Reflexões sobre inclusão de crianças autistas nas escolas primárias

Buscamos em uma breve descrição sobre autismo ampliar o conhecimento adequado sobre as dificuldades enfrentadas pelos portadores de Transtorno do Espectro Autista.

22 AGO 2016 · Leitura: min.
Reflexões sobre inclusão de crianças autistas nas escolas primárias

O Transtorno do Desenvolvimento Nneurológico (TEA) é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos.

Embora todas as pessoas com TEA partilhem essas dificuldades, o seu estado irá afetá-las com intensidades diferentes. Essas dificuldades podem existir desde o nascimento e serem óbvias para todos; ou podem ser mais sutis e tornarem-se mais visíveis ao longo do desenvolvimento, podendo ser observada com maior intensidade na adolescência.

Mas pode não ser detectado antes, por conta das demandas sociais mínimas na mais tenra infância, e do intenso apoio dos pais ou cuidadores nos primeiros anos de vida. O que se sabe até o momento é que o autismo é uma condição permanente, a criança nasce com autismo e torna-se um adulto com autismo.

Os portadores de TEA podem ser associados com deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora e de atenção e, às vezes, as pessoas com autismo têm problemas de saúde física, tais como sono e distúrbios gastrointestinais e podem apresentar outras condições como síndrome de déficit de atenção e hiperatividade, dislexia ou dispraxia e ainda podem na adolescência desenvolver ansiedade e depressão.

O enquadramento faz-se necessário para descartarmos outros tipos de déficit ou qualquer má interpretação por parte de pais e educadores já que há uma grande tendência a rotulação de crianças/ adolescentes e suas formas comportamentais.

Algumas distinções entre os transtornos têm se mostrado inconsistentes com o passar do tempo, observamos variáveis dependentes do ambiente, e frequentemente associadas à gravidade, nível de linguagem ou inteligência, parecem contribuir mais do que as características do transtorno, por exemplo: atrasos de linguagem não são características exclusivas dos transtornos do espectro do autismo e nem universais dentro dele. O diagnóstico adequado requer a habilidade de um profissional, de análises para diferenciação de comorbidades psicopatológicas e afastamento do senso comum.

Como o professor pode identificar um aluno com tea

Há uma enorme variedade em termos de comportamento (gravidade dos sintomas), por isso o aluno avaliado de forma individualizada terá melhor acompanhamento. Ressaltamos aqui a importância do diagnóstico por parte de um profissional, mas podemos sugerir a observação do aluno para saber se há:

  • Reduzida manutenção do contato visual;
  • Atraso na aquisição da linguagem;
  • Não responder ao ser chamado pelo nome, parecendo surdo;
  • Risos e movimentos pouco apropriados e repetitivos, constantemente ou quando entusiasmado;
  • Manipulação de dedos ou mãos de forma peculiar;
  • Ecolalia imediata (repetição do que outras pessoas acabaram de falar) ou ecolalia tardia (repetição do que outras pessoas falaram há algum tempo, repetição de comerciais de TV, de falas de filmes ou novelas etc.).
  • Produção frequente de vocalizações sem uso funcional;
  • Isolamento social, interagindo menos do que o esperado para crianças da sua idade;
  • Preferência por interações com adultos, conversando por muito tempo sobre tópicos avançados para a sua faixa etária;
  • A intenção comunicativa e a interação ocorrem preferencialmente para suprir as suas necessidades e/ou explanar os tópicos de seu interesse;
  • Manipulação de objetos e brinquedos de maneira não habitual;
  • Presença de respostas anormais a barulhos e tato;
  • Prejuízo da crítica em relação a situações de perigo;
  • Capacidade de imaginação, fantasia e criatividade reduzidas;
  • Interesses específicos muito exagerados, que comprometem as interações sociais com colegas;
  • Rigidez no comportamento e rotinas.

Alternativas para que a inclusão seja feita eficazmente

Apesar do recente incremento nas matrículas de alunos com autismo no ensino comum, sua aprendizagem e mesmo participação nas atividades escolares ainda se constituem um desafio para os educadores.

Considerando as características dos alunos que apresentam o quadro diagnóstico de autismo, após compreender as implicações de ter um aluno com esta condição em sua classe, a principal demanda dos professores, é saber como desenvolver práticas de ensino que favoreçam o seu processo de inclusão e aprendizagem. Precisamos quanto educadores refletir sobre os principais pressupostos teórico-metodológicos do currículo, no contexto das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica.

"Até agora, os sistemas de ensino têm lidado com a questão por meio de medidas facilitadoras, como cuidadores, professoras de reforço e salas de aceleração, que não resolvem, muito menos atendem o desafio da inclusão. Pois qualificar uma escola para receber todas as crianças implica medidas de outra natureza, que visam reestruturar o ensino e suas práticas usuais e excludentes. Na inclusão, não é a criança que se adapta à escola, mas a escola que para recebê-la deve se transformar."

Na fala da professora da Unicamp e especialista em inclusão Maria Teresa Mantoan, fica claro que ao longo dos anos foi travada uma batalha para que o cenário educacional de portadores de alguma deficiência pudesse sofrer mudanças significativas.

A educação inclusiva tem uma importância social fundamental e primordial, porque educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiência têm oportunidade de preparar-se para a vida na comunidade. A instituição escolar se transforma num ambiente onde todos os alunos, recebem a mesma oportunidade e com a garantia de que suas especificidades serão respeitadas.

Na mensagem transmitida pela Conferência Mundial de 1994, da Unesco, sobre Necessidades Educacionais Especiais, observamos o seguinte:

"A educação é uma questão de direitos humanos e os indivíduos com deficiência devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos. Com salas de aulas provedoras de conhecimento, convivência e de cooperação entre todos. Um local onde as necessidades dos alunos, sem distinção são satisfeitas."

O professor que trabalha com a iniciação e inclusão escolar em algum momento pode se sentir incapaz ou limitado na interação com o aluno, podendo produzir uma sensação de derrota. Mas devemos ressaltar que a habilidade de interação necessária deve ser desenvolvida de forma a maximizar a tríade formada pela: comunicação, interação social e uso da imaginação e assim instigar a capacidade de desenvolvimento de cada aluno.

Podemos citar algumas estratégias para o aperfeiçoamento desta inclusão

  • Consultar não só profissionais, mas a comunidade, permitindo por exemplo que os pais e mães participem efetivamente da criação das políticas públicas, como também na política das escolas e os gestores não deverão fazer estas políticas sozinhos;
  • Também deve ser permitida a participação na implantação, acompanhamento e avaliação, que, em geral, ocorrerá por Conselhos;
  • Manter a estrutura e organização adequadas da sala de aula para facilitar a compreensão do ambiente e desenvolvimento do potencial;
  • Preparação dos alunos para receber o colega com necessidades educacionais especiais;
  • Estratégias para estimular a interação do aluno especial com os outros alunos;
  • Material pedagógico adaptado para alunos com atendimento diferenciado;
  • Investigar se as necessidades básicas da criança estão sendo supridas;
  • O envolvimento das esferas: municipal, estadual e federal visando o bem-estar dos diagnosticados;
  • Incentivo e capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista junto aos pais e responsáveis;
  • Contribuir para que pais e responsáveis tenham conhecimento de métodos que possam auxiliar a comunicação e interação social e redução das estereotipias em casa, já que o trabalho iniciado na escola/terapia deve continuar no seu lar;
  • Criação de uma rede de apoio, com feiras, seminários e palestras com diversas temáticas, envolvendo governo, pais, comunidade, parceiros e escola;
  • Plantões com profissionais para esclarecimentos de dúvidas e supervisão do trabalho dessa rede de apoio;
  • Aprofundar a compreensão sobre os princípios e os fundamentos da organização escolar e das necessidades apresentadas por cada uma delas para adaptações;
  • Refletir sobre os desafios e as possibilidades do Ciclo de Alfabetização para as escolas do campo (nesse caso do bairro);
  • Ampliar os conhecimentos sobre a Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, dialogando com práticas pedagógicas realizadas em turma do Ciclo de Alfabetização;
  • Compreender a importância da diversidade linguística no Ciclo de Alfabetização, as implicações dessa diversidade para o currículo e seus desafios na melhoria da educação básica.
  • O processo para a inclusão de crianças com autismo, embora tenhamos observado os avanços com a conquista na legislação por exemplo, requer um cuidado que envolve não somente a família e escola, mas também o apoio e conscientização da sociedade e de maiores investimentos por parte do nosso governo.
  • Precisamos compreender que há um processo a ser seguido, e dentro deste processo a compreensão de que é exigido adaptações para as necessidades especiais educacionais que essas crianças exigem.
  • Cada criança possui uma possibilidade diferente de desenvolvimento e exige uma prioridade de exploração na construção do sistema de comunicação e linguagem. Ao estabelecer essas relações outras expressões de emoções, sentimentos e afetos darão margem para a integração regular.

A educação é uma das formas mais efetivas para ajudar essas crianças. Talvez se faça necessário a presença de um professor auxiliar e outras adaptações terão que ser feitas, porém esse aluno pode aprender tanto em uma sala de aula especial como em uma sala de aula regular. É bem verdade que haverá um trabalho extra para estabelecermos metas e cumpri-las quanto a educação especial, mas lembremos que esta idade é a mais propensa para modificações, e que os esforços empregados de forma adequada serão recompensados.

Os órgãos competentes também desempenham papel fundamental na adaptação destas crianças. Cumprir a lei conferindo o diagnóstico ajudara a escola e família a compreender o que se passa com seu filho. Se a criança chega nas séries que devem ser alfabetizadas sem as informações adequadas poderá impedir o desenvolvimento adequado da criança, elas merecem e devem de adaptar ao meio social, buscando sua independência e reconhecimento como pessoa.

Foto: por cristina (Flickr)

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Escrito por

Andréia Ferreira

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