O paciente

Pouco se fala do papel do paciente na psicoterapia. O que o paciente faz? Quais recomendações para quem inicia ou se desenvolve à tempos em uma psicoterapia?

5 AGO 2015 · Leitura: min.
O paciente

Muito se fala e se escreve sobre o trabalho do psicoterapeuta. Este na verdade é muito claro: é um trabalho de co-engenharia temporal. O trabalho constrói pontes e desconstrói muralhas subjetivas. Conexões mais saudáveis e férteis entre o sujeito, sua memória e seu futuro e desmonte de obstáculos que travam o caminhar sincero. Transformamos a linguagem em lanterna e espelho para seguir, quase secretamente, de mãos dadas. Claríssimo, não?

Entretanto, pouco se fala do papel do paciente na psicoterapia. O que o paciente faz? Quais recomendações para quem inicia ou se desenvolve a tempos em uma psicoterapia? Quero deixar claro que a minha resposta não vem radicalmente de uma ou outra linha da psicologia, mas da minha experiência em ambas posições.

"Paciente" possui duplo significado. Do latim patientem, significa ao mesmo tempo, aquele que sofre (e neste sentido eu poderia dizer que somos todos pacientes) e aquele que sabe esperar o curso dos acontecimentos (neste sentido, com a velocidade atual da informação, somos cada vez menos). Imbuídos de ambos significados, implica-se nesta palavra, uma relação potente com outra pessoa. Um duplo ganho e um duplo trabalho. Então gostaria de registrar algumas recomendações, a se pensar, para esta identificação de paciente.

Seria interessante começar pela disponibilidade. Estar curioso e interessado no que acontece nas sessões e fazer ressonância no cotidiano. Muitas vezes esta ressonância vem naturalmente ou são tão sutis que nem são associadas à psicoterapia.

Honestidade. Não há necessidade de forçar a barra para dizer coisas que ainda não se sente à vontade, mas mentir intencionalmente não é uma estratégia, digamos, produtiva. A sinceridade não vem só da linguagem, mas também na percepção dos próprios sentimentos e emoções. É interessante na dúvida, prestar atenção em como está seu corpo, postura, batimentos cardíacos... O corpo é o termômetro e a expressão das nossas emoções.

Gentileza própria. Este é um conceito interessante, desenvolvido por aqueles que tem a paz como aspiração. Percebam que não escrevi amor próprio, porque o amor, como costumamos descrevê-lo no ocidente, pode vir as vezes de forma muito dura e intolerante. A gentileza própria pode abrir caminhos para o desconhecido de forma respeitosa, não violenta além de empurrar a honestidade.

Responsabilidade. Esta é a mais difícil, muito complexa e vai sendo desenvolvida na psicoterapia. Então, não se preocupe em carregá-la consigo na primeira sessão, tê-la como visão já é interessante. É quando tomamos responsabilidade pelos nossos atos e reações, que podemos repensá-las e elaborarmos respostas mais potentes e saudáveis.

Por fim, paciente, a paciência. Esta habilidade é delicada e por favor, não vamos confundi-la com a tolerância nem fé incondicional. Tolerância é aguentar estímulos aversivos, paciência não é bem isso. A paciência sábia é a compreensão que os processos e mudanças da vida precisam de maturação, investimento e desenvolvimento. Viver em uma sociedade do imediatismo dificulta a prática da paciência, porém, quando ela retorna a visão, abre espaço no tempo presente para mais possibilidades emocionais e ligadas a ação.

Estas recomendações são, na verdade, habilidade naturais. Estão em cada relação que estabelecemos. Na nossa intenção, adquiridas pela humildade.

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Escrito por

Felipe Octaviano

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