“Comunidade Terapêutica – Entre a Motivação e a Evasão”

Após um primeiro contato com a Novo Rumo, começamos um processo de investigação para o levantamento da demanda necessária para o intervenção. Foi construído um instrumento para a coleta de dados baseado nos pressupostos da psicologia do "Desenvolvimento evolucionista, da psicologia transcultural e da psicologia da cultura, considerando-se os aspectos da história filogenética humana, do desenvolvimento ontogenético e o contexto sociocultural" (Martins; Vieira, 2010), a fim

de mapear e identificar uma demanda específica dentro do universo apresentado pela comunidade terapêutica em questão. Assim, por força de circunstâncias provocadas pela pandemia de coronavírus, o estágio teve dois momentos distintos: o pré e o durante a pandemia.

Os dados iniciais, foram obtidos entre 21/02 e 10/03/2020, sendo entrevistados 12 residentes. Após esta data, o trabalho foi interrompido devido às restrições a visitas, reuniões e à suspensão dos estágios, impostas pelas autoridades de saúde pública e por orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O retorno à Novo Rumo ocorreu apenas no dia 15 de junho, quando foi constatado que dos 12 residentes que responderam ao atendimento apenas 02 (dois) permaneciam em tratamento na Comunidade Terapêutica.

Dessa forma, surgiu a necessidade de criar um novo instrumento para investigar e avaliar o fenômeno de evasão em comunidade terapêutica, com base teórica fundamentada na terapia cognitivo-comportamental de Aaron Beck, e em Frederic Skinner, precursor do Behaviorismo radical, cujos trabalhos inspiraram o psiquiatra e pesquisador George De Leon[1] a afirmar, em 2008:Para De Leon (2008) a questão da motivação interna e da capacidade de manter o compromisso é fator determinante do sucesso na recuperação. Segundo ele, a maior parte dos dependentes químicos buscariam o tratamento por um conjunto de pressões externas e internas que servem como motivadores apenas no início do processo. O que motivaria o dependente químico a continuar em tratamento por tempo mais prolongado seria, justamente, a sua capacidade de compromisso pessoal com a sua própria recuperação, assim como com o programa oferecido pela CT. (apud PERRONE, 2019, p.150).

Este novo instrumento foi criado com o propósito de mensurar a motivação que leva o indivíduo para o tratamento. Foi criada a base para a coleta de dados, com perguntas fechadas para indicar a motivação que os levou para a comunidade, e que motivações contribuem para a sua permanência, e com perguntas abertas para checar as suas crenças e pensamentos disfuncionais.

Para trabalhar este conteúdo foi adotada a entrevista motivacional, associada à aplicação do Guia de Aplicação e Interpretação da SOCRATES 8D[1], com o objetivo de verificar o estágio da mudança.

De acordo com Perrone (2012) "Para De Leon (2008) a questão da motivação interna e da capacidade de manter o compromisso é fator determinante do sucesso na recuperação".

[1] A escala Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale (SOCRATES) foi originalmente concebida em 1987 por William Miller com o objetivo de avaliar em qual dos cinco estágios de mudança (Prochaska & DiClemente, 1982) se encontravam os indivíduos em tratamento devido a problemas de álcool.a motivação para tratamento é algo de suma importância para o sucesso do usuários de álcool e outras drogas

[1] George De Leon, autor de "A Comunidade Terapêutica – Teoria, Modelo e Método", Edições Loyola, 2003; internacionalmente conhecido no tratamento do abuso de substâncias, aclamado como a principal autoridade na pesquisa sobre comunidade terapêutica; Doutorado em psicologia pela Universidade de Columbia; PhD, professor clínico de Psiquiatria na New York University.

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