A melhor resposta
14 JUN 2023
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Olá, Baiana. Compreendo sua apreensão, de fato acompanhar alguém que está passando por um episódio de depressão não é algo simples e de fácil assimilação. Como você observou, ele está no início do processo de tratamento da depressão, e quando a depressão é severa, com semanas de retraimento, mudança de humor, desmotivação, confusão e irritabilidade, quem está "de fora" e acompanhando essa passagem de fato se sente desolada, desorientada.
A depressão é um transtorno que incide diretamente na personalidade da pessoa, em seu temperamento, coisas, relações, hábitos que antes do episódio tinham uma coloração básica são fortemente tingidas pela dor melancólica, ganhando aspecto depreciativo, pessimista, desmotivador, fatalista.
Como você bem observou, Baiana, ele está atravessando esse processo de depressão e já está no início de recuperação: a psicoterapia irá lhe permitir elaborar suas questões, analisar causas e consequências de seus afetos, sua história de vida, seu sentido de vida - e essa ressignificação existencial te incluirá, incluirá o relacionamento de vocês, o lugar e importância que você tem na vida dele. O auxílio de antidepressivos será capital nesse processo de transformação, a medicação proverá a base para que ele possa aliviar o sofrimento e recuperar a normalidade motivacional, e como você pontuou, Baiana, ele ainda não iniciou o processo de restabelecimento neurofisiológico que o auxílio medicamentoso oferece, e a atuação efetiva da medicação leva em torno de 2 semanas a 1 mês para se fazer sensível. Precisamos aguardar.
Agora não é necessário você questionar nem seu vínculo com ele nem se ele está mudado intencionalmente em relação a ti, é o estado deprimido que o está afastando de ti, ele precisar sair da casa que vocês tem em comum é o sinal desse retraimento que a depressão imprime na pessoa, que faz com que ela se desvincule de todos os laços que ela tem, é um momento de recolhimento geral da subjetividade no qual a presença o outro, devido ao atual estado de fragilidade afetiva, pode gerar aflição, angústia. Agora é o momento de ele ser atendido tanto pela psicoterapia quanto pela psiquiatria, em especial aguardarmos a intervenção bioquímica realizar seu trabalho, para que daí, tendo condições mínimas de estado de ânimo, ir trabalhando as questões afetivas, emocionais, psicológicas. Você, Baiana, tanto quanto as referências afetivas que ele tem, familiares, amigos, precisarão adotar uma postura de distanciamento em que nem ele se sinta abandonado, rejeitado, nem estejam tão próximos ao ponto que ele não sinta ter esse espaço para reestruturação subjetiva que se faz necessário, respeitando esse delicado momento em que olhar dele sobre si se faz fundamental.
De fato, Baiana, este momento para quem "está de fora" da depressão é desnorteante, causa dúvidas e inseguranças, mas saiba que o processo é assim, de aproximações e distanciamentos para que ele possa elaborar seu sofrimento. Agora é aguardar o processo terapêutico da medicação e da psicoterapia fazer o efeito, e estar ali, próxima, reforçando o vinculo entre vocês que surgiu antes da depressão se apresentar, quando seu companheiro estava bem consigo e contigo. Com certeza você tem a melhor disposição e intenções para que ele esteja bem, porém certa medida de espaço entre vocês se faz necessário para ele, é o espaço para alma dele respirar. Reforce consigo seu apreço por ele, não desista, e seja paciente.
Fico à disposição para eventual aprofundamento,
Cordialmente,
Bruno.