Assédio sexual ou “cantada”? Você sabe a diferença?

Quando pensamos na cultura brasileira, logo nos vem em mente a sensualidade e o erotismo presente nas vestimentas, nas danças, nas músicas e no toque interpessoal.

1 ABR 2018 · Leitura: min.
Assédio sexual ou “cantada”? Você sabe a diferença?

O assédio sexual caracteriza-se por atitudes de ameaça, coerção ou constrangimento de alguém no intuito de obter favorecimento sexual, sendo o assediador hierarquicamente superior ao assediado, sem o consentimento da vítima.

O termo "assédio" expressa o sentido de insistência, inconveniência e/ou certa perseguição em relação ao outro. Quando tentamos traçar um "limite possível" entre a zona de assédio sexual e um comportamento de flerte, podemos dizer então que uma cantada é algo pessoal, uma tentativa sedutora de conseguir um envolvimento amoroso e sexual, e o assédio, trata-se de uma questão eminentemente organizacional e criminal, já que necessita da estrutura de poder para sustentar-se e ameaçar o outro.

A cantada é uma proposta habilidosa, visando convencer o outro, através de rodeios, floreios, elogios, promessas, convites e sugestões para que o outro concorde com um relacionamento amoroso, ou seja, há um acordo consentido, uma intencionalidade por ambas as partes em buscar de cumplicidade, diferentemente do assédio. A cantada está entrelaçada pela sedução e o assédio pela ordem autoritária e perversa. Em outras palavras, a cantada promete um acréscimo, somar algo na vida do outro, é um convite à uma experiência positiva, enquanto o assédio sexual impõe uma condição e um "castigo" caso o assediador não obtenha sucesso em suas investidas.

Ao analisarmos a situação atual, é possível observar que muitos comportamentos relacionados ao assédio foram naturalizados pela sociedade e passaram a ser vistos como "cantada" ou abordagens inofensivas, incluindo as mais sutis, sendo de linguagem verbal ou não verbal. A principal maneira de assediar é continuar a se manifestar amorosamente ou de maneira inadequada a um parceiro que está apresentando sinais de desconforto e rejeição como reação a essas manifestações. Neste aspecto, percebe-se que existem poucas pesquisas sobre este tema, onde muitas vezes os limites entre assédio sexual e cantada são confundidos devido aos aspectos culturais, apesar de ser um assunto frequente na mídia.

As possíveis explicações para este quadro atual sugerem que as mudanças nas relações interpessoais e amorosas, interferiram também no relacionamento íntimo e com a chegada da internet e a utilização de sites e aplicativos de paquera ou namoro, tem se popularizado e facilitado para essas ocorrências. Além disso, o ingresso da mulher no mercado de trabalho, ocasionou transformações nos relacionamentos entre os gêneros, onde, muitas vezes até expõe a mulher em ambientes competitivos, obrigando-a a superar limites e preconceitos impostos pela sociedade. O ingresso e aumento das mulheres nas universidades e no mercado de trabalho, pode deixá-las mais propensas a situações como receber uma "cantada" ou ser sexualmente assediada.

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Escrito por

Psicóloga Luciana Marolla Garcia

Mestranda em psicologia do desenvolvimento pela UNESP Bauru, é especialista em gestão de pessoas e psicoterapia breve. Conta com formação em psicologia pela UNESP em 2002. Possui experiência na área, atuando com terapia de casal, atendimento para adultos e adolescentes.

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