A Intervenção Da Psicologia Hospitalar Nas Demandas De Autolesão Não Suicida Em Adolescentes
Sobre a escolha do tema identifica-se uma discordância na literatura científica sobre o uso dos termos autolesão ou automutilação. Para alguns autores a automutilação, seria um comportamento.
Desenvolvimento
A construção da imagem corporal está diretamente ligada a relação que o indivíduo constitui com o mundo e sua articulação com seu corpo e as dimensões físicas, sociais e psíquica. A imagem corporal não se envolve apenas o modo como o indivíduo interage consigo mesmo, mas também, o modo de se relacionar com outras pessoas.
A relação do homem com o mundo se desenvolve por meio da pele e estar bem na sua pele, por vezes, implica reorganizar seu interior para vestir uma nova pele para nela melhor se encontrar. Essa nova pele remete a construção da própria identidade, um processo que faz parte nessa fase da adolescência. Constituir uma nova identidade pode ser um processo difícil. A auto-lesão não suicida tende a surgir em respostas aos conflitos desse processo.
O termo usado neste estudo apresenta-se como Auto-lesão Não Suicida, descrita no DSM-5 Seção III- Instrumentos de Avaliação e Modelos Emergentes. Um termo que precisa ser aprimorado, pois há poucas pesquisas sobre auto-lesão.
Esta seção contém ferramentas e técnicas para aprimorar o processo de tomada de decisão clínica, compreender o contexto cultural dos transtornos mentais e reconhecer os diagnósticos emergentes para estudos posteriores. Ela apresenta estratégias para aperfeiçoar a prática clínica e novos critérios para estimular futuras pesquisas, representando um DSM-5 dinâmico que se desenvolverá com os avanços no campo .
Auto-lesão Não Suicida é dado como qualquer prejuízo provocado ao próprio corpo, tal ação pode levar a sangramento, lesão ou dor com finalidade de causar um dano físico. O indivíduo tem o comportamento de se arranhar, se bater, se cortar, morder-se e queimar-se. Para identificar que se trata do ALNS, o indivíduo apresenta um padrão de dependência, ou seja, o sujeito repeti a auto-lesão ao se deparar com afetos negativos, outra característica do transtorno é que não envolve intenção suicida, mas a sensação de alivio.
A classificação da auto-lesão apresenta quatro categorias por intensidade. A automutilação grave; implica em comportamentos como se castrar, retirada dos olhos auto enucleação e mutilação de partes corporal. A auto-lesão estereotipa; possui um ato ritualístico como morder os lábios, língua, bochecha, autoagressão, bater a cabeça contra objetos. A auto-lesão compulsiva; é repetitiva como coçar a pele bruscamente até ferir. Já a autolesão impulsiva; é o comportamento de cortar a pele ou se queimar, característico do desejo de se machucar, como os cortes na pele.
As marcas corporais expressam o sofrimento, uma mensagem corporal para representar a dor emocional. Uma angústia que não finda quando expressada por palavras, sendo necessário mudar o foco da dor. As dificuldades que os adolescentes demonstram em lidar com a família, sociedade e emocional associada a uma dificuldade de comunicação e afeto, são questões que, na falta de maturidade emocional, causam sofrimento e angústia.
De acordo com pesquisas efetuadas em sete escolas na cidade de Rolim Moura- Rondônia. Onde Identificou que todas as escolas entrevistadas já apresentaram casos de autolesão entre os alunos de 12 a 17 anos de idade. Ocorre na maioria dos casos comportamento de auto-lesão nas meninas com 100% das demandas, porém algumas escolas aparecem 42,9% dos casos em meninos. As escolas em questão assisti cada aluno individualmente, e foi exposto que maior parte dos casos de auto-lesão, apresentam famílias desestruturadas. Frente a esse caos as consequências instaladas nos adolescentes são físicas, psicológicas e sociais.
Nos casos de auto-lesão, apresenta-se nas famílias e convívio social, pais ou responsáveis violentos, ausentes, dependentes químicos, casos de abusos psíquico ou sexual, maus tratos e vítima de bullying na infância ou adolescência. Tais fatores desencadeiam o comportamento auto lesivo. A falta de proteção familiar ou social dos ambientes inseguros cheios de negligências e repressões emocionais, tornam os adolescentes com pouca habilidade para lidar com as próprias emoções e auto-cuidado.
Outra pesquisa realizada no ano de 2020 também apresenta uma relevância maior em adolescentes do sexo feminino. Os estudos retratam que a auto-lesão começa entre 13 e 14 anos de idade, nota-se o crescimento de tal comportamento entre os adolescentes em 1998 na população americana, onde houve uma prevalência de 4% dos casos, já em 2011 subiu para 6 % de adolescentes que realizam automutilação ao menos uma vez na vida. Em outro estudo mostra que 17% dos adolescentes já haviam praticado automutilação ao menos uma vez. Em 2005 no Japão, o índice foi de 35,80%, mas em 2007 casos mais elevados ocorreu nos Estados Unidos que apresentou 45% na pratica de auto-lesão em adolescentes.
De acordo com a pesquisa realizada no ano de 2019 em um ambulatório de saúde mental da criança e do adolescente (ASMCA), do hospital das clínicas da universidade federal do Espírito santo. O ASMCA prestou 245 atendimentos nos períodos de dezembro de 2015 a novembro de 2017. Onde dos 245 Mostra em estatística que houve um aumento dos casos de crianças e adolescentes com automutilação repetitiva sem intenção de morte. pacientes atendidos no ambulatório, 29 (11,83%) apresentavam comportamento de autolesão não suicida. Contudo dos 29 com TALNS 75,86% eram meninas e sobre a faixa etária 41,37% tinha entre 12 a 14 anos e 48,29% tinha entre 15 a 17 anos. A maior parte das pessoas que cometem a auto-lesão não procura atendimento. São os familiares que observam tal comportamento e levam os pacientes para o atendimento ou são encaminhados por fluxo interno dos demais setores do hospital.
O paciente ao chegar em ambiente hospitalar sente sua identidade invadida pois se retira da posição de indivíduo subjetivo, passando a objeto de procedimentos medico, vivência um momento de ausência referencial. O indivíduo praticante da auto-lesão nesse contexto pode desencadear ainda mais sofrimento psíquico, e o psicólogo por meio de intervenções clínica realiza o atendimento adequando a cada caso para aliviar a dor emocional do sujeito.
Uma conceituada Autora, Dispõe algumas etapas da avaliação psicológica para casos de autolesão, como : validar a experiência do paciente, mostrando-se atento ao seu relato; compreender as emoções do paciente que motivaram suas ações; determinar tipo da autoagressão, definir com que frequência as autolesões acontecem e há quanto tempo vem ocorrendo; investigar a função, motivação e significado da auto-lesão para o paciente; verificar transtornos psicológico coexistentes; estimar o risco de suicídio; determinar a disposição do paciente para adesão ao tratamento.
A avaliação psicológica é uma intervenção exclusiva do psicólogo, cabe ao profissional responder pela identificação, descrição e explicação a respeito do funcionamento psicológico humano. Realiza-se uma investigação baseada em referências teóricos e metodológicos, buscar a compreensão de determinado fenômeno psíquico. Por meio dessa investigação o profissional pode concluir a terapia mais apropriada para cada demanda .
Nas demandas de auto-lesão não suicida, indica-se a Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, pois permite identificar e tratar os motivos que levam a essa prática.
De acordo com estudos realizados a adolescência percorre por transformações, descobertas e auto aceitação, a carga emocional resultante dessa fase afeta a forma como os adolescentes enxergam a realidade. Não há uma estrutura emocional que der suporte psíquico aos eventos que os abalam, surge assim marcas internas que o adolescente as converte em auto-lesão. pela autolesão não suicida, seria um modo de negar a vontade de suicídio, o adolescente começa a se ferir e mante-se o comportamento lo fato de que isso ajudaria o impulso suicida sair dele, pois não deseja morrer, existe uma vontade de viver. Estudos sobre modificações corporais encontrou a seguinte frase de um dos participantes, "Para mim, não existe nenhuma dor real, mas somente uma sensação.
Expertos associam a estas pessoas dificuldades em identificar ou expressar seus sentimentos, com maior frequência de emoções negativas vividas, menos recursos pessoais de enfrentamento, baixa autoestima, baixa habilidade de resolução de problemas, menor crença na auto eficácia e maior tendência de auto culpabilização.
Em geral, o propósito é reduzir emoções negativas, como tensão, ansiedade e autocensura, ou resolver uma dificuldade interpessoal.Em alguns casos, a lesão é concebida como uma autopunição merecida. O indivíduo frequentemente relatará uma sensação imediata de alívio que ocorre durante o processo. Quando o comportamento ocorre de forma frequente, pode estar associado a um senso de urgência e fissura, com o padrão comportamental. Os ferimentos infligidos podem se tornar mais profundos e mais numeroso
O adolescente utiliza instrumentos cortantes ou outros meios que provoca marcas, como: facas, agulhas, lâminas de barbear, tesoura, caco de vidro, ponta de cigarro acessa, entre outros . O local do corpo escolhido é onde os ferimentos possa ser escondido por roupas ou algum acessório como dorso das mãos, pulsos, antebraço, peito, e interior das coxas .
Compreende-se que o comportamento de auto-lesões, escarificações e marcas corporais são meios para nomear algo, proporcionar uma vivência de dor e ao mesmo tempo prazer, o sujeito faz um convite ao olhar do outro para seu corte, apresentando a ideia de exibicionismo.
As transformações que o humano realiza no corpo, portanto, representam não só os traços narcísicos, hedonistas e consumistas das sociedades contemporâneas, mas prioritariamente, maneiras de o sujeito se constituir subjetivamente, o que demanda um olhar diferenciado daquele que as teorias sobre o social lhe endereçam.
Os atos corporais capturam o olhar, buscam um mostrar algo para o outro. Essa relação entre o olhar do outro e as atuações no corpo ao invés de produzir sintoma, produz uma compulsão. O adolescente expressa mais com a linguagem corporal do que a linguagem falada é um dizer que está para além de um saber. Portanto "Trata-se de um corpo que não fala, que goza no silêncio pulsional, e ao mesmo tempo é com esse corpo que se fala, para então produzir o sintoma analítico.
É através do corpo que o sujeito está a produzir seu sintoma, onde na realidade deveria ser através da fala que o indivíduo poderia ser capaz de construir o seu sintoma e produzir um saber sobre o seu próprio inconsciente. Porém, na incapacidade de produzir significado que definam o seu sofrimento psíquico, o sujeito o transforma em forma de letra, de escrita que se inscreve na forma de marcas corporais
As transformações corporais, físicas e emocionais que o adolescente atravessa nesse período o deixa vulnerável com uma menor capacidade no enfrentamento de conflitos. Essa menor capacidade em lidar com emoções, ou desenvolver uma relação familiar saudável, inclui a menor capacidade em lidar com frustrações. Assim, sentimentos de fuga, raiva e vingança surgem e levam os adolescentes a realizarem comportamentos externalizastes, ou seja, agressividades intencionais contra a si mesmo.
O Psicólogo será o suporte para esse adolescente elaborar seu sintoma. Outra intervenção importante é a escuta, uma ferramenta utilizada pelo psicólogo dentro do contexto hospitalar. Escuta, neste cenário, significa "acolher toda a queixa ou relato do usuário, mesmo quando possa parecer não interessar para o diagnóstico e tratamento. É através da escuta que o paciente reconstrói os motivos que levaram seu adoecimento e as correlações que o usuário estabelece entre o que sente e a vida, as relações com seus convivas e com seus desafetos.
A escuta qualificada implica em ouvir o sujeito, de modo a conhece-lo além da patologia. Isso alinha-se aos princípios da Política de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, humanizar um atendimento por meio de uma escuta diferenciada significa, inserir o sujeito que se encontra adoecido no seu tratamento. Através do acolhimento os ajudamos a reposicionar como agente de seu próprio processo de saúde e assim, construir maior grau de responsabilização sobre seu cuidado e que esses processos se estendam para além do contexto hospitalar.
CONCLUSÃO
A revisão de literatura sobre a auto-lesivo mostra em números que o comportamento surgi na adolescência aos 12 anos e mantem-se até os 17 anos de idade com maiores casos em meninas. Fatores traumático muitas vezes ligado a estrutura familiar desencadeia a auto-lesão, como: violência física ou psíquica; pais ausentes; e dependentes químicos. A negligência dos responsáveis dentro do ambiente familiar constrói um adolescente vulnerável com menor capacidade de enfrentamento para lidar com frustrações e conflitos emocionais.
O adolescente que se auto lesiona desenvolve dificuldades em identificar suas emoções, apresenta frequência de pensamentos negativos, e sentimento de culpabilização. O comportamento de ferir a si mesmo ocorre por autoagressão, bater a cabeça contra objetos, cortar a pele ou se queimar. O sujeito utiliza-se de meios que possa provocar a lesão: facas, agulhas, lâminas de barbear, tesoura, caco de vidro, ponta de cigarro acessa. A intenção aqui é anular a dor psíquica para transforma-la em dor física.
Para identificar o comportamento de auto-lesão não suicida o psicólogo investiga a causa do fenômeno, com base teórica e metodológica. A avaliação psicológica revela a causa e a terapia mais adequada para o tratamento. Identifica-se que a Psicoterapia Cognitiva Comportamento é indicada nesta demanda por trabalhar o comportamento do paciente.
O psicólogo entra como suporte emocional para esse sujeito poder elaborar sua dor, desenvolver o auto-cuidado e poder reposicionar como agente responsável de seu próprio processo de saúde.
Referências
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ARCOVERDE, R. Autolesão e produção de identidades. TEDE- Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações. Recife PE, p. 14-16, abr. 2013.
ARAÚJO, J. Cortes que viram cartas: Ensaios sobre automutilação na clínica psicanalítica. Repositório Institucional da UNB, Brasília, n. 174, p. 42 – 59, abr. 2020.
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