Medo, ansiedade, terror, pânico

O medo como emoção é necessário para garantir a preservação da espécie. Mas o excesso de estimulação da percepção de situações ameaçadoras pode levar a patologias ligadas a ele.

16 JUN 2015 · Leitura: min.
Medo, ansiedade, terror, pânico

Vivemos num mundo onde a notícia lembra desastre e violência. Nossos dias são recheados de atitudes que garantam a nossa proteção e a proteção das pessoas as quais amamos. Vivemos presos em condomínios cercados, buscando supostas formas de segurança, tentando nos adaptar a uma sociedade agressiva, que nós mesmos ajudamos a formar.

Mas quando o limite da adaptabilidade é ultrapassado o medo e a ansiedade advém, nos deixando em estado superalerta, gerando angústias e pânico. Para que serve o medo, afinal? Para quê ele existe em todos os seres que ainda permanecem na face da Terra? É normal ter medo ou é mais desejável não ter?

O medo serve para garantir a preservação das espécies. Em sua forma mais saudável, ele tem função protetora e nos pede para prestarmos atenção. É um sinal de alerta que, ativado diante de um perigo real, permite que nos adaptemos à situação, fugindo, lutando ou paralisando, dependendo da avaliação do organismo naquele momento, bem como de sua história pregressa.

Mas as crianças só manifestam comportamentos de medo a partir dos oito meses, coincidentemente ou não, a partir da idade em que começam a correr mais riscos, a estranhar as pessoas que não são familiares. Parece que isto já aponta para o fato de que, além das condições ambientais, o medo depende também da nossa capacidade de percepção e da nossa consciência da situação ameaçadora.

Além disso, as respostas ao medo não são precisas. São respostas de luta, de fuga ou respostas que visam ganhar tempo para garantir a sobrevivência. São reações rápidas, impulsivas e não elaboradas. Isto acontece porque a sede das nossas reações emocionais de medo é o sistema límbico, uma das regiões mais primitivas do cérebro. Através da nossa capacidade superior de elaboração e decisão somos capazes de respostas mais precisas ou elaboradas, através da capacidade que nos ajuda a modular as nossas emoções e melhora a nossa qualidade de vida, nos dando a flexibilidade que identifica a maturidade e a sabedoria.

Não podemos evitar o medo, já que ele tem função de preservação e é aprendido filogeneticamente, através da evolução da espécie e ontogeneticamente através da evolução do ser em questão. Porém, podemos aprender a regulá-lo através do neocórtex, pois graças a ele podemos decodificar as situações, avaliá-las e regular o medo. Isto melhora a qualidade de vida porque torna nossas reações mais flexíveis.

O medo provoca ansiedade, angústia, susto, terror e pânico. A ansiedade acontece quando a pessoa antecipa situações futuras. É um medo por antecipação, está associada à expectativa e ao pressentimento. Tanto na angústia como na ansiedade o objeto de medo está ausente. Num está no futuro, no outro está deslocado ou por lembrança, mas o pavor existe.

Na angústia, o objeto do medo está deslocado para algo aparentemente sem relação com o medo real, mas que o inconsciente, de alguma forma, relacionou por associação ou semelhança. A tendência à ansiedade está ligada a acontecimentos precoces na vida. As experiências da vida, mesmo aquelas que não são lembradas conscientemente, deixam marcas no cérebro.

Aprendemos a ter medo. Lembranças de agressões vividas, ou de acidentes; traumas de repetição, humilhações ou negligências vividas sem a possibilidade de controlar ou evitar a situação; ver com frequência um dos pais assustado; ou ter recebido uma educação que insistia em perigos, assimilando mensagens de precaução.

Nestes casos, o medo deixa de ter a sua função adaptativa e se converte em ansiedade patológica, ataques ou transtorno de pânico, transtornos de ansiedade social, transtornos de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo compulsivo ou estresse pós-traumático, entre outros.

O desconforto sentido com os sintomas físicos como taquicardia, sudorese, tontura, cólicas, enjoos, entre outros, e psíquicos, como irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia, dificuldade de memorização, é desgastante, e muitas vezes, torna a pessoa menos produtiva e até inapta.

Nas crianças, essas vivências se convertem em sintomas que aparecem desde uma leve agitação até o mutismo eletivo, podendo desenvolver quadros graves de doenças mentais. Muitas vezes seus quadros de resposta ao medo são confundidos e avaliados de forma inadequada pela precocidade, pela complexidade das vivências que envolvem as famílias que expõe as crianças, indefesas, e muitas vezes asintomatiza sem levar em consideração o peso de suas vivências.

Além disso, exposições constantes ao medo causam dificuldades de aprendizagem, já que o hipocampo, responsável por associar contextos, recuperar e fixar memórias, é sensível aos efeitos nocivos do cortisol presente nos estados de alerta que existem no medo.

Se você vive assim ou conhece alguém assim, procure terapia antes que se agrave. Afortunadamente, assim como o ser humano pode ser sensibilizado e aprender a sentir medo, também pode ser dessensibilizado e melhorar com tratamento psicoterápico e/ou medicamentoso nos casos mais graves.

Embora, é claro, situações extremas devam ser evitadas e a saúde mental preservada, essa dessensibilização é possível graças à neuroplasticidade do sistema nervoso. Nosso cérebro está em evolução contínua, constantemente exposto a experiências que o modificam. Dependerá de esforço e determinação durante algum tempo, mas podemos aprender a dominar o medo, ao invés de sermos dominados por ele.

Foto: por arkad83 (Flickr)

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Escrito por

Sandra Colaiori Psicologia

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