Transtorno de Personalidade Borderline e a psicanálise winnicottiana

O Transtorno de Personalidade Borderline se caracteriza geralmente pelo padrão difuso de instabilidade entre os relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos distorcidos, impulsividade.

30 AGO 2022 · Leitura: min.
Transtorno de Personalidade Borderline e a psicanálise winnicottiana

O Transtorno de Personalidade Borderline se caracteriza geralmente pelo padrão difuso de instabilidade entre os relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos distorcidos, impulsividade.

Os sintomas tendem a se iniciar no início da vida adulta e está presente em uma variedade de contextos. O diagnóstico está incluso na classificação de doentes mentais, o que não minimiza o sofrimento do paciente. Porém pode auxiliar contra o preconceito desses pacientes que sofrem do vazio existencial, muitas vezes sem resposta.

As características mais comuns dos pacientes borderline são, a angústia de separação, o dilema com a identidade, a clivagem, a impulsividade podendo chegar ao suicídio, são os problemas constantes na clínica dos pacientes com transtorno de personalidade borderline.

A psicanálise entra como uma busca de compreensão onde não se encontra a lógica ou sensatez e oferece a possibilidade de o paciente nestas condições encontrar uma saída para seu desespero existencial onde este se encontra muitas vezes entre o normal e o patológico.

Escolheu-se nessa perspectiva a teoria psicanalítica winnicotiana, devido ao enorme número de casos observados e tratados de forma onde a maior preocupação era a constituição do indivíduo como ser humano, visando a possibilidade de constituição de um self verdadeiro, embora os mesmos não tenham tido um ambiente suficientemente bom em sua infância. Cabendo ao psicoterapeuta estabelecer uma condição de regressão, a fim de que o paciente possa, junto com o analista ter a possibilidade de constituir um self verdadeiro, sustentando o paciente, sem invadi-lo. Desta forma podendo aliviar seu tédio e sua falta de sentido na vida.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças Mentais, como o CID 10 e DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2014), a característica essencial do transtorno de personalidade borderline, é um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, de afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, aponta um conjunto de 9 características, apontando como portador do transtorno os indivíduos que apresentarem cinco ou mais dos critérios de avaliação.O DSM-V (2014) apresentada características apenas descritivas, como;

1 - Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado;

2- Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intenso, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;

3- Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da auto imagem e de si mesmo;

4- Impulsividade em pelo menos duas áreas auto destrutivas ex.: gastos, sexo, abuso de sustância, direção irresponsável, compulsão alimentar;

5- recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento auto mutilante;

6- Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade de humor ex.: disforia episódica

7- Irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias;

8- sentimentos crônico de vazio, raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controla-la ex.: mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes;

9- ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos.

Segundo Hegenberg 2013, devido apresentar características descritivas, o DSM, não se preocupa com a compreensão do sintoma, afastando-se, portanto, da psicanálise, porém por outro lado, permitem uma linguagem comum, fundamental para pesquisas e para saber de qual tipo de paciente se fala, correndo o risco de desconsiderar a singularidade de cada indivíduo ao pensar um conceito geral de bordeline, como se todos os pacientes fossem iguais.

Diante desse novo modelo de sofrimento psíquico os psicanalistas foram buscar novos modelos de diagnósticos, que abrangessem, os traços encontrados nessas pessoas, que viviam no limite entre a neurose e a psicose.

A psicanálise conforme citada acima, trata de buscar no inconsciente e ou na história pregressa do paciente, a origem de seus traumas, repetições e comportamentos, principalmente, os comportamentos de impulsos destrutivos onde aja sofrimento psíquico do paciente.

Os pacientes sofrem tremendamente no controle das suas pulsões, tanto as sexuais como as agressivas, sofrem muito nos seus conflitos intrapsíquicos entre o eu e um supereu tirânico, têm uma dificuldade extrema de ajustar-se a realidade – ou a ela se "ajustam", mas de forma mecânica e superficial, sem vida. Seus mecanismos de controle, atenuação ou evitação das angústias são sempre ineficazes e elas proliferam em seu cotidiano, produzindo drásticas alterações de humor e movimentos radicais FIGUEIREDO, 2016, p. 21.

Para Winnicott 1945, em sua teoria do desenvolvimento emocional primitivo, diz que a maturidade não está dada, apenas por passar pelas fases do desenvolvimento humano. Desta forma o bebê nasce com uma tendencia inata integração, porém precisaria de tempo, de cuidados ambientais suficiente bons, onde o bebê teria experiências e sensações que possibilitem ao bebê, um estágio de ser.

O projeto winnicottiano se deu a partir de experiências e práticas clínicas, as quais evoluíram e se ampliaram devido a sua percepção de que para pacientes em determinados quadros clínicos, que tiveram seu desenvolvimento emocional interrompido, diante de falhas ambientais traumáticas, apresentando-se com egos fragilizados. Para Winnicott e para aqueles psicanalistas influenciados por sua obra, o tratamento psicanalítico não era exclusivamente interpretativo, mas primeiro e antes de tudo a provisão de um ambiente adequado, como se fosse um cuidado materno, um ambiente de holding (sustentação).

A análise não consiste apenas no exercício de uma técnica. É algo que nos tornamos capazes de fazer quando alcançamos um certo estágio na aquisição da técnica básica. Aquilo que passamos a poder fazer é cooperar com o paciente no seguimento de um processo, processo este que em cada paciente possui o seu próprio ritmo e caminha no seu próprio rumo. Todos os aspectos importantes desse processo originam-se no paciente, e não em nós enquanto analistas (WINNICOTT. 2000, p. 374).

Desta forma, saúde, não é apenas a ausência de doenças, encontra-se nessa teoria que ao olhar somente a questão da doença, acaba-se esquecendo de olhar a pessoa como um todo, onde apesar de apresentar problemas no amadurecimento, ainda pode haver aspectos saudáveis. A saúde, conforme o autor, está ligada a criatividade, tanto na criança que quer brincar, quanto no adulto que pode vir a brincar pela primeira vez em análise.

Cabe ao analista sustentar seu paciente sem invadi-lo, acompanhando-o em seu próprio tempo, sem apressar a fim de que o paciente possa constituir a sua subjetividade. Este seria o longo processo a ser seguido com um paciente borderline para poder ajudá-lo a encontrar algo de realmente seu, que possa aliviar seu tédio e sua falta de sentido na vida.

O tratamento, proporciona aos pacientes bordeline, a possibilidade de estabelecer uma situação onde ele possa reconstruir sua confiança no ambiente e reconstruir a segurança de que não será de privado outra vez.

A teoria winnicottiana não almeja somente a compreensão dos sintomas, mas compreender sobre as necessidades do paciente, de modo que o paciente possa ter novas experiências, além das quais o paciente possa estar habituado por conta das suas defesas primitivas e do falso self já estabelecido. Nestes casos, considera-se que a pessoa precisa primeiro, existir. Neste sentido, mesmo que o paciente ainda não esteja em si mesmo, o terapeuta se mostrará presente e disponível, esperando até que o paciente possa chegar.

Na teoria psicanalítica winnicottiana, uma clínica modificada para pacientes cujos problemas, se tratam de existir, de ser no mundo, de ter uma vida que valha a pena ser vivida, apesar das questões e falhas ambientais muito primitivas em seu processo de amadurecimento emocional, valendo ressaltar a não redução do paciente a um diagnóstico, sua subjetividade e singularidade.

Referências

HEGENBERG.M. Borderline. Coleção Clínica Psicanalítica. 7 ed. Casa do psicólogo Editora. São Paulo. SP, 2016.

FULGÊNCIO, L. Por que Winnicott? 1. ed. São Paulo: Zagodoni Editora, 2016.

DIAS. E.O. Interpretação e manejo na clínica winnicottiana. DWW Ed. São Paulo. SP. 2014.

WINNICOTT. D. W. Da Pediatria à Psicanálise: Desenvolvimento Emocional Primitivo (1945). Imago Editora. Rio de Janeiro, 2000.

WINNICOTT. D. W. O ambiente e os Processos de Maturação; os objetivos do tratamento psicanalítico (1962). Ed. Artmed. Porto Alegre. RS. 1983.

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Escrito por

Tatiana Maria Silva Gomez

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Comentários 1
  • Wilson Iversen

    Tenho 60 anos de idade,e após algumas pesquisas creio que tenho transtorno borderline. Quem devo procurar? Um psicanalista ou um psiquiatra?

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