Amor patológico? Pode vir da relação com sua mãe

Uma relação desequilibrada entre mãe e filho, na que não há suficiente apoio e carinho, pode deixar uma lacuna emocional. Ela poderia culminar num quadro de amor patológico. Entenda por quê.

3 MAI 2016 · Leitura: min.
Amor patológico? Pode vir da relação com sua mãe

Uma boa relação entre mãe e filho é fundamental para o desenvolvimento da criança, ajudando a conformar rasgos da personalidade e a estabelecer comportamentos no ambiente familiar e social. Porém, quando há desequilíbrio, isso também afeta o caráter da criança. Um dos problemas que têm origem na relação mãe e filho(a) é o amor patológico.

A pessoa tem um medo terrível do abandono e não consegue evitar passá-lo a todas as relações. Assume uma postura controladora, dedica toda sua atenção à pessoa amada, esperando a mesma abnegação. O outro passa a ser a máxima prioridade e os interesses próprios ficam relegados a segundo plano.

E o que há de comum em que sofre de amor patológico?

Segundo a pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP, Eglacy Cristina Sophia, quem sofre deste problema tem uma personalidade vulnerável, marcada pela baixa autoestima. Normalmente, cresceram num ambiente de pouco carinho e apoio dos pais; por isso, há um caráter ressentido e com sentimentos de rejeição.

Para tais pessoas, a forma de suprir as necessidades emocionais do passado estaria justamente na possessão. Trata-se de um comportamento repetitivo e sem controle, quem sofre de amor patológico é impulsivo, compulsivo e incapaz de manter relacionamentos satisfatórios.

As origens do amor patológico

O adulto com um quadro de amor patológico teria experimentado, nos primeiros anos de vida, uma relação de insegurança com a mãe. A ansiedade provocada por uma separação iminente seria o desencadeador de um vínculo denominado pelos especialistas como ansiedade ambivalente.

Nesse caso, o que marca a relação mãe-filho é um quadro oscilante, entre estar disponível e atenta às necessidades do filho a usar a ameaça de abandono como forma de controlar a criança.

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Necessidade de controle

Em sua tese de doutorado, titulada "Desenvolvimento e validação de um instrumento para avaliar o amor patológico", Eglacy desenvolveu um estudo comparativo entre pessoas que sofrem de amor patológico e que estão em "relacionamentos saudáveis", para poder, através da aplicação de testes, reunir indicadores suficientes para criar uma "escala do amor".

A construção desse modelo permitiria melhorar a avaliação do quadro do amor patológico e otimizar os tratamentos oferecidos. De acordo com as conclusões da pesquisadora, o principal indicador da doença, segundo a escala criada, seria a repetitiva e excessiva necessidade de manter o parceiro sob controle. O indivíduo, mesmo consciente da insatisfação que o relacionamento traz, também insiste em manter a relação.

Independente da linha de pesquisa, há um ponto em que os especialistas coincidem: este padrão de comportamento, que encontra suas origens na infância, sem o devido tratamento, será arrastado por anos, afetando a capacidade de relacionar-se e ser feliz.

Quais os principais sintomas do amor patológico?

O amor patológico afeta homens e mulheres. Normalmente, quem enfrenta um quadro de amor patológico demora a buscar ajuda. Tomam a decisão quando já estão imersos em muito sofrimento, em função do término da relação com o parceiro.

Fique atento a alguns sinais que podem ajudar a detectar o problema:

  • a pessoa investe demasiado tempo em controlar a rotina e as atividades do parceiro;
  • sofre emocionalmente e fisicamente (tensão muscular, insônia, taquicardia) quando não está com parceiro;
  • a pessoa reclama constantemente do nível de atenção do parceiro e da falta de gestos de carinho e atenção;
  • a pessoa insiste em manter o relacionamento apesar dos problemas pessoais e familiares;
  • os esforços para controlar os comportamentos patológicos são ineficientes.

Se você se encontra em uma situação similar, peça ajuda e procure fazer uma terapia de casal. A terapia de casal é um procedimento altamente eficaz, em que a maioria dos casais que recorrem a ele sai das sessões com várias diferenças resolvidas. Não são poucos os casos em que há, inclusive, uma melhoria notável na convivência.

Fotos (ordem de aparição): por Acy Varlan e Anz-i (Flickr)

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Comentários 2
  • Tereza Simoni

    Me identifiquei com esse artigo. Consegui apenas nas explicações, revisar toda a minha vida e as consequências devastadoras que podem ter afetado a minha filha, hoje adulta. Fiz terapia por muitos anos com uma grande profissional, por quem tenho o maior carinho e admiração, mas não me curou em nada. Abandonei o tratamento há uns três anos. Pergunta: Tenho 60 anos, há alguma possibilidade de transformação da minha vida se eu retornar a terapia? Moro no Rio de Janeiro, gostaria de indicação de um profissional. Deixo aqui os parabéns pelo artigo de tão fácil interpretação

  • Rose Brandão

    ,,,mas...eu não usei " ameaça de abandono como forma de controlar a criança"! Não! Jamais! Todavia eu via que meu bb sofria muito por qualquer distanciamento de mim e eu também sofria e muito, porém precisei retornar ao trabalho! Eu sabia que eu estava diante de um bb do qual eu não podia me separar e tudo fiz para que as vezes dos distanciamentos ele estivesse em boas mãos. Como posso ajudar o filho agora que ele está demonstrando o amor 'patológico' descrito no texto? Vejo a esposa dele às voltas com esse amor e gostaria muito de saber como ajudá-los.

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