Preciso de um diagnóstico?

Qual a importância do diagnóstico para o paciente? Até que ponto ele pode ser benéfico ou não? E a quem interessa o aumento expressivo de pessoas diagnosticadas com o transtorno de ansiedade

6 DEZ 2020 · Leitura: min.
Preciso de um diagnóstico?

Muito se fala sobre transtornos de ansiedade e o aumento exponencial de pessoas com depressão. De acordo com a OMS, só a população brasileira representa 9,3% de transtornos de ansiedade no mundo.

De acordo com os autores de A Tristeza Perdida (2010), através de uma perspectiva psiquiatra e sociológica, pesquisas relacionadas ao tema, bem como artigos e medicamentos tem tido crescimento nos últimos anos. A questão levantada pelos autores foram: com base em tanto investimento, por que os números só aumentam ao invés de diminuir?

A quem de fato interessa esse aumento?

Por um lado, vemos que as indústrias farmacêuticas representam um dos segmentos mais ricos do mundo. E pelo outro, do ponto de vista do paciente, ter uma justificativa para seus comportamentos e sentimentos, até então estranhos a ele, pode ser reconfortante, aliviador. Mas qual é o impacto disso?

Muito longe de deslegitimar a importância do diagnóstico para direcionamento de um tratamento, trato aqui da importância de um cuidado do diagnóstico associado a uma compreensão do contexto do paciente.

Em suma, os autores relacionaram o novo DSM V com o aumento dos casos quando perceberam que a ampliação das características para se estabelecer um diagnóstico tornou tendenciosa a atribuir os sintomas com os transtornos. Uma evidência contundente é que na versão anterior, o livro possuía cerca de 130 páginas (década 50), enquanto que a versão atual possui 900.

Ora, uma vez diagnosticados, os comportamentos justificados e em ultima instância, os sintomas anestesiados pela medicamentalização, para onde vai a elaboração da angústia? Para onde vai a necessidade de ter seus sentimentos, únicos e representantes da sua essência , compreendidos? Sobra espaço para a particularidade do seu momento de vida?

Vale a pena ressaltar que toda dor é legítima. Ter uma crise de ansiedade, seja por um evento futuro ameaçador, quanto por não ter nada aparentemente acontecendo que te faz sentir refém de uma série de sintomas negativos como: palpitação, medo de morrer, suor frio e angústia, merecem a devida atenção. Mas buscar pela eliminação do sintoma por si só e não entender os motivos por trás, só reforça um distanciamento maior entre si mesmo e essa dependência de um alívio externo.

Além disso, diante de um momento no qual temos sempre as respostas prontas no Google, remédios para todos os males, oferta de consumo desenfreada e exigência de um modelo do "ser ideal", será que perdemos o direito de sentir angústia?

Recomendo a leitura e reflexão.

Referência Bibliográfica:

HORWITZ, A. V.; WAKEFIEL, J. C. A tristeza perdida: como a psiquiatria transformou depressão em moda. São Paulo, 2010.

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Escrito por

Thais Souza

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