Suicídio entre crianças e adolescentes: um drama constante
O que leva uma criança de 9 anos a cometer suicídio? O que deve ser feito para evitar esse tipo de situação tão extrema? Veja a seguir a análise da psicóloga Maitê Hammoud.
No final do mês de Agosto, uma triste notícia captou a atenção de inúmeras pessoas ao redor do mundo, despertando novamente um alerta sobre a necessidade da prevenção do suicídio e depressão na infância e adolescência. Jamel Myles, um garoto de apenas 9 anos de Dever (EUA) tirou a própria vida após sofrer bullying por seus colegas de escola em função da sua orientação sexual.
Apesar de o fato de ter se assumido gay há alguns meses tenha sido aceito por sua família, bastaram 4 dias letivos de exposição ao bullying, que envolviam ameaças, boicote e até mesmo incentivo ao suicídio, para que o garoto recorresse ao ato de tirar sua própria vida, no auge do desespero para diminuir seu sofrimento.
Infelizmente, o caso de Jamel não é uma exceção. Dados recentes informados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças indicam que o suicídio é a 10ª causa de morte nos Estados Unidos. Em outros países, a realidade é semelhante: a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo e, no Brasil, uma a cada 45 minutos.
O que contribui para que crianças e adolescentes representem grande parte das estatísticas de suicídio?
A maioria das pessoas ainda alimenta a ideia de que alguém que recorre ao suicídio é sempre uma pessoa adulta, que sofre por ter que lidar com graves problemas. Esse tipo de pensamento somente serve para aumentar a displicência e dificultar a prevenção do suicídio na infância e adolescência.
Trata-se de um tabu que precisa ser quebrado com urgência! Nove de cada dez suicídios podem ser prevenidos e evitados, porque a busca por medidas com intenção de acabar com a própria vida estão associadas a um ato de desespero diante da dor, e não a um ato planejado.
Diferente do que o senso comum da maioria das pessoas imagina, o suicídio não está ligado à gravidade ou quantidade de problemas, mas, sim, à intensidade do sofrimento e os recursos emocionais para lidar com a dor. Neste sentido, conseguimos entender a razão de crianças e adolescentes estarem mais propensos e vulneráveis a recorrerem ao suicídio.
Os recursos emocionais na infância e adolescência
As estatísticas indicam que o suicídio é mais frequente entre adolescentes e idosos. Os principais aspectos que estão atrelados a este fato são:
- Por serem imediatistas, os adolescentes têm dificuldade de pensar a longo prazo, o que serve para intensifica o sofrimento diante de traumas ou conflitos. Rapidamente, a intensidade destas emoções pode evoluir para a sensação de sentir-se sem opções para lidar com a dor;
- Por estarem em desenvolvimento, é característico da idade se identificar e se vincular a subgrupos que esboçam suas futuras características de adulto envolvendo afinidades e valores em comum. Por este comportamento, todo e qualquer grupo fica vulnerável à exclusão e reprovação de outros grupos de sua convivência, favorecendo o sentimento de inadequação e exclusão;
- Outra característica chave do desenvolvimento nesta idade é que o repertório para identificar e verbalizar suas emoções, algo que ainda está em construção. As crianças e adolescentes dificilmente terão repertório e segurança para falar sobre seus sentimentos e dificuldades com seus pais ou professores;
- A violência e opressão característica do bullying também tende a despertar a projeção de tais sentimentos e ideias de fracasso em sua família, ou seja, mesmo que não existam cobranças e reprovações em seu núcleo familiar, crianças e adolescentes tendem a fantasiar que em sua família exista um sentimento velado de desgosto.
Como prevenir o suicídio na infância e adolescência?
É fundamental que, ao longo do seu desenvolvimento, pais e professores informem a esses adolescentes e crianças, com a antecedência necessária, o que caracteriza a violência, o bullying, que tipo de sintomas e sensações os mesmos desencadeiam e quais atitudes devem ser adotadas na presença de tais situações.
A informação preventiva oferece repertório para que diante da situação de bullying ou sintomas de depressão já exista compreensão, possibilitando pedidos de ajuda.
É fundamental que diante da dificuldade da comunicação verbal sobre problemas enfrentados e emoções, pais, professores e adultos próximos estejam atentos à linguagem e sinais não verbais: desenhos, poemas, músicas, filmes, ídolos, mudanças no tipo de vestimenta, etc.
Além de sinais não verbais, é essencial que sejam considerados os sintomas que costumam caracterizar um quadro de depressão:
- humor deprimido
- isolamento social
- alteração no apetite
- queda no desempenho escolar
- abandono de atividades antes tidas como prazerosas.
Dificilmente uma criança ou adolescente verbalizará seu desejo de recorrer ao suicídio com falas objetivas. O desejo costuma manifestar-se através de frases do tipo: “gostaria de ser invisível”, “gostaria de dormir e não acordar mais”, “me sinto um peso para os meus pais”, “acho que o mundo não tem lugar pra mim”.
Busque apoio profissional
A infância e adolescência, por serem períodos de desenvolvimento, já implicam em inúmeros conflitos. Somados a situações de bullying ou depressão, torna-se indispensável o acompanhamento psicológico e possível avaliação psiquiátrica.
A busca precoce favorece o prognóstico e previne drasticamente as chances de que o suicídio ocorra.
Fotos: MundoPsicologos.com
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE