Disfunção psíquica: fique de olho nos sinais

Muitas vezes, vivemos uma disfunção sem conseguir dar-nos conta daquilo que, de fato, nos afeta, vindo a vivenciar um sofrimento que não cessa por não o considerarmos como uma disfunção.

6 FEV 2019 · Última alteração: 22 FEV 2019 · Leitura: min.
Disfunção psíquica: fique de olho nos sinais

Todos temos uma forma de ser e por mais que se tente estabelecer algum tipo de padrão de características para o ser humano, não existe uma única pessoa igual a outra no mundo. Isso parece ser uma constatação bastante lógica. Para tanto, podemos perceber que existe, entre os indivíduos, uma relação de interação e intercâmbio de coisas em comum no campo objetivo, assim como uma comunicação a partir de subjetividades então constituídas pelas apreensões e elaborações individuais.

O que parece também importante de ser observado sobre os padrões de funcionamento é que vivemos em uma atualidade cujo contexto faz descortinar o estudo de muitos fenômenos em torno do corpo e da mente que permite se chegar na padronização e classificação de patologias e disfuncionalidades. Contudo, apesar de detectarmos traços de uma determinada disfunção ou transtorno em alguém, não parece muito justo rotular um sujeito a partir disso. Afinal, somos muito mais que apenas algumas características isoladas em comum. Somos um mundo à parte.

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Entretanto, tem sido constatados em nossas sociedades grandes índices de incidência de transtornos psiquiátricos como a depressão, o transtorno afetivo bipolar entre outros. Nesse sentido, a classificação ajuda em parte, pois permite identificar padrões de seus elementos constituintes e isso deve ser usado a nosso favor e não contra. Pois, a identificação de um fator causal de transtornos pode levar, como tem levado, em muitos casos, a soluções capazes de dar a chamada normatividade, ou seja, permite ao indivíduo viver de modo funcional a partir da estabilidade de algo que acabava por se fazer disfuncional.

De olho nos sintomas

Portanto, ao detectar que algo não está bem ou que apresenta uma disfuncionalidade fisiológica em nosso corpo e, mais especialmente, no aparelho psíquico, torna-se necessário deixar de lado uma pseudonormalização no que tange, sobretudo, ao sintoma de ordem psíquica a pretexto de se defender um suposto "jeito de ser" no qual se evita considerar a existência de um problema a ser resolvido, vindo, de forma equivocada, a tratar a disfunção como sendo uma parte integrante do modo de viver que, por sua vez, exigirá uma série de adaptações que a longo prazo se tornarão igualmente disfuncionais e geradoras de sofrimento. Pois, quando afetados por uma disfunção de ordem psíquica é possível que, num primeiro momento, a pessoa afetada não consiga dissociar o que é do seu comportamento daquilo que venha a ser de caráter patológico, vindo a desconsiderar seus sintomas como sendo processos disfuncionais oriundos de um transtorno psiquiátrico.

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No que se refere ao reconhecimento de uma disfuncionalidade, é preciso que se diga que a investigação clínica com um bom diagnóstico feito por um especialista será capaz de identificar traços e características de transtornos e disfunções que permita poder encontrar caminhos para um tratamento adequado e eficaz pela via psicoterapêutica e/ou psiquiátrica.

Nesse caso, ao se perceber que algo não vai bem o indivíduo deve ligar um sinal de alerta, pois, muitas vezes pode-se ter uma ideia equivocada daquilo que o afeta, vindo a entrar num movimento circular contínuo de sofrimento como aquele que pode ocorrer em relação a uma depressão, por exemplo, cujo transtorno instalado leva o indivíduo a um sentimento de tristeza contínua e para a qual ele pode acabar buscando deliberadamente atribuir uma causa aleatória a partir de um problema real que esteja vivendo e que passa a ser considerado como uma suposta causa a fim de dar um semblante para seu sofrimento.

Entretanto, quando esse mesmo problema atribuído como causa do sofrimento vem a ser solucionado e a sensação de tristeza permanece, é possível que o sujeito venha a atribuir a tal sintoma uma nova causa de outro problema existente que o rodeia caracterizando-se, assim, em uma sequência de identificações de falsas causas cujo sofrimento não cessa, levando o sujeito a angustiante percepção de uma existência insuportável. Pois, acaba percebendo que tudo sempre vai mal e, assim todos os problemas reais acabam ganhando uma dimensão maior do que eles possivelmente têm de fato, vindo a tornar o sujeito refém do sintoma bioquímico e comportamental no qual ele passa a viver em função da disfunção sem conseguir encontrar uma forma de cessar seu sofrimento.

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Diante disso, é possível considerar que um olhar inicial de autocuidado torna-se essencial e consiste em tentar ouvir e respeitar os sinais emitidos pelo próprio corpo, pelas pessoas e o mundo ao redor que produz, inexoravelmente, uma resposta reflexa a tudo que fazemos e vivemos, permitindo, assim, que se possa ter acesso e observar um conjunto de evidências sobre o próprio funcionamento do indivíduo, assim como em relação ao contexto de sofrimento em que ele está envolto.

Nessas e em outras circunstâncias o olhar de cuidado constitui-se indispensável e ninguém poderá fazê-lo de forma mais promissora que o próprio indivíduo que, no passo seguinte, poderá contar com a ajuda de um psicólogo e/ou psiquiatra que poderão ser seus parceiros no encaminhamento de um tratamento. Afinal, o desejo do próprio sujeito por uma solução é fundamental para que se possa encontrar uma forma de superar o adoecimento e o sofrimento que o afeta e cuja busca de ajuda especializada não vem a se traduzir em fraqueza ou fracasso, mas trata-se de um movimento de preocupação legítima e de autocuidado que pode permitir ao sujeito encontrar uma forma de viver em função de si e não em função da disfunção.

Artigo elaborado pelo psicólogo Adriano Andrade Barboza, inscrito no Conselho Regional de Psicologia do Paraná

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Adriano Andrade Barboza

Graduado em Psicologia pela PUCPR e pós-graduado em Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica pela mesma universidade. direciono-me para a grande área da Psicologia e da Filosofia e ao viés psicanalítico. Formação complementar na área de uso abusivo de substâncias pela UNIFESP e USP. Atua como psicólogo clínico em consultório particular.

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