A felicidade como uma questão
A noção de felicidade como todo seu espectro (ser feliz, buscar felicidade..) já foi estudada desde a Grécia antiga até os tempos atuais, onde teve inúmeras significações...
A noção de felicidade como todo seu espectro (ser feliz, buscar felicidade..) já foi estudada desde a Grécia antiga até os tempos atuais, onde teve inúmeras significações. Para o saber da psicanálise, a busca da felicidade se apresenta como um dos nomes do impossível, sendo consoante ao complexo programa do princípio do prazer (SANTIAGO, J. 2008).
Freud(1905) escreveu que o homem é um incansável caçador de prazer, onde sua vida está pautada na busca por prazer e a evitação de desprazer, pautando-se então na busca da felicidade. Porém, ao inserir-se na sociedade, Freud(1930) diz que o sujeito deve renunciar parte dos seus prazeres em prol do convívio social e em troca, recebe da sociedade alguns prazeres sedativos para suportar a vida. É a partir desses prazeres sedativos e parciais, que o sujeito gerencia sua dor de ser castrado em não poder ter uma satisfação plena.
Hoje percebemos que a felicidade se apreende numa noção de uma busca individualizada, solitária. A cultura capitalista que nos circunda, fez com que a felicidade fosse passível de ser taxada como um produto a ser vendido. Ao comprarmos um refrigerante, vemos no rótulo escrito "abra a felicidade", em lojas de eletrodomésticos, logo na entrada podemos ler "vem ser feliz", os supermercados operam com o slogan "lugar de gente feliz" e assim a felicidade vai sendo objetificada e consumida. Sendo assim, a felicidade estaria ligada a uma lógica de possessão, que pode ser traduzido em: quem tem dinheiro compra, quem não tem é infeliz.
O aspecto que funda a civilização que é a impossibilidade de satisfação plena, faz com que o sujeito busque sempre usufruir dos prazeres parciais proporcionados pelo mercado, numa lógica de consumo, o sujeito se aliena ao que lhe é oferecido numa fantasia de que determinados objetos, status e/ou ideologias lhe trarão a felicidade caso sejam comprados e consumidos. No entanto, por serem apenas sedativos, exigem um investimento constante nestes para que se haja o efeito compensatório de evitar o desprazer.
A lógica da cultura capitalista, que objetifica a felicidade como produto consumível, tem como consequência uma fantasia de facilidade em se desfazer do sofrimento, afinal, basta "abrir a felicidade" do refrigerante que as coisas milagrosamente se ajeitam. Na verdade, é só um tamponamento da dor, não fazendo com que esta deixe de existir. O que se vende indiretamente a partir destes produtos é a ideia de que é possível uma vida sem sofrimento, caso tenha dinheiro para pagar pela felicidade. A psicanálise por sua vez, vai na oposição deste discurso, resistindo a entrar nesta lógica, colocando em questão os desprazeres da vida do sujeito, negados até então.
Na clínica psicanalítica, o que se escuta dos analisandos, são discursos permeados de uma crise dessas satisfações. O sujeito que busca análise, não consegue mais tirar destes objetos, o consumo necessário para a sua satisfação, onde o sentimento de desamparo, de desgosto com a vida e de infelicidade, aparecem como prova dessa insatisfação. O processo de análise encontra justamente o limite entre essa busca da felicidade e o impossível da satisfação.
Como sair deste entrave? Pergunta cara demais para ser generalizada, necessitando sempre de um olhar individualizado. Porém, possíveis saídas são consoantes a percepção do próprio sujeito em se colocar como faltante, compreendendo que nada lhe trará satisfação plena e de que sua felicidade não é responsabilidade de nenhum objeto e nem de ninguém.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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