Motivações psicológicas das drogas
O que leva uma pessoa a se drogar? Que motivações teria para se lançar nesta busca? Isto é o que aborda este artigo. Busca dar uma orientação tanto para quem tem este problema.
A psicoterapia visa resolver a emotividade ligada e, por isso tem a função de intermediar a motivação inconsciente, de resignificar a energia atuante. As influências do passado somadas às interações do presente, quando não reconhecidas determinam escolhas contrárias à intenção original da vida.
O indivíduo só se liga afetivamente a um determinado objeto impróprio por substituição a um afeto fixado, não evoluído: é a energia psíquica bloqueada que impossibilita o indivíduo a escolher objetos que realizem seu devir histórico.
Um afeto inicial preso a alguém que é incapaz de responder aos apelos da vida, por carências pessoais, imprime uma diretiva no psiquismo, que desencadeia sucessivas frustrações. É um complexo que impede o próprio indivíduo a decidir-se em prol da intencionalidade de sua vida.
Tudo isto porque o indivíduo, desde a sua infância, esteve ligado afetivamente a alguém que tinha limitadas condições de promover a sua vida. Antes, este alguém precisou da criança para preencher lacunas pessoais como, carência de afeto, descarga agressiva, etc. O filho transforma-se então num efeito de um problema não resolvido do progenitor ou de seu representante.
Há adultos que absorvem o afeto dos filhos por se sentirem incapazes de se finalizar afetivamente no parceiro escolhido ou ausente. O problema do sexo-afetivo, embora encoberto, de um progenitor desvirtua a intencionalidade original da vida de um dependente e este passa a ser manipulado em função de cobrir carências do adulto.
Isto possibilita inserir uma intenção estranha no dependente que é a de resolver o problema não resolvido pelo adulto. O filho não é gerado e educado para uma realização pessoal sua, mas em função de atender adultos não realizados.
Baseado na solução encontrada através da Psicoterapia aos dependentes químicos se resume no seguinte: A droga não constitui um problema real e quando se verifica o vício não é mais do que efeitos de premissas psíquicas pessoais, familiares e sociais.
A família cria os filhos para uso e consumo das próprias insatisfações e frustrações e por este motivo gera-os dependentes e ineficientes, improdutivos para si próprios: tornam-se incapazes de se investirem em vantagem na sociedade. É a estrutura de um complexo psíquico que motiva o recurso à droga, à delinquência.
Depois que o filho cresce, ele pretende uma sociedade dentro dos padrões aprendidos em família e por isso ele se marginaliza porque a sociedade o repele por não saber investir-se em vantagem pessoal e social. Como atitude de protesto e contestação o indivíduo seleciona o que a sociedade condena e entre as inúmeras ofertas, a droga se apresenta como modelo de uma referência de força por agregar em torno dela um grupo que impõe certo temor reverencial coletivo.
Com a droga o sujeito, enganosamente, espera superar a angústia da marginalização e pretende romper com a própria impotência interior, alimentada pelo complexo. No entanto, o todo agrava a inferioridade do sujeito. Ele começa a perder o ritmo e o compasso da vida enquanto o grupo dos coetâneos que se afirmam, avança. Na droga aprende e pretende encontrar a força que sente estar perdendo.
O motivo pelo qual é levado à experiência da droga e depois continua a fazer uso da mesma não é pelo prazer nela encontrado e nem tampouco pela companhia de certos amigos, mas é, sobretudo pela marginalização que começa a perceber.
Quanto mais ele se joga na experiência, tanto mais aumenta a repulsa social e mais se afasta do curso da vida. Nos momentos lúcidos ele se apercebe que a marginalização aumentou e a angústia torna-se insuportável e para evadir-se da opressão é necessitado e forçado a estabilizar-se no vício.
Num primeiro momento a droga é uma tentativa enganosa de evitar a marginalização; depois, torna-se necessário estabilizar-se no vício para aliviar a angústia e o medo da solidão: o indivíduo sente que a sociedade ao invés de ajudá-lo na recuperação da sua força, apontando o verdadeiro problema, ela o exclui do seu seio.
A marginalização sela o complexo de inferioridade e de impossibilidade de retomar a própria força numa autoafirmação positiva. No símbolo "droga", procura a força que sente desvanecer-se em si mesmo. Quando as pessoas recorrem às drogas já estão doentes e com elas conseguem encobrir o real problema latente.
O problema e a solução passam por outro canal - as drogas são apenas o sintoma visível de um mal oculto que, se resolvido, as drogas são espontaneamente abandonadas. O problema da droga é um problema fictício, é um problema máscara que esconde uma privação, um conflito de fundo que só é curado por outros meios.
O modo de encarar o problema da droga é o de não levá-lo em conta. Toda a vez que em Psicoterapia o drogado foi levado a ver e resolver o problema afetivo, o coração, a doença da alma, a droga é abandonada espontaneamente.
O fenômeno interno que sempre se repete com todo o drogado é a sua fixação afetiva que força a introjetar identificações que o torna incapaz de superar determinada rigidez e por este motivo se sente impotente diante das exigências da vida e de contextos sociais diferentes.
O fixar-se no vício, apesar das perdas morais e sofrimentos físicos, é uma resistência em relação à frustração vital e esta é consequente à rigidez da criança que se fixou no adulto que a tornou viciada.
É pelo inconsciente familiar e social que um indivíduo é motivado a drogar-se. Trata-se de uma violenta obsessão mental que é ativada por um campo de força de um grupo familiar ou social ao qual o indivíduo ligou-se afetivamente. Por isso, não é suficiente compreender as influências do passado, é necessário perceber onde se torna vítima de um mecanismo cerebral.
A recuperação é possível quando em Psicoterapia o indivíduo é levado a conscientizar toda a realidade de dependência e submissão e livremente começa uma trajetória de tornar-se autônomo, afetiva e financeiramente. Primeiro necessita recuperar a sua autonomia afetiva, independizando-se do grupo social a que está ligado; Depois, do contexto que o manipula a seu serviço.
O habito não provem da repetição do uso, mas por reativação espontânea da mensagem cerebral introjetada ou por reativação mental de outros mediadores mais ativos.
O perigo de aproximar-se da droga ocorre no início da adolescência e quase sempre coincide com o período em que se manifesta a neurose e a esquizofrenia nos jovens. Infere-se que o recurso à droga é uma tentativa de não cair precocemente nas malhas da neurose e que a origem da neurose e da esquizofrenia não é diferente da que motiva ao uso da droga.
Se por um lado o problema da droga não é real, por outro, transformou-se num poder onde economia, política e imaturidade de massa se encontram para tornar agudo o incentivo. Quanto mais se fala da droga, tanto mais se contagia e mais se alimenta a incapacidade de resolver. A droga é apenas um alarme provocatório para atrair novas vítimas. A necessidade autodestrutiva é que faz o quadro de fundo desta aparência insignificante.
As formas condenatórias aos drogados e traficantes reabastece a culpa e o interesse sócio político é apenas um modo sutil de tornar agudo o mal, perpetuar o incentivo do fenômeno para encobrir melhor responsabilidades familiares e sociais.
Os métodos usados na erradicação da droga estão obtendo efeitos contrários aos esperados: quanto mais se combate, tanto mais se agrava e amplia. Os procedimentos incentivam a incidência.
Quando o ser humano está frustrado em certos impulsos vitais, a revolta leva-o ao hábito da contestação e por isto o prazer de burlar a lei e lutar contra os que o combatem transforma-se em obsessão. O indivíduo só sabe auto afirmar-se através da agressão.
Noticiar, criticar e condenar o uso da droga transforma-se num incentivo à proliferação, pois o combate só alimenta a obsessão da luta no viciado e desperta novas vítimas. Destruir drogas, fechar todos os canais de acesso às drogas pode transformar-se num risco social por que alimenta a obsessão da luta e isto levará os já viciados a lançar mão de meios mais radicais que agravam a situação social.
Embora os interesses econômicos podem predominar na forma de proceder, o fato é que se não soubermos dar uma resposta que restabeleça a saúde e o equilíbrio humanos, o risco da convulsão social será inevitável.
As ausências totais de interesse, de preocupação e de importância atribuídos ao uso da droga, por parte dos meios de difusão, podem auxiliar no trabalho de recuperação. O silêncio e a indiferença por parte dos educadores, talvez possa, inicialmente, acentuar a obsessão da busca, como provocação, porém, a longo prazo, educa o ser humano a buscar outros caminhos de auto afirmação.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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