tivesse que sobreviver a uma guerra.

"Que bobagem, isso é só psicológico." É o que as pessoas costumavam dizer quando falava dos meus medos. Você já imaginou se sentir assim? Você chegou a considerar, enquanto lê este relato, que dificilmente aquele caminhão desafiaria a gravidade, me esmagando do outro lado da avenida... mas a possibilidade de morte ou de um grave acidente era tão real que, sem medir consequências, decidi acelerar e passar no sinal vermelho, colocando não só a minha vida em risco, como a dos que estavam nos carros ao meu redor?

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Imagine a situação que você mais sentiu medo em sua vida. Agora imagine conviver com ela todos os dias. Será que é tão simples assim? Viver com síndrome do pânico é viver por um fio. Hoje, após fazer tratamento psiquiátrico e psicológico, não sofro mais de medos irracionais. E o mais curioso é que, quando estou diante das ladeiras que eram tão assustadoras, as vejo como sutis ou neutras. Definitivamente, minha percepção estava alterada naquela época, e tive sorte de conseguir sair.

Relato real de Fátima (nome fictício)

Sobre a síndrome do pânico

A síndrome do pânico é um dos transtornos de ansiedade. Provoca uma série de sintomas físicos e psíquicos, dentre eles:

  • tremores
  • taquicardia
  • sudorese
  • falta de ar
  • mal-estar
  • sensação de sufocamento
  • medo da morte
  • tontura
  • calafrios

No quadro, estímulos neutros são percebidos como perigosos e ameaçadores, levando ao temor pela vida. A sensação de perigo torna-se constante, e a ausência de tratamento adequado contribui para que as crises sejam mais frequentes e intensas.

Além de oferecerem riscos reais à pessoa, ao afetar o senso crítico e a capacidade analítica, também há prejuízos físicos, psíquicos e sociais, principalmente pelo fato de, ao se sentir vulnerável e impotente diante do controle da crise, o isolamento social tende a ser visto como uma escapatória, já que dá uma falsa sensação de segurança.

O tratamento multidisciplinar é o mais eficaz, aliando suporte psiquiátrico (estabilização dos sintomas físicos) e psicológico (compreensão das causas da manifestação dos sintomas e fortalecimento emocional). Quando feito da forma correta, o tratamento da síndrome do pânico permite diminuir, de forma gradativa, os prejuízos na rotina, favorecendo a qualidade de vida e a retomada das atividades profissionais e de lazer.

Colaboração: psicóloga Maitê Hammoud

Fotos: por MundoPsicologos.com

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Comentários 30
  • Isabel Aparecida Santos Bueno

    Sofro muito com muito pânico ...já não sei q fazer .. tomo desvenlafaxina vinte e cinco e rivotril e quetros mas mesmo assim estão constante medo de ficar sozinha sair rua e não tenho mais vontade de fazer atividade q fazia ...

  • Tina

    Vivi muitos meses depois que descobrir que era panico me curei gracas a Deus

  • rosi

    o que falta sao proficionais capacitados para atender a demanda, tendo em concideracao que isso e a doenca do seculo eu sofro desde 22 anos tenho 40 e as crises sempre vem e so jesus que la nos ceus nos ajuda

  • Rosimina Narcy

    Só quem sofre por isso compreende, tenho 26 anos, sou de Moçambique África , aqui o atendimento psicólogo e caro, sofro de ansiedade desde a minha infância, tive a minha primeira crise de pânico com 18 anos e até hoje ainda me persegue, grávida pela terceira vez, perdi a segunda no ano passado, tenho crises de pânico toda vez que vou a consulta, os hospitais São meus maiores gatilhos, ñ sei por quê, estou tão mal que fugi da última consulta por ñ conseguir controlar a crise, me sinto mal, e me vejo sem saída, e me pergunto como vai ser essa gestação , assim desse jeito, as vezes me sinto culpada por ter engravidado com esse problema de ansiedade

  • Mariana Lopes

    Gratidão por esse relato! Era o que precisava para ter mais segurança nesta noite, após várias crises durante o dia.

  • Ellis

    Sempre fui uma pessoa muito ansiosa, sofri vários episódios traumáticos na minha vida e até então sofria com a ansiedade mas de maneira controlável. Entretanto, há 4 meses eu fui molestada pelo ex namorado da minha mãe quando ficamos sozinhos em casa. Depois disso, sofri muito mas pude me recuperar. Achei que estava bem, mas há mais ou menos 3 semanas comecei a ter cada vez mais ansiedade, até que desenvolvi síndrome do Pânico. Agora, e nesse exato momento, sinto meu peito apertado e sintomas físicos que me apavoram. Tenho muito medo de sofrer um ataque cardíaco e morrer e essa sensação está me consumindo. Vou iniciar terapia e talvez tenha que recorrer à medicamentos pois não sei se consigo suportar sozinha. Passar tanto medo e desconforto tantas vezes ao dia, dói demais.

  • Mayara de souza

    Boa noite! Eu sinto muita náusea não consigo comer nada meu corpo adormece parece que vai parar meu coração despara sinto muita fraqueza minha cabeça dói sensação de morte me sinto sufocada me dá até falta de ar já fui no hospital já fiz exames e dá tudo certo a minha mãe falou que isso é coisa da minha cabeça já tive depressão e sempre tive ansiedade será que isso é ataque de Pânico ? Aguardo resposta obrigada

  • Rita de Cassia Nep Pereira

    Ola boa tarde meu nome e Rita de Cassia tenho 45 anos estpu sofrendo muito com a ansiedade extrema e a síndrome do pânico estou passando no psiquiatra mas me nego a tomar as medicações o medico nao me deu um diagnostico eu acredito que seja isso pelos sintomas fisicos que me fazem sentir muito medo de morrer

  • Felipe Rosa

    Bom dia , 2 meses atrás comecei a me sentir estranho, do nada quando eu saia de casa para um compromisso quando estava muito atrasado necessitando de tempo para fazer as coisas eu começava a ficar com os batimentos alterados, resolvi ir ao cardiologista e fiz um Eletro , o cardiologista m deu laudo de depressão , passou remédios e eu não tomei por que eu não m vejo com depressão , mas sinto que estou com síndrome do Pânico por que me identifiquei com todo relatos das pessoas que tiveram, estou fazendo exercícios físicos e quando o Pânico vem eu tento me acalmar o máximo possível , n sempre consigo , as vezes tenho que correr pra casa , queria saber se dá pra se curar da síndrome do Pânico sem medicamentos?

  • Magda

    Olá, boa noite, Marcela. Vi seu comentário e como falou que está grávida, também passei por isso na minha gestação, não tive crises, pois estava medicada, mas vivia com esse medo que a síndrome do pânico nos acomete. Meu psiquiatra não parou com a minha medicação e me garantiu que não afetaria meu bebê. Graças a Deus , deu tudo certo, hoje ele já está com 3 anos e 7 meses.


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