Um fazer que faça bem

Todos precisamos atuar socialmente por meio de uma atividade laboral. Contudo, nem sempre atendemos questões ditas vocacionais, mas tal questão pode ser decisiva para dar um sentido de vida.

31 DEZ 2018 · Leitura: min.
Um fazer que faça bem

Não parece haver dúvidas de que toda e qualquer atividade, seja ela laboral ou não, acaba por nos mover mais facilmente quando se torna portadora de motivação e geradora de alguma satisfação. Acho que este ponto pode ser indiscutível para alguns. Contudo, é importante que se observe que nem tudo que nos leve a uma determinada satisfação pode vir a ser, por sua vez, algo saudável ou positivo. Pois, a satisfação momentânea e passageira coloca a questão em bases bem questionáveis no que diz respeito a soluções paliativas, vindo a diferir ao que, de fato, se produz como prazer mais consistente.

Nada, no entanto, pode ser considerado permanentemente bom e, por isso, precisará sempre de algum modo de uma manutenção periódica. Diante disso, pode se dizer que muito do que fazemos se dá em função da recompensa que isso pode nos dar. O trabalho é uma delas. Pois, quando se pensa em uma atividade laboral, podemos levar em conta a necessidade de intercambiar socialmente a produção daquilo que realizamos com os demais de modo que possamos subsistir e ter capital para atender nossas necessidades básicas em geral.

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Nesse caso, estar colocado numa atividade que possua bons atributos de qualidade funcional e boa remuneração financeira são atrativos e aspectos desejados por muitos. No entanto, nem sempre podemos escolher aquilo que gostaríamos de fazer de forma única e que poderia ser geradora de prazer, conforme a concepção de Freud quando se refere a um trabalho que atenda nossas habilidades e inclinações e que diz respeito a um fazer pessoal que venha a ser produtor de uma satisfação legítima a qual pode ser nominada mais precisamente como prazer, sobretudo por ser mais consistente e não fugaz.

Vale lembrar que todos temos alguma habilidade e por mais que tenhamos algum talento, muitas vezes acabamos nos submetendo a um processo laboral visando somente a subsistência, sem levar em conta a afinidade identitária de interesse somada à habilidade. O que acaba por se dar numa atividade que não nos diga muito sentido e pode se tornar promotor de muita insatisfação. É claro que o ideal seria podermos atuar de forma efetiva naquilo que se demonstra ser nossa melhor possibilidade de satisfação que reflita em nós traços identitários a partir de interesses e habilidades. Pois, embora não possamos, num determinado momento, fazer o que queremos, devemos, contudo, lutar por encontrar um caminho que seja mais vocacionado, por assim dizer.

Portanto, se não pudermos ser médicos devido a múltiplos aspectos, podemos, por outro lado, começar como técnicos de enfermagem e estudar para alcançar objetivos maiores sem abrir mão de atividades que circundem a nossa meta. Não sabemos quando poderemos estar plenos e, talvez, isso nunca ocorra de fato. Afinal, é próprio do ser humano ser movido por um desejo que não consegue alcançar seu objetivo por completo, vindo, portanto, a surgir sempre novos objetivos. Mas, estar envolvido com algo motivador e que produza efeitos de satisfação, pode vir a ser um bom indicador para percorrer e buscar um caminho que leve o sujeito de um posto de mero trabalhador à condição exitosa de profissional realizado e, por sua vez, mais promissor naquilo que faz.

Contudo, identificar uma atividade que nos mova com mais paixão pode não estar clara de pronto. Nesse sentido, algumas vezes a ajuda de um profissional da Psicologia de Orientação Profissional poderá ser necessária para se descortinar interesses e aptidões pertinentes que permita se chegar a uma atividade mais adequada e satisfatória vislumbrando uma profissão. De todo modo, um olhar de atenção para aquilo que desejamos como função social e realização profissional é sempre recomendável, ainda que esse desejo seja atendido em parte, mas que, por sua vez, venha a estar em proximidade com o objetivo encetado a fim de se permitir percorrer e construir uma trajetória em direção a um ideal que faça total sentido de vida. Pois, a partir do que foi dito até aqui, é possível acrescentar que o trabalho é algo que vai além de uma mera atividade, pode vir a ser aquilo que nos dá status identitário e nos faz representar como indivíduos no laço social, vindo então a nos guiar a um fazer que nos faça bem e que, por sua vez, contribua para um desenvolvimento pessoal, mas que, também, venha a ser também coletivo pelo fato de afetar de forma direta e indireta a todo o conjunto de pessoas relacionadas ao nosso fazer.

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Adriano Andrade Barboza

Graduado em Psicologia pela PUCPR e pós-graduado em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica pela mesma universidade. direciono-me para a grande área da Psicologia e da Filosofia e ao viés psicanalítico. Formação complementar na área de uso abusivo de substâncias pela UNIFESP e USP. Atua como psicólogo clínico em consultório particular.

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