O adolescente e a psicoterapia de abordagem psicanalítica

Trabalhar com adolescentes em psicanálise é surpreendente, pois temos que mediar a demanda dos pais, que desejam sanar suas dificuldades e conflitos frente à criação do filho adolescente.

14 OUT 2015 · Leitura: min.
O adolescente e a psicoterapia de abordagem psicanalítica

O trabalho do psicoterapeuta inicia pelo cuidado no acolhimento do adolescente e da família. Este acolhimento começa no contato telefônico com a família e no estabelecimento dos limites terapêuticos no primeiro atendimento, sendo importante ressaltar que na psicoterapia com adolescente não existem regras definidas e sim acordos estabelecidos ao longo dos atendimentos.

Isso porque o consultório não pode ser prolongamento das instituições em que o adolescente frequenta, como a escola, e sim um lugar aonde os seus desejos precisam ser ditos, demonstrados e vividos, para que os seus conflitos internos sejam trabalhados.

O adolescente nem sempre chega ao consultório de forma espontânea, e o psicólogo necessita nesse primeiro momento trabalhar a relação transferencial que se estabelecerá durante todo o processo terapêutico. Ele precisa sentir-se acolhido e entender que o lugar da psicoterapia não é onde se encontrará culpados, mas um local aonde ele é escutado e possa dizer de seus conflitos e traçar caminhos sólidos para conduzir suas decisões de futuro.

As entrevistas iniciais norteiam o trabalho do psicoterapeuta, pois esta etapa tem a função de estabelecer questões a serem trabalhadas e possibilita o psicólogo conhecer a história de vida do adolescente.

Adolescente em transformação

O adolescente no processo psicoterapêutico traz diversas questões inovadoras como: a tecnologia, o consumo e a literatura. Temas que nos dizem sobre qual é o adolescente da época, e nos demonstra como o sujeito sofre as transformações de sua cultura e também como o sujeito modifica o seu meio social.

A tecnologia, principalmente as redes sociais, é um dos assuntos mais recorrentes nos atendimentos. Os adolescentes utilizam desses recursos para conversar com diversas pessoas, construírem relacionamentos de amizades e amorosos. Mas o que torna esse assunto interessante é o fato de o adolescente utilizar as redes sociais como uma forma de falar de si próprio, como possibilidade para criar de forma fantasiosa perfis com personalidades fictícias, e realizar desejos diversos. O adolescente utiliza da facilidade de mutação diante da tela do computador para imaginariamente criar uma imagem ideal de si próprio.

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O consumo aparece como forma de responder ao ideal social, que dita a importância do ter bens materiais para pertencer a um grupo social. Grupos estes muitos presentes na vida dos adolescentes, que se vestem e comportam de forma padronizada a certo estilo de vida. O adolescente ao pertencer a um grupo produz processos identificatórios com esse grupo, tema estudado por Freud em Psicologia de Grupo e Análise do Ego, aonde Freud discute a força que exerce um grupo ao comparar com as atitudes de um indivíduo solitário. Fato este demonstrado por diversos exemplos de situações motivadas por um grupo, que normalmente se o adolescente estivesse solitário não faria.

O tema literatura aparece sempre ligado à leitura de livros, ao cinema e a escrita particular. Os livros e o cinema são assuntos comuns ao mundo adolescente, que surgem ligados ao lazer. No entanto, a escrita entre os adolescentes é assunto que surge nos atendimentos e traz questões, pois o adolescente escreve sobre os seus sentimentos, suas dificuldades diante do mundo, mas também, os motivam a criar novas saídas frente seus conflitos.

Portanto, a psicoterapia de adolescentes é um desafio constante para o psicoterapeuta, pois o mesmo deve estar aberto e atento ao processo, pois a inovação e a construção terapêutica são simultâneas e o tempo no processo do tratamento de um adolescente não é linear e muito menos cronológico, sendo imprescindível à escuta e um trabalho transferencial constante, sendo sempre um trabalho surpreendente e motivador.

Fotos (ordem de aparição): por Alain Wibert e artsmonkey (Flickr)

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Escrito por

Iara Meireles

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