Os símbolos obscuros do conto João e Maria

Minha interpretação do conto João e Maria a partir de um curso que fiz de contos de fadas: A linguagem do imaginário.

13 AGO 2014 · Leitura: min.
Os símbolos obscuros do conto João e Maria

Às margens de uma extensa mata existia, há muito tempo, uma cabana pobre, feita de troncos de árvore, na qual morava um lenhador com sua segunda esposa e seus dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a menina, Maria. A vida sempre fora difícil na casa do lenhador, mas naquela época as coisas haviam piorado ainda mais: não havia comida para todos.

  • mata: inconsciente.
  • cabana pobre: sem força psíquica, pobre de orientação materna e paterna, pobre de valores e de afeto.
  • Não havia comida para todos: não havia alimentos para a psique, formas de tornar conteúdos inconscientes em conscientes.

-Há uma solução… - disse a madrasta, que era muito malvada. Amanhã daremos a João e Maria um pedaço de pão, depois os levaremos à mata e lá os abandonaremos.

  • Madrasta má: aspecto da psique manipulador e cruel, que pretende enganar a própria psique para dominá-la.
  • Dar um pedaço de pão a Joao e Maria: enganar os conteúdos positivos da psique que ainda estão infantis, dando-lhes comida, alimento para assim que entrarem em contato com o inconsciente morrerem por não estarem maduros o suficiente.

O lenhador não queria nem ouvir falar de um plano tão cruel, mas a mulher, esperta e insistente, conseguiu convencê-lo. No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado tudo, e Maria desatou a chorar.

  • Lenhador: aspecto masculino que está tão fragilizado que é submisso ao aspecto negativo feminino. Maria chorando: princípio feminino materno ainda infantilizado e frágil.

-Não chore, tranquilizou-a o irmão. Tenho uma ideia.

  • Irmão: animus, aspecto masculino positivo que está tentando achar uma solução para as pragas que a madrasta coloca.

...saiu da cabana, catou um punhado de pedrinhas brancas que brilhavam ao clarão da lua e as escondeu no bolso.

  • Pedras que brilhavam: resgatou a memória feminina.

As crianças foram com o pai e a madrasta cortar lenha na floresta e lá foram abandonadas. João havia marcado o caminho com as pedrinhas e, ao anoitecer, conseguiram voltar para casa. O pai ficou contente, mas a madrasta, não. Mandou-os dormir e trancou a porta do quarto. Como era malvada, ela planejou levá-los ainda mais longe no dia seguinte.

  • João marcando o caminho: usou o aspecto masculino lógico e objetivo para voltar para a casa, porém só conseguiu isso com a memória feminina. Esperaram a lua brilhar, novamente aspecto feminino materno dando luz ao caminho que deveriam seguir.
  • Maria desesperada só chorava: interroga o princípio masculino paterno que ainda era submisso.

- Não chore Maria, disse João. Agora, só temos é que seguir a trilha que eu fiz até aqui e ela está toda marcada com as migalhas do pão. Só que os passarinhos tinham comido todas as migalhas de pão deixadas no caminho.

  • Não chore Maria, disse João: princípio masculino abraçando o feminino, o confortando e acolhendo-o.
  • Pássaros comerem as migalhas de pão: o princípio masculino alimentou os pássaros, símbolo de mensageiro, ou seja, o masculino (animus) se comunica com o inconsciente para ajudá-los.
  • Foram acordados por um pássaro branco: aquele que guia e os guiou até a casa da bruxa, sombra negativada tentando enganar a psique.

De repente, apareceu uma velhinha, dizendo: -Entrem, entrem, entrem, que lá dentro tem muito mais para vocês. Mas a velhinha era uma bruxa que os deixou comer bastante até cair no sono em confortáveis caminhas.

  • Velha: princípio materno negativado que tenta enganá-los com comida. Mas que por outro lado os ensinará a crescer e evoluir psiquicamente.

Observação: muitas vezes em nossas vidas, algo nos chama atenção com cores e sabores deliciosos e acabamos sendo levados por isso que aparentemente parece bom. Depois percebemos ficamos trancafiados por aquilo e enquanto não enxergarmos a realidade, lidarmos com ela e lutarmos contra o que está negativado em nós, não conseguiremos evoluir psiquicamente.

Porém a velhinha era uma bruxa malvada que e aprisionou João numa jaula para que ele engordasse. Ela queria devorá-lo bem gordo. E fez da pobre e indefesa Maria, sua escrava.

  • Bruxa: agente transformativo, aspecto negativo e devorador que quer comer a criança por ser símbolo de criatividade e imaginação. Na história ela prendeu o masculino que era mais forte para o feminino reagir. A bruxa provocará o crescimento do animus e da anima. Maria, escrava da Bruxa: Maria estava infantilizada demais, fragilizada e virando escrava da Bruna ela aprenderá a realizar algumas atividades nunca aprendidas antes.

-Esse menino, não há meio de engordar.

  • Menino enganando a bruxa: princípio masculino já mais evoluído, foi prolongando e enganando o aspecto negativo materno até que Mariazinha estivesse preparada para reagir.

Ela empurrou Maria para perto do forno e disse: -Entre e veja se o forno está bem quente para que eu possa colocar o pão. A bruxa pretendia fechar o forno quando Maria estivesse lá dentro, para assá-la e comê-la também, mas Maria percebeu a intenção da bruxa e disse: -Ih! Como posso entrar no forno, não sei como fazer? -Menina boba! disse a bruxa. Há espaço suficiente, até eu poderia passar por ela.

A bruxa se aproximou e colocou a cabeça dentro do forno. Maria, então, deu-lhe um empurrão e ela caiu lá dentro. A menina, então, rapidamente trancou a porta do forno deixando que a bruxa morresse queimada. Maria foi direto libertar seu irmão.

  • Percepção de Maria: princípio feminino positivo e evoluído não mais fragilizado, percebeu as intenções da bruxa e conseguiu usar a lógica de seu princípio masculino positivo.
  • Reação de Maria: princípio feminino positivo reagiu a tentativa da sombra de engolir e comer sua criatividade e imaginação.
  • Libertar o seu irmão: não existe mais dicotomia, os dois se abraçam e se completam - animus e anima. Acharam cofres de pérolas (princípio feminino) e pedras preciosas (princípio masculino).

Depois de muito andarem atravessaram um grande lago com a ajuda de um cisne.

  • Lago: fluxo de vida, dando continuidade a individuação.
  • Cisne: lado instintivo que a consciente permitiu aparecer para ajuda-la, isso não acontecia no começo da história.

A madrasta havia morrido de fome e o pai estava desesperado com o que fez com os filhos. Quando os viu, o pai ficou muito feliz e foi correndo abraçá-los. Joãozinho e Maria mostraram-lhe toda a fortuna que traziam nos seus bolsos, agora não haveria mais preocupação com dinheiro e comida e assim foram felizes para sempre.

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Escrito por

Beatriz Bassalobre

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