Sobre psicoterapia de casal

Este texto ajuda a esclarecer dúvidas sobre a psicoterapia de casal, tomando como exemplo algumas situações comuns nas dificuldades de relacionamento conjugal.

1 AGO 2016 · Leitura: min.
Sobre psicoterapia de casal

Sônia conheceu Miguel numa festa. Logo se encantaram um com o outro, se apaixonaram. Não desgrudavam um do outro para nada. Resolveram morar juntos. Após três meses, o casal começou a ter sérios desentendimentos e em menos de seis meses já estavam separados.

Jorge e Lúcia estão casados há oito anos. Sempre foram vistos como casal-modelo. Bem-sucedidos, com boas relações familiares, sempre se relacionaram muito bem e fizeram juras de amor eterno. Sempre tiveram vida social intensa, muitas viagens, saídas constantes com amigos, farras, festas.

Com o nascimento da primeira filha, a vida social do casal foi brutalmente alterada. Lúcia reclama da falta de apoio de Jorge nos cuidados com a filha. Ele continua saindo com os amigos e ela fica em casa. Ela diz estar muito decepcionada com ele e não sabe mais se quer continuar casada. Ele relata que ela só reclama e faz cobranças.

Mário e Jorge se conhecem há oito anos. O relacionamento deles sempre teve altos e baixos, com alguns rompimentos e retornos. Quando Mário recebe uma proposta para trabalhar num outro país, Jorge o acompanha. Vão morar juntos. Mário é bem-sucedido e Jorge é estudante universitário. O relacionamento que sempre foi conturbado piora quando vão morar juntos. A vida em outro país, sem apoio de amigos e familiares, a rotina têm desgastado o relacionado deles.

Fabrício casou-se com Camila há quatro anos. Namoraram cerca de cinco anos antes do casamento. Fabrício já foi casado com Antônia, com quem tem uma filha adolescente. Antônia nunca aceitou o novo relacionamento de Fabrício, destratando a esposa atual dele publicamente e influenciando negativamente a filha.

Camila sempre ajudou Fabrício a cuidar da filha nas visitas da garota nos finais de semana, mas agora que a garota entrou na adolescência e com o nascimento do filho do casal, a relação com a filha de Fabrício foi alterada. Os aborrecimentos com a garota levam Camila a se desentender frequentemente com Fabrício. Ela não se sente compreendida e acha que ele sempre fica do lado da filha.

Gustavo e Fabiana são casados há 12 anos. Ele sempre foi independente. Nunca se imaginou casado. Ela sempre sonhou em se casar, ter filhos e viver feliz com Gustavo. Ele é muito quieto e reservado, não gosta de falar de si. Ela é muito sociável e gosta muito de conversar sobre os problemas. Quando eles brigam, ela quer conversar e ele não diz nada. Recentemente, Fabiana descobriu uma nova traição de Gustavo. Segundo ela, ele não teve mais como negar.

Vera é muito ciumenta. Todos os seus relacionamentos anteriores sempre foram muito conturbados por conta da sua obsessão e controle. Hoje, ela é casada com Pedro. Pedro já faz ameaças de terminar o relacionamento. Ele não pode olhar para o lado, não pode usar as redes sociais, o celular e ela fiscaliza tudo.

Os nomes e trechos das histórias contadas foram inventados como exemplos para se pensar sobre os motivos que levam os casais a procurarem uma psicoterapia de casal. São exemplos de situações que mobilizam, muitas vezes, a busca pela psicoterapia.

Como se percebe, as situações são diferentes. Casais que se relacionavam bem e com o nascimento de filhos, os desentendimentos passam a ocorrer. Casais que não se relacionavam bem na época do namoro e com o casamento, a relação piora. Casais com dificuldades nos relacionamentos com enteados, ex-cônjuges, relacionamentos homoafetivos, heterossexuais, famílias reconstituídas, juras de amor e brigas, desentendimentos... Onde está o problema? Vale a pena procurar uma ajuda profissional?

Cada um avalia a sua "dor" na sua história. Cada um vai avaliar quando é o momento certo. Nem sempre as pessoas estão prontas para iniciar um processo psicoterapêutico. Cada um tem o seu tempo, mas talvez o melhor momento seja quando ambos percebam que a comunicação entre eles esteja falhando. Quando um fala e o outro 'dá as costas', batem portas, ficam incomunicáveis. Quando ambos falam, mas não há escuta às queixas de cada um. Problemas de comunicação é a diretriz principal para a psicoterapia de casal.

A psicoterapia para o casal

Durante boa parte do processo psicoterapêutico, muitas vezes, um reclama do outro. É sempre o outro que é o causador das situações. O objetivo da psicoterapia é, logo no início, romper com esta dinâmica em que cada um resiste a ver a sua contribuição no conflito e na dinâmica do relacionamento. As intervenções na psicoterapia de casal não são individuais, sobre o comportamento de um ou de outro, mas sobre a relação do casal. O psicoterapeuta não vai tomar partidos. A proposta é justamente rever tais posicionamentos adversários.

A psicoterapia de casal salva o casamento?

O objetivo da psicoterapia é melhorar a comunicação do casal, rever dificuldades, buscar melhorias para o relacionamento. Na maioria das vezes, quando se conta com o comprometimento de cada um, as relações melhoram. Mas quando, por exemplo, o relacionamento é ruim, as relações são desrespeitosas e não se aceita a separação, suportando comportamentos inadequados, sendo humilhado pelo outro etc., a psicoterapia de casal nem é indicada. Cabe muito mais uma psicoterapia individual.

Quando a psicoterapia de casal não se aplica?

A psicoterapia de casal não se aplica a todas as situações de insatisfação conjugal. Muitas vezes, as pessoas marcam o atendimento e já prontamente, reavaliamos esta indicação. Por exemplo, quando já não existe mais respeito um pelo outro e as ofensas e ataques são constantes. Quando um quer a psicoterapia e o outro não quer. Ninguém pode ser obrigado a fazer psicoterapia.

Uma pessoa pode passar a mudar de ideia e se interessar pela psicoterapia, mas ela é contraindicada para quem que, por algum motivo, se sinta obrigado a fazê-la. Isto costuma ocorrer quando a pessoa se sinta pressionada pelo outro, por exemplo quando entende que se não aceitar a psicoterapia, o casamento está terminado. Algumas vezes, indico a psicoterapia individual para determinadas situações ao invés da psicoterapia de casal ou uma psicoterapia individual como complementar.

Por exemplo, quando se percebe que alguém possui muitas questões individuais que não serão trabalhadas numa psicoterapia de casal. O foco da psicoterapia de casal é o relacionamento conjugal, as satisfações e as insatisfações conjugais. Só serão trabalhadas questões individuais que interfiram no relacionamento do casal.

Posturas do psicoterapeuta de casal

O psicoterapeuta de casal não está a favor de um contra o outro. Busca ajudar o casal a se perceber como uma dupla, um grupo, e não como indivíduos isolados. Minha estratégia no atendimento de casais busca agendar alguns encontros individuais para fazer um levantamento de histórico de vida e histórico familiar e para orientar cada um nas suas dificuldades de relacionamento com o outro. Estes encontros só ocorrem se o casal concordar.

Numa perspectiva sistêmica chamada de "novo-paradigmática", o terapeuta não vai dar as soluções para a vida do casal, mas vai contribuir para que o casal encontre as saídas para seus conflitos. O psicólogo não é um conselheiro que diz o que as pessoas devem fazer. Também não julga quem está certo e quem está errado.

Numa lógica compreensiva, o psicoterapeuta possibilita maior autoconhecimento sobre o relacionamento conjugal, auxiliando num processo de análise de problemas e busca de potencial para resolução das situações. Nesta modalidade de psicoterapia sistêmica, não existe um modelo a ser seguido para todos. E está ai a sua importância, por trabalhar em cima da singularidade de cada situação.

Os atendimentos obedecem aos princípios éticos para a conduta profissional de psicólogos, resguardando a todos o sigilo, o respeito, o cuidado.

A procura parte mais da mulher

Na maioria das vezes, nem sempre, mas na maioria das vezes, é a mulher que propõe a psicoterapia de casal para "salvar" o relacionamento. Nem sempre o companheiro quer. Algumas vezes, na minha prática profissional, aconteceram situações em que as mulheres agendaram o atendimento, combinando com seus maridos. Eles concordaram, mas não compareceram ao atendimento. Elas compareceram e eles não.

Muitas delas, entram aos prantos no consultório, aborrecidas, porque eles disseram que viriam e não avisaram sobre a ausência. Este exemplo já mostra que só se faz a psicoterapia de casal quando ambos estão interessados e comprometidos com a proposta de melhorar o relacionamento, rever suas dificuldades na relação com o (a) companheiro (a).

O exemplo mostra também as dificuldades de comunicação do casal. Em algumas vezes, o companheiro disse que viria ao atendimento para não a desagradar, que vem só para acompanhá-la, que ela precisa mais do que ele.... Obviamente, que ninguém faz psicoterapia para acompanhar ou agradar o outro.

Quando procurar uma psicoterapia de casal?

Primeiramente, quando avaliar que existe uma insatisfação conjugal, problemas de comunicação, a exemplos das seguintes situações: desentendimentos constantes; decepções e mágoas; situações de traição; agressões, ironias, falta de diálogo; dificuldades no relacionamento sexual; dificuldades financeiras que interfiram no relacionamento do casal etc.

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Escrito por

Psicóloga Cristina Aparecida da Silva

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