Tecnologia e a piora da saúde mental no trabalho

A revolução tecnológica mudou a forma como trabalhamos. Trouxe aspectos positivos, como o aumento da produtividade, mas, muitas vezes, comprometeu a qualidade de vida do trabalhador.

25 MAR 2019 · Leitura: min.
Tecnologia e a piora da saúde mental no trabalho

Ao nos depararmos com o tema “a saúde psíquica do trabalhador”, várias questões nos surgem de imediato: O que é saúde? O que é saúde psíquica? Como preservá-la? Afinal qual o papel da psicologia sobre esta questão?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Autores como Freud e Reich já diziam que a saúde psíquica é a capacidade de amar, trabalhar, e viver a vida em sua plenitude.

Tecnologia e às mudanças no mercado de trabalho

É fato que a tecnologia, embora tenha muitos aspéctos positivosacelerou nosso modo de vida. Os trabalhadores tiveram que se adaptar às novas tecnologias, sendo a informática o exemplo de como a tecnologia nos escravizou ainda mais, tomando mais tempo e energia, tanto no trabalho como na vida privada. O uso da tecnologia no ambiente de trabalho diminuiu consideravelmente o número de empregos porque automatizou processos que antes eram realizados pelo homem. Assim, o trabalhador tem mais responsabilidades, mais trabalho e menos remuneração; acumulou funções, deu o salto tecnológico se adaptando a esta realidade da informatização, mas aumentou o desgaste físico e mental. 

As pessoas passaram a se sentir cada vez mais pressionadas a entregar melhores resultados e com isso, muitas vezes, nota-se um sentimento de fracasso. Esta sensação de fracasso, de não dar conta do serviço, pode levar a quadros de depressão, ansiedade, e burnout (esgotamento profissional), pois o trabalho passa a ser o grande sugador das energias do trabalhador e fonte de preocupação. 

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“Trabalhar é sofrer resistências” e o trabalhador se engaja nos esforços, em toda sua subjetividade, em sua atividade laboral  e nos relacionamentos com os colega. Portanto, afirma Chistopher Dejours, criador da psicodinâmica do trabalho, que analisa a relação prazer-sofrimento no trabalho, “falar ao colega é um modo de nos reapropriarmos de nossa inteligencia”, pois somos seres relacionais, o outro constrói minha subjetividade, e tanto no amor como no trabalho a construção da identidade é através do reconhecimento. 

Não somos máquinas

O trabalhador não é uma máquina. Logo, ele precisa interpretar as ordens e não apenas obedecer regras e normas. Marie-France Hirigoyen (pesquisadora francesa, psiquiatra, psicanalista) afirmou que na origem do sofrimento no trabalho está o isolamento das pessoas, o medo, a insegurança, a falta de reconhecimento e respeito, e, a perda do sentido. 

Nós, seres humanos, precisamos do sentido das coisas. Quando há explicações e diálogo, problemas e conflitos podem ser superados. Sem o sentido, que dá significado ao trabalho, a pessoa busca soluções equivocadas e, como não há respostas, ela pode ser violenta com o outro ou consigo mesma.

Quando há diálogo, há explicações, e isto ajuda a superar o problema, mas quando o indivíduo não entende o que aconteceu, ele não sabe o que fazer. É isto que adoece: a recusa de diálogo, que impede refletir, aparar arestas, se sentir útil e crescer no trabalho. 

A dignidade humana, portanto, tem que ser o valor supremo no entorno laboral. Para isso, é necessário resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento e o fracasso.

Por Arthur Lobato, psicólogo cadastrado para atendimento online pelo Conselho Federal de Psicologia 

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Arthur Lobato Psicólogo

Psicólogo com mais de 15 anos de experiência como consultor na área da saúde mental. Tem seu foco de atuação na saúde do trabalhador, combate ao assédio moral e psicologia clínica geral. Em sua trajetória profissional, ministrou palestras e cursos nacionais e internacionais.

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