Suicídio entre crianças e adolescentes: um drama constante

O que leva uma criança de 9 anos a cometer suicídio? O que deve ser feito para evitar esse tipo de situação tão extrema? Veja a seguir a análise da psicóloga Maitê Hammoud.

31 OUT 2018 · Leitura: min.
Suicídio entre crianças e adolescentes: um drama constante

No final do mês de Agosto, uma triste notícia captou a atenção de inúmeras pessoas ao redor do mundo, despertando novamente um alerta sobre a necessidade da prevenção do suicídio e depressão na infância e adolescência. Jamel Myles, um garoto de apenas 9 anos de Dever (EUA) tirou a própria vida após sofrer bullying por seus colegas de escola em função da sua orientação sexual.

Apesar de o fato de ter se assumido gay há alguns meses tenha sido aceito por sua família, bastaram 4 dias letivos de exposição ao bullying, que envolviam ameaças, boicote e até mesmo incentivo ao suicídio, para que o garoto recorresse ao ato de tirar sua própria vida, no auge do desespero para diminuir seu sofrimento.

Infelizmente, o caso de Jamel não é uma exceção. Dados recentes informados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças indicam que o suicídio é a 10ª causa de morte nos Estados Unidos. Em outros países, a realidade é semelhante: a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo e, no Brasil, uma a cada 45 minutos. 

O que contribui para que crianças e adolescentes representem grande parte das estatísticas de suicídio?

A maioria das pessoas ainda alimenta a ideia de que alguém que recorre ao suicídio é sempre uma pessoa adulta, que sofre por ter que lidar com graves problemas. Esse tipo de pensamento somente serve para aumentar a displicência e dificultar a prevenção do suicídio na infância e adolescência. 

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Trata-se de um tabu que precisa ser quebrado com urgência! Nove de cada dez suicídios podem ser prevenidos e evitados, porque a busca por medidas com intenção de acabar com a própria vida estão associadas a um ato de desespero diante da dor, e não a um ato planejado. 

Diferente do que o senso comum da maioria das pessoas imagina, o suicídio não está ligado à gravidade ou quantidade de problemas, mas, sim, à intensidade do sofrimento e os recursos emocionais para lidar com a dor. Neste sentido, conseguimos entender a razão de crianças e adolescentes estarem mais propensos e vulneráveis a recorrerem ao suicídio. 

Os recursos emocionais na infância e adolescência

As estatísticas indicam que o suicídio é mais frequente entre adolescentes e idosos. Os principais aspectos que estão atrelados a este fato são: 

  • Por serem imediatistas, os adolescentes têm dificuldade de pensar a longo prazo, o que serve para intensifica o sofrimento diante de traumas ou conflitos. Rapidamente, a intensidade destas emoções pode evoluir para a sensação de sentir-se sem opções para lidar com a dor;
  • Por estarem em desenvolvimento, é característico da idade se identificar e se vincular a subgrupos que esboçam suas futuras características de adulto envolvendo afinidades e valores em comum. Por este comportamento, todo e qualquer grupo fica vulnerável à exclusão e reprovação de outros grupos de sua convivência, favorecendo o sentimento de inadequação e exclusão
  • Outra característica chave do desenvolvimento nesta idade é que o repertório para identificar e verbalizar suas emoções, algo que ainda está em construção. As crianças e  adolescentes dificilmente terão repertório e segurança para falar sobre seus sentimentos e dificuldades com seus pais ou professores; 
  • A violência e opressão característica do bullying também tende a despertar a projeção de tais sentimentos e ideias de fracasso em sua família, ou seja, mesmo que não existam cobranças e reprovações em seu núcleo familiar, crianças e adolescentes tendem a fantasiar que em sua família exista um sentimento velado de desgosto.

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Como prevenir o suicídio na infância e adolescência? 

É fundamental que, ao longo do seu desenvolvimento, pais e professores informem a esses adolescentes e crianças, com a antecedência necessária, o que caracteriza a violência, o bullying, que tipo de sintomas e sensações os mesmos desencadeiam e quais atitudes devem ser adotadas na presença de tais situações.

A informação preventiva oferece repertório para que diante da situação de bullying ou sintomas de depressão já exista compreensão, possibilitando pedidos de ajuda.

É fundamental que diante da dificuldade da comunicação verbal sobre problemas enfrentados e emoções, pais, professores e adultos próximos estejam atentos à linguagem e sinais não verbais: desenhos, poemas, músicas, filmes, ídolos, mudanças no tipo de vestimenta, etc.

Além de sinais não verbais, é essencial que sejam considerados os sintomas que costumam caracterizar um quadro de depressão:

  • humor deprimido
  • isolamento social
  • alteração no apetite
  • queda no desempenho escolar
  • abandono de atividades antes tidas como prazerosas.

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Dificilmente uma criança ou adolescente verbalizará seu desejo de recorrer ao suicídio com falas objetivas. O desejo costuma manifestar-se através de frases do tipo: “gostaria de ser invisível”, “gostaria de dormir e não acordar mais”, “me sinto um peso para os meus pais”, “acho que o mundo não tem lugar pra mim”. 

Busque apoio profissional

A infância e adolescência, por serem períodos de desenvolvimento, já implicam em inúmeros conflitos. Somados a situações de bullying ou depressão, torna-se indispensável o acompanhamento psicológico e possível avaliação psiquiátrica. 

A busca precoce favorece o prognóstico e previne drasticamente as chances de que o suicídio ocorra. 

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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