Por que emoções podem tornar impraticáveis hábitos saudáveis?

Gostaria de colocar evidência em um problema bastante comum: o deslocamento de afetos e como isso torna muito difícil a prática de hábitos saudáveis em nosso cotidiano.

4 SET 2017 · Leitura: min.
Por que emoções podem tornar impraticáveis hábitos saudáveis?

Há um problema que penso ser comum e que chamou minha atenção recentemente: o fato de algumas pessoas terem boas e muitas informações a respeito de o que seriam hábitos saudáveis, mas não as colocarem em prática. Mais que enxergar isso em pessoas próximas, imagino ser este um problema generalizado e não restrito ao Brasil.

Explico.

Para os que têm acesso à internet, informações compreensíveis de profissionais qualificados sobre o que são hábitos alimentares saudáveis são bastante acessíveis. Evidentemente, não direi nada a esse respeito, levando em conta não ser um profissional da área, muito menos alguém especializado. De qualquer forma, perceber o grande número de alimentos que não nos fazem bem e que, inclusive, prejudicam bastante a saúde, é algo muito rápido de ser feito. Logo, não é a ausência de informação ou de acesso a ela o que, muitas vezes, origina esse problema. Imagino haver muitos leitores que sabem do que estou falando e não conseguem colocar em prática as informações que detêm.

É claro que não escrevo para levantar críticas. Aliás, escrevo em defesa da solução do que penso ser um problema atual. Como seria possível manter uma alimentação saudável se não há tempo para preparar a comida? Ou, ainda, como se alimentar de comidas frescas se não há tempo para mantê-las sempre frescas em casa?

Entre tudo isso, deixo a questão: por que não é possível colocar em prática os conhecimentos adquiridos sobre a saúde e a qualidade de vida? Há inúmeras respostas possíveis e também atitudes de diferentes níveis a serem tomadas. Dentre elas, há uma área diretamente relacionada à psicoterapia que pode auxiliar na solução deste problema, razão pela qual abordo estes pontos.

A questão que quero evidenciar é a do deslocamento de afetos, algo que devo esclarecer. É comum sentirmos raiva no trabalho, por exemplo, quando algum procedimento ocorre de maneira errada ou quando alguém da equipe cria problemas. As situações de estresse no trabalho podem ser intensificadas a ponto de deslocarmos essas emoções para outros lugares, como o preparo da comida. Situações em que nos vemos frente à constatação de que não queremos preparar a comida, saboreá-la, às vezes, inclusive, nem a mastigar. Este é um exemplo simples, mas que evidencia meu argumento.

Ao deslocarmos nossas emoções de lugares diferentes estamos tentando acalmar aquela emoção que foi criada. No entanto, o resultado obtido é apenas a intensificação da emoção, o que a longo prazo pode influenciar na construção de problemas como a obesidade, o aumento da pressão arterial, o sedentarismo e a quebra de vínculos afetivos importantes.

Neste contexto, a psicoterapia atua na identificação tanto das emoções quanto dos deslocamentos, oferecendo possibilidades de organização dos problemas, o que pode promover suas soluções. Há um mecanismo essencial na psicoterapia que torna isso tudo possível: a verbalização. Algo que parece simples à primeira vista. Refiro-me aqui, no entanto, à capacidade de colocar palavra para nomear as situações vividas e as emoções sentidas nessas situações. Quando isso é possível, pode-se pensar na situação, focar sua atenção àquilo. Além disso, em uma psicoterapia, este processo de verbalizar e pensar será feito em dupla, o que intensifica as possibilidades de visualizar as situações, os conflitos e emoções e, também, de construir soluções.

Assim, com a ajuda da psicoterapia, hábitos saudáveis, como alguns relacionados à alimentação, podem se tornar possíveis e ser colocados em nossa prática cotidiana.

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Escrito por

Guilherme Geha dos Santos

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