A Psicoterapia deve ser rápida?
Este artigo esclarece sobre o tempo de duração do processo psicoterapêutico e onde o psicólogo se referencia para perceber a evolução do processo.
"As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo, para evitar enfrentar a própria alma"
- Carl Gustav Jung
Quis iniciar com esta citação de Jung, para falar um pouco com você a respeito do que realmente está em jogo em um processo psicoterapêutico. Até o começo do século XX se tinha a imagem de que um conflito psicológico seria fruto da fantasia e por isso não significava nada, pois a atividade da fantasia sempre fora relegada ao infantil. Com o advento das psicanálises e psicologias profundas, descobriu-se que a infância não é uma idade cronológica, mas um status de consciência, que se torna um automatismo e funciona pelo resto de nossas vidas. Freud e Jung nos mostram como uma questão de ordem primitiva determina nossas escolhas futuras.
Jung ainda nos remete que a atividade da fantasia que na verdade cria a realidade todos os dias, pois esta realidade é sempre uma realidade-em-nós, um "Esse in anima". Deste modo a realidade significa mais como nós vemos o mundo do que propriamente como o mundo realmente é. Descobertas contemporâneas da neurociência mostram que o cérebro não interpreta a diferença entre um estado de vigília e um estado de sono, seu funcionamento continua em ambos estados.
Portanto quem interpreta o que é realidade concreta e o que é realidade abstrata? Para Jung tudo é realidade psíquica, ou seja, para nós psicólogos importa mais observar como cada pessoa existe em sua vida - que é uma realidade para ela - do que propriamente acerca do que é verdadeiro ou falso, independente dela. Como referi, somos nós que existimos na psique e não a psique que existe em nós. Somos imagens as quais o cérebro nada interpreta, mas somos nós que interpretamos.
Deste forma o processo de psicoterapia não acontece se não houver um comprometimento da pessoa com sua realidade psíquica. Se não houver uma aposta de que falar de si, sobre si e para si, possa expressar outras versões, até o momento, desconhecidas de si mesmo. Mais do que verdadeiro o falso, como esta realidade que se apresenta expressa a nossa própria realidade, nossa própria verdade.
O processo de psicoterapia não tem a ver com a aquisição de algum ponto de vista especial acerca de si, semelhante a uma frase de sabedoria ou dito motivacional. Quem se situa nesta posição sequer começou um processo psicoterapêutico. Por essas e outras que pagar psicoterapia não significa imergir no processo. Ir ao psicoterapeuta com uma meta e expectativa visando tempo, dinheiro ou qualquer outro condicionante instrumental, revela a própria relação que o sujeito estabelece consigo, um instrumento, um objeto para alcançar um fim que toma o lugar de sua experiência consigo mesmo.
O próprio psicoterapeuta muitas vezes é enredado por esse ponto de vista se alienando do seu próprio processo em frases e terapias relâmpago, como se isso fosse garantidor de alguma coisa. Pode garantir sim, certa economia que coloca o financeiro acima da auto experiência, novamente alienando a si e ao outro de sua alma. Aqui o problema do sujeito não está na esfera psíquica, mas econômica. Ele quer poupar dinheiro, assim deve ir ao economista ou consultar seu contador.
Isso se dá justamente porque a experiência com a alma, ou o que Jung chamou de "experiência imediata" é deveras perigosa e para muitos insuportável, como observar o que se fala e sua própria verdade entrar em contradição consigo mesma revelando o próprio inconsciente e a ausência de garantias. Por isso as pessoas instrumentalizam e colocam vários pretextos entre sua relação consigo mesmas, nutrindo muitas certezas.
Porém a psicoterapia justamente tem a ver com até que ponto o sujeito consegue suspender suas garantias e aquilo que imagina de si, para permitir realizar uma auto experiência analítica consigo mesmo? Psicoterapia aqui tem mais a ver com suportar este lugar em que nossas garantias são suspensas e ficamos em um desconhecimento curioso, passando a nos interessar mais e mais por nossos processos que vão ganhando preponderância ante a vida instrumental. Aqui o sujeito ganha o primeiro plano quando cada vez mais deixa de se interessar por si, para se endereçar a própria alma. A alma é o centro!
Desta perspectiva não há psicoterapias rápidas, somente o processo pelo qual a própria psique inaugura sua temporalidade. Aqui cabe a pergunta: Até onde iríamos ou o que faríamos por nossa Alma? Entendendo Alma como justamente aquilo que confere sentido a uma existência. Atualmente se convencionou nomear de psicoterapia breve o processo de aprofundamento pessoal que visa a elucidar certas vivências específicas em estado inconsciente, seja em memórias ou na ordem do não vivido, atreladas a alguma espécie de sintoma, seja ansiedade, distimia, depressão ou síndrome do pânico, dentre outros. Porém o processo psicoterapêutico quando bem conduzido ganha precedência ante uma lógica curativista em detrimento de uma relação do sujeito consigo mesmo.
Renato Bandola
Psicólogo - CRP 04/30.762
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