Suicídio: o que está levando nossos adolescentes a desistirem da vida

Por que os adolescentes tentam matar-se?

A maioria dos adolescentes que já tratei após a tentativa de suicídio dizem que o fizeram porque estavam tentando escapar de uma situação que parecia impossível lidar, obter alívio de pensamentos ou sentimentos extremamente ruins. Eles não queriam morrer, mas lidar com o que estava acontecendo era tão doloroso que não viam outra saída.

Alguns adolescentes que tentam, ou conseguem cometer suicídio, na verdade estão desesperadas para se livrar de dores profundas, sentimento de rejeição, ou perda. Outros podem sentir-se zangados, envergonhados ou culpados por alguma coisa. Há aqueles que podem estar preocupados por ter decepcionado amigos ou familiares. E alguns podem se sentir indesejados, não amados, vitimados ou como se fossem um fardo para os outros.

Todos nós nos sentimos oprimidos por emoções ou situações difíceis, às vezes. Mas a maioria passa por isso sem maiores danos e encontra uma maneira de continuar com determinação e esperança. Então, por que uma pessoa tenta o suicídio quando outra na mesma situação difícil, não? O que torna algumas pessoas mais resistentes (mais capazes de lidar com os retrocessos e dificuldades da vida) do que outras? O que torna uma pessoa incapaz de ver outra saída de uma situação ruim, além de dar fim a sua vida?

A resposta a essas perguntas reside no fato de que a maioria das pessoas que comete suicídio têm depressão.

A influência negativa da depressão 

A depressão “captura” as pessoas, as vezes se instalam tão sutilmente que quando se percebe o grau de comprometimento da saúde mental é muito sério. Ela faz com que as pessoas a se concentrem principalmente em falhas e decepções, enfatizando sempre o lado negativo de suas situações. Quem sofre de depressão passa a minimizar suas próprias capacidades ou valor. Alguém com depressão severa é incapaz de ver a possibilidade de um bom resultado e pode acreditar que nunca será feliz ou as coisas nunca vão certo para elas novamente. É devastador.

A depressão afeta pensamentos de uma pessoa de tal forma que ela não vê quando um problema pode ser superado. É como se a doença colocasse um filtro no pensamento da pessoa que distorce as coisas. É por isso que os deprimidos não percebem que o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário da mesma forma que os demais fazem. Um adolescente com depressão pode sentir como se não houvesse outra maneira de sair de problemas, nenhuma outra fuga para sua dor emocional, ou nenhuma outra maneira de comunicar uma infelicidade desesperada.

Às vezes, pessoas com tendências suicidas nem percebem que estão deprimidas. Elas não sabem que é a depressão - e não a situação – que as está influenciando a ver as coisas de uma maneira tão negativa como se nunca fosse melhorar e que por isso não há nada que se possa fazer.

Quando a depressão é tratada de forma adequada com terapia e acompanhamento psiquiátrico, o pensamento distorcido é eliminado. A pessoa pode encontrar prazer, energia e esperança novamente. Mas do contrário, enquanto alguém está seriamente deprimido, o pensamento suicida é uma preocupação real e eminente.

Abuso de substância 

Adolescentes com problemas de álcool e drogas também estão mais expostos ao risco de pensamentos suicidas. O álcool e algumas drogas têm efeitos depressivos sobre o cérebro. Isso é especialmente verdadeiro para alguns adolescentes que já têm uma tendência para a depressão por causa de sua biologia, história familiar ou outros estressores vida.

O problema pode ser agravado porque muitas pessoas que estão deprimidas se voltam para o álcool ou drogas como uma fuga. O problema é que na maioria das vezes elas sequer percebem os efeitos negativos que álcool e drogas têm sobre o cérebro, podendo realmente intensificar a depressão no longo prazo.

Além de seus efeitos depressivos, álcool e drogas alteram o processo de julgamento. Eles interferem por exemplo, na capacidade de avaliar riscos, fazer boas escolhas e pensar em soluções para problemas. Muitas tentativas de suicídio ocorrem quando alguém está sob a influência de álcool ou drogas.

Isso não significa que todo mundo que está deprimido ou que tem um problema de álcool ou drogas vai tentar se matar, é claro. Mas essas condições - especialmente ambas juntas - aumentam o risco.

Suicídio não é sempre planejado 

Às vezes, uma pessoa deprimida planeja um suicídio com antecedência. Muitas vezes, porém, tentativas acontecem impulsivamente, em um momento de sentimento desespero. Uma situação como uma ruptura de relacionamento, uma grande briga com um dos pais, uma gravidez não intencional, ou ser vítima de qualquer grande estresse emocional, pode causar uma grande dor. Muitas vezes, situações ocasionais somadas a uma depressão existente, age como gatilho.

Há pessoas que tentam suicídio e realmente querem morrer e outras não. Em alguns casos a tentativa é uma forma de expressar sua profunda dor emocional. Elas não conseguem dizer como se sentem, então, a tentativa de suicídio é a forma que encontram de passar sua mensagem. Infelizmente, muitas pessoas que realmente não querem se matar acabam mortas ou criticamente doentes.

Sinais de aviso 

Muitas vezes há sinais de que alguém pode estar pensando ou planejando uma tentativa de suicídio. Aqui estão alguns deles:

• Falar sobre suicídio ou morte em geral

• Falar sobre "ir embora"

• Referir -se e a coisas que eles "não mais precisarão", e também sobre doar bens

• Falar sobre sentimento de desespero ou sentimento de culpa

• Afastar-se de amigos ou familiares e perder o desejo de sair

• Não ter vontade de participar de coisas ou atividades favoritas

• Ter problemas para se concentrar ou pensar claramente

• Experimentar mudanças nos hábitos alimentares ou de sono

• Engajar-se em comportamento autodestrutivo (consumo álcool, drogas ou se cortar, por exemplo)

E se isso estiver acontecendo com você? 

Se você tem pensado em suicídio, procure ajuda agora. A depressão é poderosa. Você não pode esperar que seu humor melhore sozinho. Quando uma pessoa se sente “para baixo por um longo tempo”, é difícil retroceder sem ajuda.

Fale com alguém de sua confiança assim que puder. Se você não pode falar com um de seus pais, um amigo, um parente, um conselheiro da escola, um líder religioso ou um professor. Chame uma linha de crise suicida (como o 188 - CVV)

As chamadas são gratuitas e estão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana com profissionais treinados que podem ajudá-lo sem nunca saber o seu nome ou ver o seu rosto. Todas as chamadas são confidenciais - ninguém que você conhece vai descobrir que você ligou. Eles estão lá para ajudá-lo a descobrir como trabalhar em situações difíceis.

E se é alguém que você conhece? 

É preciso iniciar uma conversa com alguém que você acha que pode estar pensando em suicídio. Isto permite que você obtenha ajuda para a pessoa, e só falar sobre o problema pode ajuda-la se sentir menos sozinha e mais e compreendida. Falar também pode dar a pessoa uma oportunidade de considerar outras soluções para os problemas. Na maioria das vezes, as pessoas que estão considerando o suicídio estão dispostas a falar se alguém lhes dá esta abertura sem julgamento e cuidado. Elas precisam deste apoio já não são capazes de enxergar outras possibilidades de sair de uma situação ruim.

Mesmo se um amigo ou colega de classe lhe fizer jurar segredo, você deve buscar ajuda o mais rapidamente possível - a vida de seu amigo pode depender disso. Alguém que está pensando seriamente sobre o suicídio pode ter afundado tão profundamente em um buraco emocional que é incapaz de reconhecer que precisa de ajuda. Fale com um adulto que você confia o mais rápido possível.

Às vezes, os adolescentes que fazem uma tentativa de suicídio - ou que morrem como resultado do suicídio - parecem não dar nenhuma pista de antemão. Isso pode deixar os entes queridos sentindo não só tristeza, mas culpa e se perguntando se “perderam alguma coisa”. É importante para os membros da família e amigos daqueles que morrem por suicídio saber que às vezes não há aviso e eles não devem se culpar.

Quando alguém morre por suicídio, as pessoas deixadas para trás podem lutar com uma terrível dor emocional. Adolescentes que tiveram uma recente perda ou crise ou que tenham um membro da família ou colega de classe que cometeu suicídio podem ser especialmente vulneráveis ​​ao pensamento suicida e comportamento próprios.

Se você esteve perto de alguém que tentou ou se suicidou, conversar com um terapeuta ou conselheiro, pode ajudar.

Como lidar com problemas 

Ser um adolescente não é fácil. Há muitas novas pressões sociais, acadêmicas e pessoais. E para os adolescentes que têm problemas adicionais para lidar com, como viver em ambientes violentos ou abusivos, a vida pode ser ainda mais difícil.

Alguns adolescentes se preocupam com sexualidade e relacionamentos, perguntando se seus sentimentos e atrações são normais, ou se eles serão amados e aceitos. Outros lutam com a imagem corporal e problemas alimentares; tentar alcançar um ideal impossível, faz com que se sintam mal sobre si mesmos.

Muitos adolescentes têm problemas de aprendizagem ou déficit de atenção que torna difícil para eles ter sucesso na escola. Isso pode provocar um sentimento de decepção consigo mesmo ou com os outros.

Estes problemas podem ser difíceis de serem absorvidos - e pode levar à depressão se eles se acumulam ao longo do tempo sem alívio ou apoio. Todos nós lutamos com problemas dolorosos e eventos às vezes. Como as pessoas passam por isso sem ficar deprimidas? Parte disso é ficar conectado à família, amigos, escola, fé e outras redes de apoio. Indivíduos são mais capazes de lidar com circunstâncias difíceis quando têm pelo menos uma pessoa que acredita neles, quer o melhor para eles, e em quem podem confiar. As pessoas também lidam melhor quando têm em mente que a maioria dos problemas são temporários e podem ser superados.

Ao lutar com problemas, você pode:

• Dizer a alguém em quem confia o que está acontecendo com você.

• Ficar próximo de pessoas que são atenciosas e positivas.

• Peça a alguém para ajudá-lo a descobrir o que fazer sobre um problema que está enfrentando.

• Trabalhe com um psicólogo se os problemas estiverem fora de controle e você se sentir deprimido.

• Um psicólogo pode fornecer apoio emocional e ajudar os adolescentes a construir suas próprias habilidades de enfrentamento para lidar com problemas.

Por Elaine Mardegan, psicóloga inscrita no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo  

Fotos: MundoPsicologos.com

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