O que fazer com essa angústia?

Falar em angústia é tocar em um tema sensível que remete a afetos relacionados ao medo. A uma possível ameaça de aniquilamento entrelaçada a uma situação traumática.

23 MAI 2022 · Leitura: min.
O que fazer com essa angústia?

Falar em angústia é tocar em um tema sensível que remete a afetos relacionados ao medo. A uma possível ameaça de aniquilamento entrelaçada a uma situação traumática. Freud afirmava que a angústia é um produto do desamparo infantil que é similar ao desamparo biológico. Lacan ainda afirma que a angústia apresenta uma situação de falta. Pereira um estudioso em Psicanálise ainda relata, que tal afeto decorre do fato de sentir-se intimidado pelo desejo do outro, sem saber ao certo que imagem é sustentada frente aos olhos do público.

Esse temor frente às ausências, possibilidade de rejeição, sensação de ameaça, acabam se apresentando frente a situações de possíveis separações e abandono. São fantasmas que assombram e muitas vezes deixam em claro durante á noite, afetando assim a vida do paciente. Existem relatos de casos clínicos de pessoas que frente a angústia desistem de frequentar espaços, conhecer pessoas, investir em relacionamentos, ocasionando assim uma diminuição do universo pessoal e descontentamento.

Somos seres sociais e viver é deparar-se com a angústia frequentemente. Para a Psicanálise, tal afeto tem função primordial na sinalização de perigos reais ou imaginários, a fim de evitar sobrecarga psíquica. Mas vale destacar, que muitas vezes imaginamos o pior cenário e acabamos sofrendo por antecipação ou receio que o pior aconteça. A angústia pode causar paralização e cristalização frente a situações ou movimento, depende da forma como ela é manejada. No consultório psicológico essa demanda será tratada a partir da narrativa discursiva que o paciente constrói.

A maneira como atuamos no mundo e lidamos com nossas angústias são reflexos da nossa história de vida, da nossa relação com as pessoas que exerceram a função materna e paterna. É preciso que o bebê no período de dependência absoluta tenha sido olhado, escutado e que a ele tenha ocorrido endereçamento de amor e cuidado. Essa sensação de proteção é importante para a construção de vínculos estáveis e acaba impactando na vida adulta.

As primeiras vivências de uma pessoa ainda na infância estabelecem os alicerces da personalidade. Assinalo que somos seres em construção e desconstrução e que a cada dia a vida nos convida a repensar como nos colocamos no mundo. Como estabelecemos nossas relações, manifestamos nossos desejos e protagonizamos nossa história. O caminho que trilhamos nem sempre é retilíneo, por muitas vezes é acidentado e cheios de curvas sinuosas e tudo isso deixa marcas que é interessante que sejam elaboradas e entendidas para não gerar um processo de repetição.

Na minha experiência como psicóloga, percebo a angústia e a dor presentes em muitas das demandas apresentadas no consultório. É importante sinalizar que não existe crescimento sem dor. O processo terapêutico é potente e transformador, mas nem por isso fácil. Existem as dores do crescimento, do entendimento, da percepção do lugar que ocupa na trama familiar e isso não é fácil, mas é necessário até mesmo para que o paciente entenda que é possível fazer esse deslocamento do lugar de queixoso para o lugar de responsável e autor da própria história.

A capacidade de tolelar a angústia, as frustrações e incertezas podem ser trabalhadas no processo terapêutico. Dentro da relação paciente e terapeuta é possível construir caminhos saudáveis para lidar com a angústia e medo de separação. A psicóloga faz uma função de continente, acolhendo as demandas do paciente, sem fazer julgamentos e críticas, facilitando o processo de metamorfose e de desenvolvimento presentes na terapia.

EMANUEL, RICKY. A angústia. Tradução: Carlos Mendes Rosa. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Ediouro. São Paulo: Segmento-Duetto, 2005. (Conceitos da Psicanálise; v.10).

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Escrito por

Silvia Helena de Amorim Martins

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